É a mais recente incursão relojoeira no universo da sétima arte: o documentário Making Time pode alavancar a paixão pela indústria do setor até patamares nunca antes vistos. A não perder, até porque o valor humano da narrativa é excecional.
Já está pronto o documentário Making Time — uma película especialmente aguardada pelo universo relojoeiro desde que foi anunciada oficialmente há pouco mais de um ano, na Dubai Watch Week. «É um filme para pessoas que têm zero interesse em relógios e para todos aqueles que amam a relojoaria», disse-me o meu colega Ian Skellern (fundador do site Quill & Pad), grande mentor do projeto. E, reconhecendo um natural facciosismo pelo facto de se tratar de uma obra sua, sublinha mesmo que é «o melhor filme sobre relógios jamais feito!».
Obviamente que se trata de uma hipérbole que o próprio Ian Skellern admite, sobretudo tendo em conta que o documentário é mais sobre pessoas do que sobre relógios — mas é um filme que marcará para sempre aqueles que o virem e que poderá capturar definitivamente o imaginário de todos os que o virem e que não sejam ainda aficionados da relojoaria, porque será difícil não ficarem apaixonados por relógios mecânicos depois de o verem. Mas isso já tinha ficado óbvio aquando do screening de 25 minutos ocorrido durante a Dubai Watch Week de 2021 e que deixou tantos jornalistas especializados e players da indústria emocionados que foi necessário repetir a sessão de apresentação mais duas vezes: sentiu-se que a mensagem era tão poderosa que não iria deixar ninguém indiferente.
Ian Skellern partilhou comigo a sua ideia inicial em 2018, durante o Horology Forum 6.0 em Londres. Queria fazer uma série do tipo Netflix que tivesse relojoeiros como protagonistas para partilhar a sua paixão pela relojoaria com o resto do mundo, sobretudo uma audiência que não faz ideia do que é o fascinante universo da relojoaria mecânica. Embora sabendo à partida que existia o elevado risco de apenas ser visto por gente que gostasse de relógios. E é por isso que ele se focou na faceta humana, até porque — como se costuma dizer no meio — o melhor da alta-relojoaria são as mentes brilhantes que estão por trás da criação dos relógios. O filme ‘Making Time’ é mesmo sobre pessoas e sobre o trajeto pessoal dos protagonistas, desde a infância à atualidade.
Cinco anos volvidos, o projeto inicial não redundou numa série — mas materializou-se numa produção única de alto gabarito com um budget de várias centenas de milhar de euros que se centra na história de vida de cinco personalidades: Philippe Dufour, mestre da Vallée de Joux considerado por muitos o melhor relojoeiro vivo e perfil em destaque na presente edição da Espiral do Tempo; Max Büsser, fundador da MB&F e recentemente galardoado com dois prémios no Grand Prix d’Horlogerie de Genève; Ludovic Ballouard, mestre relojoeiro francês independente conhecido pelo seu conceito Upside Down; Aldis Hodge, ator americano que é também designer e relojoeiro; e Brittany ‘Nico’ Cox, antiquária reputada pelos seus trabalhos de restauro na relojoaria.
Recordo que, aquando do screening, fiquei extremamente emocionado com o testemunho de três dos cinco protagonistas. Especialmente no segmento de Aldis Hodge, o ator afroamericano (vedeta recente na superprodução Black Adam, contracenando com o The Rock) que é também relojoeiro, designer de relógios e membro do júri do Grand Prix d’Horlogerie de Genève: quando se vê o miúdo que o representa enquanto criança a desenhar relógios com a voz da mãe a recordar esses tempos em que ele já exprimia a sua vocação tive um sério baque; mas também senti muito passagens dos testemunhos do mestre Ludovic Ballouard, que incluíram imagens do seu pedido de casamento à primeira mulher que depois seria vítima de cancro, e de Max Büsser, que confessou que o seu pai nunca reconhecia valor em qualquer coisa que fizesse. Esse forte sentimento não desapareceu aquando do visionamento integral do documentário. E tanto Max, como Ludovic e Aldis me confessaram ter ‘quebrado’ emocionalmente durante as filmagens.
«Foi um processo longo, demorado e muitas vezes doloroso. É claro que o projeto só se tornou realidade a partir do momento em que me apercebi que Hind Seddiqi (a diretora do Dubai Watch Week) estava a pensar num projeto semelhante e acreditou que tínhamos a mesma visão sobre o tema», diz Ian Skellern. «Também tive a sorte de encontrar a produtora Kat Mansour, que fez um documentário de 10 minutos intitulado ‘Time Piece’ com Philippe Dufour e Vianney Halter; convenci-a a embarcar connosco no projeto e ela aderiu de corpo e alma, juntamente com Liz Unna e Adam Lavis». E acrescenta: «Pensei que fossem necessários cerca de 18 meses, mas entretanto chegou o Covid-19 e tivemos de parar. Foi sobretudo complicado ter canais e agências de distribuição a aceitarem o filme, porque a temática é completamente desconhecida para muita gente e não fazem ideia de que tipo de audiência poderão alcançar, pelo que a ideia inicial de série foi transformada num único documentário. O meu sonho é que o documentário tenha sucesso e que gere interesse numa série».
O filme tem 75 minutos e o preview pode ser visto em https://makingtime.film/, juntamente com biografias da equipa por trás da sua concepção; a versão integral está acessível desde o passado dia 13 de dezembro mediante pagamento nas seguintes plataformas digitais:
Amazon: https://www.amazon.com/Making-Time-Philippe-Dufour/dp/B0B8T88DRM/ref=sr_1_1?crid=25HJSSYAJT9MC
iTunes: https://itunes.apple.com/us/movie/making-time/id1653458979?ls=1
Vimeo: https://vimeo.com/ondemand/makingtime
GooglePlay: https://play.google.com/store/movies/details?id=4x3KQg4ZwaY.P&sticky_source_country=US&gl=US&hl=en
O ano de 2022 teve recentemente o melhor mês de sempre para a indústria relojoeira suíça (números de exportação); o documentário ‘Making Time’ pode ser fundamental para que o consolidar da paixão relojoeira junto de uma audiência mais vasta faça com que 2023 seja ainda melhor — com ou sem crise…