Um carro, um cronógrafo: a história do Carrera RS 2.7

O revolucionário Porsche 911 Carrera RS 2.7 foi apresentado há exatamente 50 anos no Salão Automóvel de Paris. No dia do seu 50º aniversário, a TAG Heuer apresentou um relógio comemorativo que passa a ser a mais emblemática personificação da parceria institucional entre duas marcas que se namoravam há muito — mas que só no ano passado contraíram matrimónio.

Exatamente 50 anos depois e precisamente na mesma cidade. Tal como a Porsche revelou ao mundo o seu lendário 911 Carrera RS 2.7 a 6 de outubro de 1972 em Paris, também a TAG Heuer escolheu a Cidade-Luz para apresentar oficialmente o Carrera RS 2.7 a 6 de outubro de 2022. Com uma nuance: o novo cronógrafo resultante da parceria institucional entre a TAG Heuer e a Porsche foi desvelado um dia antes, num palacete a cerca de 100 quilómetros da capital francesa — e ao qual um restrito grupo de convidados só teve acesso através de veículos da escuderia germânica, entre bólides cinquentenários que inspiraram a nova edição limitada e viaturas contemporâneas.

Apresentação do TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em Paris
| © TAG Heuer
TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 no pulso
De Paris ao Château de Baronville num Porsche 911 Carrera RS 2.7 | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Quis o destino que, da pequena frota de Carreras RS 2.7 colocada à disposição da TAG Heuer por colecionadores através dos grupos de aficionados da Porsche, o representante da Espiral do Tempo viajasse precisamente no exemplar que foi utilizado para toda a campanha de visuais da marca suíça alusivos ao lançamento — e pertença de um amigo, Claude Chabrerie, que o adquiriu em 2001 por 60 mil euros. «O melhor investimento da minha vida, porque ele agora vale meio milhão», disse-nos o septuagenário parisiense durante o trajeto até ao Chateau de Baronville. Claude Chabrerie é o feliz proprietário de um impecável 911 Carrera RS 2.7 branco com aplicações em azul que inspirou a paleta cromática da edição em aço do TAG Heuer Carrera x Porsche RS 2.7 limitada a 500 exemplares. Porque há também uma versão em ouro com aplicações em vermelho, numa tiragem mais restrita de 250 unidades. Das 27 cores vibrantes escolhidas na altura e tão típicas da psicadélica década de 70, o azul e o vermelho foram as opções da equipa liderada pela chefe de produto Maria Laffont e aconselhada pelo diretor de património Nicholas Biebuyck.

TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em aço com pormenores azuis
O TAG Heuer Carrera x Porsche RS 2.7 em aço com bracelete NATO condizente | © TAG Heuer
TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em ouro e pormenores vermelhos
A versão em ouro rosa do Carrera RS 2.7 com aplicações vermelhas | © TAG Heuer

O dois cronógrafos são tão ‘extrovertidos’ como o foi o 911 Carrera RS 2.7 na altura — um carro com caraterísticas de corrida mas homologado para uso civil que não deixou ninguém indiferente na altura e também não deixa ninguém indiferente agora. Pelas cores, mas também pelo roncar do motor e pela fisionomia traseira que lhe valeu a alcunha de ‘Duck Tail’. ‘Cauda de Pato’. Foi o primeiro carro desportivo do mundo adaptado a estradas normais com aileron dianteiro e traseiro, possibilitando maior estabilidade e impelindo os condutores a carregar no acelerador. Muitas dúvidas se levantaram então acerca da sua legalidade. Mas o 911 Carrera RS 2.7 foi mesmo pensado para as estradas e para as ruas, embora também saltasse com grande facilidade para as pistas. E qualquer pessoa o podia adquirir e sentir-se um ás do volante. Desde que tivesse meios e vontade para isso, obviamente… podia ser pobre ou ser um tifoso da Ferrari!

Apresentação do TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em Paris
Primeiro pit stop para uma primeira fotografia de família com Paris ao fundo | © TAG Heuer

Porque a ideia por trás do 911 Carrera RS 2.7 foi precisamente a de possibilitar aos clientes da Porsche a opção de terem um veículo com que pudessem participar em corridas. E as 27 cores escolhidas foram inspiradas precisamente no colorido mundo da competição automóvel, que sempre usou a variedade cromática como meio de distinção entre os pilotos e as equipas concorrentes. As 27 cores surgiram declinadas entre pintura monocromática uniforme e a pintura branca, denominada Grand Prix White, com aplicações de cores distintas; as cores vibrantes em contraste com o branco dominante realçavam certas caraterísticas únicas do modelo, como as jantes, os logótipos e a lista racing no flanco. Foi por aí que a TAG Heuer se inspirou para dar vida ao cronógrafo de homenagem a tão lendária variante do 911 Carrera.

TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em Paris
Pose para a fotografia e repasto real no Château de Baronville | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em Paris
Almoço com faqueiro português Cutipol e em boa companhia | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A história da TAG Heuer está intimamente ligada à da Porsche no universo do desporto automóvel, mas está sobretudo associada pelo nome Carrera — o termo espanhol para ‘corrida’ e que inspirou Jack Heuer a baptizar um cronógrafo que estava pronto a ser lançado mas que ainda não tinha nome. O baptismo surgiu na sequência de uma conversa com os irmão Rodriguez, famosos pilotos mexicanos, que falaram a Jack Heuer de uma extraordinária corrida realizada de 1950 a 1954 e cancelada por motivos de segurança, a Carrera Panamericana. O cronógrafo seria então apresentado em 1963 sob o nome Carrera e de uma legibilidade tão minimalista quanto monocromática. A partir de 1969, e sobretudo nos anos 70, muitas versões coloridas surgiriam.

TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7
Detalhes laterais evocativos da racing stripe da série de 1972 do 911 Carrera RS 2.7 | © TAG Heuer

Também a Porsche adotou a designação Carrera para variantes mais desportivas do seu 911. O 911 Carrera RS 2.7 foi a variante mais desportiva do desportivo 911 Carrera. E, obviamente, tinha de ser um Carrera a celebrar o Carrera, tal como foram Carreras os dois primeiros modelos que comemoraram a parceria institucional entre duas empresas que namoraram durante quase sessenta décadas mas que só em 2021 decidiram contrair matrimónio. O TAG Heuer Carrera x Porsche RS 2.7 é motorizado pelo Calibre Heuer 02 de alto rendimento (roda de colunas, embraiagem vertical, 80 horas de reserva de corda) e tem um rotor que replica o volante tradicional da Porsche, com os logótipos das duas marcas lado a lado. Para além das aplicações coloridas evocativas do bólide que agora completou 50 anos.

TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7
Motorização automática: o excelente Calibre Heuer 02 com roda de colunas e embraiagem vertical | © TAG Heuer

A variante em aço utiliza muito os acabamentos polidos na caixa, indexes aplicados e ponteiros que evocam os cromados dos manípulos das portas, espelhos retrovisores e caixilhos das janelas. O tom do mostrador é um branco opalino pouco usual na coleção da TAG Heuer e que remete para a reedição do Autavia ‘Jo Siffert’ de 2002. Os códigos de design da Porsche podem ser descortinados em pequenos pormenores, há o escudo na coroa e a assinatura Carrera estilizada no mostrador e no flanco da caixa — e também na bracelete NATO que acompanha a versão em aço, juntamente com uma bracelete metálica em alternativa. Os códigos estéticos, afinados entre os departamentos de design da TAG Heuer e da Porsche, são os mesmos nas aplicações vermelhas da versão em ouro, que vem equipada com uma correia vermelha de crocodilo. Dois relógios que personificam o espírito Carrera.

TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 no pulso ao volante de Porsche
Um Carrera RS 2.7 ao volante do Carrera RS 2.7 que o inspirou | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Da minha parte, já tinha conduzido antes vários Porsche 911 Carrera de várias gerações (embora nenhum fosse meu), mas a experiência de ir num 911 Carrera RS 2.7 ‘Duck Tail’ até ao Chateau de Baronville foi única e será inesquecível. Para mais com a condução do meu amigo Claude Chabrerie e sabendo que aquele exato modelo (e na iniciativa houve vários outros com a mesma cor) foi o que serviu de modelo à TAG Heuer para as fotografias de promoção. E que esteve lá dentro, na entrada do pavilhão da Place Vendôme onde a TAG Heuer deu uma festa de arromba para comemorar a efeméride (cá fora estava outro semelhante, a par de um vermelho). Obviamente, tive de posar com o Claude em frente ao veículo que nos levou na road trip da passada terça-feira.

Apresentação do TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em Paris
O amigo e parceiro de viagem Claude Chabrerie, dono do Porsche que serviu de modelo para as imagens de campanha da TAG Heuer | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Fomos mesmo os primeiros a chegar ao Chateau de Baronville e vimos todos os outros chegar. Depois, os colecionadores proprietários, os convidados e os jornalistas juntaram-se num repasto digno dos antigos donos do castelo. E, à saída, foi extraordinário ver todos os 911 Carrera RS 2.7 alinhados, com cores para todos os gostos — incluindo as duas combinações que redundaram nos cronógrafos TAG Heuer Carrera x Porsche RS 2.7 em edição limitada. A meteorologia estava excelente, pelo que todos passaram um bom bocado em sessões fotográficas… depois de nós, por termos sido os primeiros a chegar, já o termos feito atempadamente e sem acotovelamentos.

Apresentação do TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em Paris
A fabulosa coleção de Carreras RS 2.7 no Château de Baronville | © TAG Heuer

Mas há muito mais para contar da iniciativa promovida pela TAG Heuer e pela Porsche em Paris. Incluindo deliciosos pormenores saídos de entrevistas exclusivas com o CEO da TAG Heuer, Frédéric Arnault, o administrador da Porsche Detlev Von Platen, a vice-presidente da CEO para a área de produto Maria Laffont e o diretor de património (e responsável do Museu TAG Heuer 360) Nicholas Biebuyck. Sem esquecer a festa de despedida, claro. Work hard, party hard — um bom mote para todos os que estiveram envolvidos na iniciativa.

TAG Heuer x Porsche Carrera RS 2.7 em ouro e pormenores vermelhos e com luminescência branca
O modelo em ouro rosa das bodas de ouro do Porsche 911 Carrera RS 2.7 | © TAG Heuer

Outras leituras