Um centenário épico, dois relógios simbólicos

A travessia do Atlântico Sul por Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922 constituiu um feito de enorme orgulho para um país então longe da glória do Descobrimentos. Um século depois, a celebração de tal proeza secular relembra o espírito aventureiro luso e inclui dois relógios comemorativos: o Graham Chronofighter Centenário TAAS e o Raymond Weil Centenário TAAS.

Numa Europa em reconstrução pós-Primeira Grande Guerra Mundial e já a viver os chamados Loucos Anos 20, Portugal era um pobre país limítrofe e longe da glória expansionista dos séculos XV e XVI que deu a conhecer novos mundos ao mundo. Mas, num período ainda pioneiro na história da aviação, houve um feito que veio encher de orgulho a nação: a travessia aérea do Atlântico Sul por parte de Sacadura Cabral e Gago Coutinho. A proeza teve também o condão de estreitar a ligação à antiga colónia, que se havia tornado uma república antes mesmo de Portugal. E foi no enquadramento do centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul que esta semana foram apresentados, no Museu da Marinha, dois relógios comemorativos da efeméride.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa
A apresentação das edições comemorativas aos oficiais da Marinha | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A iniciativa partiu da associação entre a Watchers (conhecida empresa distribuidora de múltiplas marcas relojoeiras em Portugal) e a Comissão Aeronaval 100 TAAS. Foram analisadas quais as marcas ideais para se integrarem no projeto e quais os modelos mais adequados para a celebração. E do escrutínio emergiram o Graham Chronofighter Centenário TAAS e o Raymond Weil Centenários TAAS, dois relógios tão diferentes na essência, no estilo e no preço — mas que justificadamente se adequaram às pretensões da entidade organizativa. Para além de apresentarem ambos uma tiragem idêntica de 100 exemplares.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa e apresentação do Graham Chronofighter Centenário TAAS e do Raymond Weil Toccata Centenário TAAS
Graham Chronofighter Centenário TAAS e Raymond Weil Toccata Centenário TAAS | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A escolha dos dois modelos é pertinente e foi justificada pela razões adiantadas durante a cerimónia de apresentação realizada no Museu da Marinha.

Marta Torres, CEO da Watchers, no Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa
Marta Torres, general manager e CEO da Watchers, no lançamento dos relógios para a imprensa | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Graham Chronofighter Centenário TAAS

O Graham Chronofighter era uma escolha óbvia e a edição limitada Chronofighter Centenário TAAS é um modelo que honra a Travessia Aérea do Atlântico Sul pela sua qualidade intrínseca e histórica ligação à aeronáutica. Para além de ser um ex-libris da Graham, o Chronofighter deve a sua inspiração aos antigos relógios militares de aviação presos à perna dos navegadores, que acionavam o cronógrafo para cronometrar tempos de voo e os períodos entre a largada da bomba e o impacto no alvo. Aquando do seu lançamento em 2000, o carismático Chronofighter foi mesmo uma autêntica ‘pedrada no charco’ no universo conformista dos cronógrafos: dotado de soluções estéticas e técnicas atípicas e inovadoras, destaca-se pela coroa sobredimensionada que se faz acompanhar de uma alavanca integrada – colocada à esquerda para o início e a paragem do cronógrafo, para além de um botão que recoloca o ponteiro a zero.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa e apresentação do Graham Chronofighter Centenário TAAS
Graham Chronofighter Centenário TAAS | © Paulo Pires e Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A característica alavanca do cronógrafo assenta em princípios ergonómicos para melhorar a utilização das funções cronográficas através do dedo polegar, o dedo mais ‘rápido’ da mão: sendo independente dos restantes dedos, reage algumas décimas de segundo mais depressa para o arranque/paragem do contador. Na edição limitada Chronofighter Centenário TAAS, o mostrador argenté evoca a fuselagem prateada dos aviões usados na travessia aérea do Atlântico Sul — incluindo o símbolo das comemorações às 3 horas; no contador às 6 horas, em círculo, apresenta os nomes dos três aviões.

Verso do Graham Chronofighter Centenário TAAS
Verso do Graham Chronofighter Centenário TAAS com gravação especial comemorativa do centenário | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

No verso do relógio, a personalização também foi cuidada e inclui, num fundo transparente que deixa ver o movimento mecânico do relógio, o mapa da travessia com os vários pontos de amaragem desde Lisboa ao Rio de Janeiro. O sextante está presente e os nomes dos pilotos Gago Coutinho e Sacadura Cabral e as datas do Centenário com a Cruz Cristo ao centro, acompanham o mapa da viagem. O número de série limitada (001/100 a 100/100) surge por baixo da data do Centenário. A correia também foi criteriosamente escolhida, evocando o couro dos blusões dos aviadores.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa e apresentação do Graham Chronofighter Centenário TAAS
Graham Chronofighter Centenário TAAS junto ao ‘Santa Cruz’ | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Raymond Weil Toccata Centenário TAAS

Ao selecionar o modelo Toccata da Raymond Weil, a Comissão das Comemorações do Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul quis recordar o formato retangular do relógio que o piloto aviador Sacadura Cabral usou no pulso aquando da travessia aérea em 1922.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa e apresentação do Raymond Weil Toccata Centenário TAAS
Raymond Weil Toccata Centenário TAAS | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O Raymond Weil Toccata Centenário TAAS destaca-se precisamente pela sua personalidade geométrica — sendo um modelo de forma retangular com mostrador branco e números romanos que é identificado com o símbolo oficial das comemorações às 6 horas. O fundo da caixa do relógio foi personalizado no centro com o sextante com horizonte artificial desenvolvido pela primeira vez por Sacadura Cabral, de modo a responder à necessidades de navegação aérea da época. Do lado esquerdo e do lado direito do sextante, destacam-se respetivamente os nomes Gago Coutinho e o Sacadura Cabral. Na parte superior, foi gravado o número individual de série limitada de 001/100 a 100/100, e na parte inferior, a gravação das datas do centenário com a Cruz de Cristo ao centro.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa e apresentação do Raymond Weil Toccata Centenário TAAS
Raymond Weil Toccata Centenário TAAS | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Também muito importante foi o preço — situado num patamar bem mais acessível do que o do mais complexo Graham Chronofighter Centenário TAAS, alimentado por um calibre cronográfico de corda automática. O Raymond Weil Toccata Centenário TAAS inclui um movimento de quartzo e foi igualmente importante para a Comissão poder apresentar um relógio elegante de três ponteiros que complementasse a pujança militar do cronógrafo.

Uma saga transatlântica

Foi há sensivelmente cem anos, a 17 de junho de 1922, que Sacadura Cabral e Gago Coutinho finalizaram com sucesso a primeira travessia área do Atlântico Sul — e se tornaram heróis nacionais. Iniciada a 30 de março do mesmo ano e com muitos percalços pelo meio, a aventura transatlântica tornou-se possível muito graças a um pioneiro método de navegação aérea desenvolvido pelos próprios portugueses. Após muitos percalços e incertezas, o Rio de Janeiro recebeu com pompa e circunstância os dois oficiais da Marinha Portuguesa que ali chegavam a bordo do hidroavião Santa Cruz. Depois de unidos por via marítima, Portugal e Brasil viam-se agora ligados por via aérea. Um século depois, a efeméride é também comemorada no plano relojoeiro.

Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa
Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha, em Lisboa | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Mas a epopeia aeronaval começou a ser projetada anos antes: remonta a 1919, altura em que Artur Sacadura Freire Cabral (1881-1924) sugeriu ao então Ministro da Marinha a realização de uma viagem que unisse, pela primeira vez por via aérea, Lisboa e Rio de Janeiro. A concretização do projeto ficaria agendada para 1922, ano de celebração do centenário da independência do Brasil. Carlos Viegas Gago Coutinho (1869 – 1959) foi convidado a aderir ao projeto como navegador, com as suas competências enquanto geógrafo/cartógrafo a serem fundamentais para tal empreendimento, numa época em que as instrumentações de bordo era ainda muito rudimentares. Foi ele que adaptou ao sextante – bem conhecido da navegação marítima – um horizonte artificial e que, em colaboração com Sacadura Cabral, desenvolveu o corretor de rumos, um instrumento que permitia calcular graficamente o ângulo entre o eixo longitudinal da aeronave e o rumo a seguir, tendo em conta a intensidade e a direção do vento.

Mapa da primeira travessia aérea do Atlântico Sul
Mapa da primeira travessia aérea do Atlântico Sul | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Ao remodelarem todo o sistema de cálculo astronómico em relação ao sistema utilizado na Marinha, os dois oficiais portugueses foram pioneiros no desenvolvimento de um sistema integral de navegação aérea que se tornaria durante muito tempo uma referência no mundo da aeronáutica. Em março de 1921, uma primeira viagem de Lisboa à Madeira permitiu testar o novo método. Um ano depois, era efetivada a partida. Planeada para uma semana, a viagem acabou por prolongar-se por 79 dias devido a um conjunto de obstáculos, entre eles a inutilização de duas das três aeronaves que permitiram concluir a travessia, embora de início estivesse previsto que apenas seria necessária uma. Ao Rio de Janeiro, os dois oficiais chegaram a bordo do hidroavião Fairey IIID, depois apelidado não oficialmente de Santa Cruz, que hoje, após um intensivo restauro, está exposto no Museu de Marinha, em Belém, Lisboa. Pelo caminho ficaram os hidroaviões Lusitânia e AN16 devido a incidentes inesperados. A Travessia Aérea do Atlântico Sul foi acompanhada pelos jornais da época com o entusiasmo de quem acompanha uma verdadeira saga. E no Brasil a paixão era equivalente, de tal modo que, à chegada, o hidroavião foi recebido por uma imensa multidão que aplaudia enquanto heróis os protagonistas de uma tal arriscada proeza. No regresso a Portugal, tiveram o mesmo tratamento.

Bustos de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no Centenário da travessia aérea do Atlântico Sul no museu da Marinha em Lisboa
Heróis do mar: os bustos de Gago Coutinho e Sacadura Cabral | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

A Travessia Aérea do Atlântico Sul ficou para história enquanto viagem pioneira e marco fundamental no desenvolvimento de um sistema de navegação que serviu a aeronáutica durante muito tempo. O centenário do feito é celebrado através de diversas iniciativas; numa vertente relojoeira, os dois modelos em edição limitada vêm destacar o caráter intemporal da Travessia, tendo em conta a inevitável relação dos relógios com o tempo e a sua passagem entre gerações. E a nova geração merece ter conhecimento da proeza de dois aventureiros lusos que, no Portugal do pós-Primeira Guerra Mundial e Aparições de Fátima, voltou a mostrar a fibra dos seus antecessores.

Características Técnicas:

Graham
Chronofighter Centenário TAAS
Série numerada e limitada a 100 peças
Ano de lançamento | 2022

Referência | 2CVAS.S09A
Movimento | Cronógrafo de corda automática Calibre G1747, 28’800 A/h (4Hz), amortecedor Incabloc, 25 joias, certificação Chronofiable® (com absorção de choques melhorada), 48 horas de reserva de corda.
Funções | Cronógrafo (contadores de segundos e de 30 minutos). Horas, minutos e segundos. Data e dia da semana.
Caixa Ø 44 mm | Aço, alavanca start/stop do cronógrafo com botão de reset embutido, vidro de safira abobadado com revestimento antirreflexo, fundo transparente em vidro de safira. Estanque até 100 metros.
Mostrador | Prateado com acabamento efeito raios de sol, ponteiros, numerais e indexes com revestimento Super-LumiNova.
Correia | Calfe em castanho com pesponto bege. Fivela em aço.
Preço | 6450 €

Raymond Weil
Toccata Centenário TAAS

Série numerada e limitada a 100 peças
Ano de lançamento | 2022

Referência
5425-STC-POR01
Movimento | Quartzo.
Funções | Horas, minutos e data.
Caixa 37,25 x 29,60 mm | Retangular em aço, estanque até 50 metros, fundo personalizado com gravações alusivas ao Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul, vidro de safira.
Mostrador | Branco com numeração romana e o logotipo do centenário às 6 horas.
Correia | Calfe em preto com motivo aligátor e fivela em aço.
Preço | 995 €

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