Seiko Mini-Turtle SRPC37K1: ponto de viragem

Bruno Candeias é um jovem aficionado da relojoaria que nutre também especial interesse por fotografia. E a combinação destas duas paixões acabou mesmo por dar frutos: uma fotografia da sua autoria que tem como protagonista o Oris Sixty-Five em fundo verde foi distinguida no mês de junho na edição de 2019 dos Watch Photo Awards. Achámos assim que faria todo o sentido desafiar este nosso leitor a contar-nos uma história especial ligada à sua paixão pelo mundo dos relógios. A sua escolha: o Seiko Mini-Turtle SRPC37K1.

Devo confessar que quando fui convidado para escrever sobre um dos meus relógios ou sobre uma história que me ligasse a este mundo, senti um misto de entusiasmo e apreensão. Como fã da Espiral do Tempo, ver as minhas palavras e fotos associadas à publicação é uma enorme honra, mas receei que nenhum dos meus (três!!) relógios estivesse à altura de merecer uma crónica. Afinal, ainda estou a dar os meus primeiros passos enquanto colecionador. Mas, por fim, decidi escrever sobre a minha mais recente aquisição e o impacto que teve no meu percurso pelo mundo da relojoaria.

O início

Aos 18 anos, recebi dos meus pais um Junkers Dessau. Na altura, fiquei fascinado com o batimento incansável do balanço que podia ser visto através do mostrador e usei-o diariamente durante sete anos, sem voltar a pensar em relógios durante esse período de tempo.

Seiko Mini-Turtle SRPC37K1 e a sua luminescência © Bruno Candeias
Seiko Mini-Turtle SRPC37K1 e a sua luminescência © Bruno Candeias

Mal eu sabia que a curiosidade por estes misteriosos objetos de pulso se encontrava dormente, à espera da oportunidade certa para se manifestar. Tal aconteceu enquanto vivia na Polónia, há dois anos atrás, quando decidi celebrar o meu primeiro emprego com a compra de um novo relógio. A minha busca começou pelos Seiko 5, mas rapidamente a curiosidade levou a melhor. Depois, continuei a pesquisar, e com a pesquisa vieram os fóruns, o Youtube e as redes sociais…
Passados uns meses, lá me decidi e encomendei um Seiko SARB033, que infelizmente nunca cheguei a receber – ficou perdido no correio e entretanto foi descontinuado, pelo que acabei por regressar a Portugal sem nenhuma novidade no pulso

Seiko Mini-Turtle SRPC37K1

Já de volta a Lisboa, cruzei-me com o Seiko SRPC37K1 na montra de uma loja. Resolvi experimentá-lo e, mesmo sabendo à partida que era o total oposto do que procurava no SARB033, fiquei rendido. O relógio (de alcunha mini-tartaruga devido ao formato da caixa, reminiscente dos Seiko Turtle) tem 42mm de diâmetro, mas devido ao seu formato arredondado e às asas curtas assenta bem e tem presença, mesmo num pulso fino como é o caso do meu

À semelhança do seu irmão de maiores dimensões, este Seiko faz parte da gama Prospex (Professional Specifications) da marca, pelo que é capaz de lidar com aventuras e mares profundos sem perder um segundo. Mesmo não sendo mergulhador, aprecio a solidez e segurança que o relógio transmite, e a luneta de mergulho rotativa permite-me contar intervalos de tempo sem ter de recorrer a complexos e delicados mecanismos dos cronógrafos.

Um dos meus aspetos favoritos do relógio é a moldura cromada no contorno dos marcadores, que concede uma certa elegância ao relógio e surpreende visualmente quando a luz incide no ângulo certo. Os marcadores em si estão bem recheados com material luminescente de alta qualidade, de tal modo que o uso como relógio de mesa de cabeceira e ainda consigo ver as horas no escuro ao acordar.

Seiko Mini-Turtle SRPC37K1 e o wrist shot à frente da Boutique Seiko de Bordéus © Bruno Candeias
Seiko Mini-Turtle SRPC37K1 e o wrist shot à frente da Boutique Seiko de Bordéus © Bruno Candeias

Sendo fã de braceletes NATO e de pele, estava ansioso para trocar a bracelete original o mais rapidamente possível. No entanto, a bracelete de silicone que veio com o relógio é extremamente suave e confortável, e, a meu ver, o seu design com as ondas ‘expansíveis’ enquadra-se na perfeição com o desenho da caixa e do mostrador, pelo que são raras as vezes que uso uma alternativa. Na hora de trocar, o processo também é facilitado graças aos furos nas asas da caixa

Outra das caraterísticas diferenciadoras deste modelo é a lupa na data, pouco usual para a marca. Apesar de ser uma característica tipicamente associada à famosa Cyclops presente nos modelos da Rolex (que cria em muitos uma relação amor/ódio), a do Mini Turtle possui uma forma perfeitamente circular que para mim se assemelha a uma gota de água que ficou pousada no mostrador – faz-me lembrar o mar e a praia, e ao longo do tempo acabou por ser dos detalhes que mais aprecio no relógio. Adicionalmente, o vidro Hardlex tem-se mostrado bastante resistente aos riscos, e, apesar de ser plano, possui um boleado nas extremidades que reflete a luz e os marcadores, ajudando a criar a ilusão de que o mostrador é maior.

Mas, como não há bela sem senão, também há alguns pontos negativos neste novo design da Seiko, principalmente no que diz respeito à posição da coroa: enquanto que nos Turtle normais a coroa se encontra às 4 horas e recolhida na caixa, neste modelo a coroa situa-se na convencional posição das 3 horas, pelo que, por vezes, agride o pulso, dado o peso do relógio e o acabamento nervurado da mesma. As superfícies da caixa nas zonas adjacentes à bracelete são polidas e apresentam alguma distorção no polimento pelo que, na minha opinião, ficaria melhor se estas faces fossem escovadas na direção vertical, à semelhança das caixas da Rolex (na mesma zona onde se pode consultar a referência do relógio).

Ponto de viragem

Entre aspetos mais positivos e outros menos, apesar de tudo, para mim o mais importante no meu Seiko SRPC37K1 é o facto de representar o meu ponto de viragem no interesse por estes objetos, bem como a minha porta de entrada para a comunidade que lhes está associada: foi o primeiro relógio que fotografei e que me despertou a curiosidade para experimentar e fotografar relógios cada vez mais. Foi graças a ele que vi crescer a vontade de aprender mais sobre a história da relojoaria e das marcas ao longo do tempo; e foi o relógio que usei no meu pulso na primeira vez que participei num encontro da Dead Seconds Society, uma comunidade de colecionadores e apaixonados pela matéria que torna este hobby numa experiência coletiva ainda mais interessante.

Seiko Mini-Turtle SRPC37K1 © Bruno Candeias
Seiko Mini-Turtle SRPC37K1 © Bruno Candeias

Como referi anteriormente, ainda estou no início neste percurso de aficionado e colecionador e a minha caixa de relógios conta apenas com três modelos – e já tive inclusivamente a oportunidade de pedir para restaurar um Omega que pertence à minha mãe e que estava guardado há uns bons anos na gaveta. Mas, apesar de ter sete espaços vazios no estojo, não tenho a ambição de acumular uma vasta coleção. Regra geral não sou fã de complicações, e tenho uma certa tendência para gostar de relógios de design inspirado nos modelos dos anos 30, com uma boa história associada e movimentos robustos produzidos pelas próprias marcas.

Tenho um fraquinho especial pelo Jaeger-LeCoultre Reverso, em particular o Tribute Duo – sou viciado em ponteiros de aço azulados e em mostradores azuis, pelo que esse modelo é a combinação perfeita das duas, uma em cada face. Ultimamente admito que também fui contagiado pela moda dos modelos desportivos de aço, em particular o Rolex Oyster Perpetual 36mm com o mostrador 3-6-9 azul. Espero assim ter mais novidades em breve no que diz respeito à minha caixa de relógios. No entanto, tenho a certeza de que terei sempre uma ligação especial ao meu primeiro Seiko e acredito que permaneça sempre na minha coleção.

Veja mais fotografias de Bruno Candeias na sua página de Instagram.

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