Um Cauny Apollon muito especial

Se o seu especial interesse por relógios foi transmitido em família, a relação de Pedro Tavares com o seu Cauny Apollon tem muito mais para dizer. O nosso leitor convidado conta-nos a história que o liga a este relógio de pulso, um modelo criado nos anos 60 para celebrar as missões Apolo que tinham como objetivo levar o Homem à Lua. Ao gosto pessoal uniu-se, com o tempo, um lado emocional que deu ainda mais sentido a este instrumento do tempo.

Os relógios entraram na minha vida primeiro através do meu pai, um amante de relógios grandes e robustos, e incapaz de sair de casa sem uma das suas máquinas no pulso, numa dependência quase equivalente à que se verifica atualmente com os nossos telemóveis e smartphones. Por outro lado, o gosto por relógios foi-me também transmitido (e não me querendo alongar mais do que o suficiente, nesta fase de interesse para esta história) graças a um conjunto de cinco relógios de família que me foi oferecido em 1992 precisamente pelo meu pai, quando eu tinha cerca de 11 anos. Estes relógios eram peças de pouco valor económico, mas de elevado valor sentimental. E o meu pai atribuiu-me a responsabilidade de os salvaguardar e de os manter a funcionar. Foi isso que fiz, até aos dias de hoje.

Cauny Apollon 17 Rubis
Cauny Apollon. © Paulo Pires/Espiral do Tempo

O meu Cauny Apollon

É neste conjunto de relógios que continuam a fazer parte da minha vida que está incluído o relógio que foi, durante vários anos, o meu preferido, uma predileção inicial baseada unicamente em aspetos estéticos e de gosto pessoal. Trata-se de um Cauny Apollon, um relógio de pulso de forma quadrangular, com movimento mecânico de corda manual calibre FHF 81-2, mostrador dourado e caixa de 32,23 mm com plaqué de ouro. Este modelo data dos anos de 1960, e foi lançado para celebrar as missões Apollo, que tinham como objetivo levar o Homem à Lua, intento conseguido em 1969. Atualmente, este relógio já não é propriamente o meu preferido da coleção em termos de uso, mas, na minha opinião, apresenta-se, ainda hoje, como um modelo de estética muito atual e de beleza indiscutível, com a sua mecânica simples e fiável, sempre pronto para ser usado em qualquer ocasião. Aliás, continua a indicar as horas e a data de forma irrepreensível.

Cauny Apollon 17 Rubis
Cauny Apollon. © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Com o meu desenvolvimento e crescimento pessoal e educacional, o interesse por relógios fortaleceu-se. Por volta de 1998-99, comecei a ter maior curiosidade, não só pelos modelos e marcas, mas também pela sua história única e intransmissível, talvez impelido pelos conhecimentos do Curso Superior de História, iniciado em 1998, e também por saber que todos os relógios da tal caixa tinham pertencido aos meus antepassados. Neste sentido, resolvi iniciar uma recolha de dados e informações, recorrendo aos meus familiares, com o intuito de preservar a história de cada relógio e consciente de que quanto mais tempo deixasse passar, maior seria a dificuldade em recolher essas informações particulares. O interesse cresceu exponencialmente face às peças que tinham pertencido aos meus familiares mais próximos, algumas das quais, as únicas recordações deles que tinha na minha posse.

Cauny Apollon 17 Rubis
Cauny Apollon. © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Uma ligação especial

A minha afeição e ligação inexplicável a este Cauny Apollon – evidente, aliás, pelo facto de ser a minha escolha de eleição para uso regular em detrimento dos restantes relógios que possuía, nomeadamente modelos mais atuais na época – cresceu ainda mais quando consegui recolher os dados sobre a proveniência, neste caso através da história que me foi finalmente contada pelo meu pai. Assim sendo, fiquei a saber que, por volta de 1977, aquando do falecimento do seu marido, a tia do meu pai lhe ofereceu este relógio. Para o meu pai, este tio era como um pai, de tal forma que o meu nome foi-me dado em sua homenagem – não respeitando a tradição, à época, da escolha do nome pelos padrinhos. Claro que, depois destas novas informações, a minha preferência pelo Cauny Apollon ganhou uma dimensão intangível. Para além de um genuíno gosto pessoal tanto ao nível estético, como mecânico, o facto de a sua proveniência estar diretamente ligada à pessoa que esteve na origem na escolha do meu nome, atribuiu-lhe um valor afetivo imensurável. Afinal, o tio do meu pai era o verdadeiro proprietário deste relógio.

Cauny Apollon 17 Rubis
Cauny Apollon. © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Resumindo, eu adoro este Cauny Apollon, um exemplar do seguimento da linha Cauny Prima, que teve grande popularidade nas décadas de 50 e 60 em Portugal e que continua atual e fiável, apesar dos seus cerca de 50 anos de funcionamento. Ultrapassados distintamente apenas com limpeza e lubrificação do mecanismo. Para mim, é um relógio que, não descurando a qualidade, une elegância, precisão e prestígio, numa marca que tantos conhecem. A esta máquina acresce depois todo o valor sentimental, a ligação pessoal como peça de recordação e memória de um familiar fundamental para os meus valores paternais e familiares. Num tempo em que tudo é mensurável, a minha ligação a este relógio de pulso impossibilita qualquer avaliação. E é por isso mesmo que termino esta história com palavras do Padre António Vieira: «Todo o relógio perfeito não só dá as horas, mas tem um braço mostrador que as aponta»

Sobre o leitor convidado:
Pedro Tavares

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Licenciado em História e com ligação ao Mercado de Antiguidades e Velharias, desenvolveu um gosto pessoal por relógios antigos, pela sua sua arte e pela sua tecnologia. Gosta de viajar em busca de histórias e de objetos com história e de aproveitar ao máximo os passeios pela natureza. Guarda com especial atenção um estojo com diversos relógios da família ou que foi adquirindo ao longo dos tempos.

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