A Doxa tinha lançado o seu modelo SUB 600T e foi amor à primeira vista. Rompendo com o habitual design característico da marca, era uma peça mais angular e mais ‘brutalista’ no sentido da definição artística. Chegado à redação da Espiral do Tempo, comecei imediatamente a chatear toda a gente com a minha mais recente crush relojoeira.
Eram 08h50m da manhã quando apanhei o cacilheiro para Lisboa. Durante os sete minutos de viagem entre margens, tenho por hábito dar uma olhada no meu Instagram mais relojoeiro e fazer um jogo de xadrez online. Nessa manhã não joguei xadrez e o espírito de Bobby Fisher agradeceu, visto que o meu talento pelo jogo dos reis fica muitíssimo aquém da minha paixão.
A Doxa tinha lançado o seu modelo SUB 600T e foi amor à primeira vista. Rompendo com o habitual design característico da marca, era uma peça mais angular e mais brutalista no sentido da definição artística. Um pequeno e belo tanque estanque (pun intended) até 600 metros de profundidade, que me bateu forte porque tem tudo o que eu gosto num relógio.
Chegado à redação da Espiral do Tempo comecei imediatamente a chatear toda a gente com a minha mais recente crush relojoeira.
– Vocês têm de ver este relógio! É lindo! Temos de pedir um para fotografar!
Os meus colegas têm uma admiração por mim que não consigo explicar por palavras… Sou visto como um farol luminoso numa escura noite de tempestade e é natural que qualquer indicação relojoeira minha seja acolhida sem contestação…
– Pronto, vai começar outra vez, qual é o relógio agora?
– És um ‘ganda’ melga! É mais um Seiko?
– Já falamos, estou aqui a… fazer qualquer coisa para não te aturar.
Todas estas demonstrações de admiração pelo meu olho de águia relojoeiro aqueceram-me o coração, mas, brincadeiras à parte, a verdade é que, depois de fazermos os devidos contactos, acabámos por receber o novo Doxa SUB 600T, mas também mais seis modelos com diferentes combinações de cores e braceletes.
Custa-me horrores escrever sobre a história das marcas, fundadores ou datas históricas, por isso vou só referir as partes que considero mais interessantes para a minha narrativa.
Doxa: a origem
Fundada em 1889 por Georges Ducommun, a Doxa é uma marca low profile que vem fazendo o seu caminho há uns respeitosos 134 anos. Independentemente da notoriedade que conquistou em tempos idos com outras criações relojoeiras, a Doxa acertou em cheio quando em 1967 apresentou o SUB 300T. Se até à data o Rolex Submariner e o Blancpain Fifty Fathoms, ambos lançados em 1953, eram reconhecidos no âmbito dos divers, o Doxa SUB 300T veio agitar as águas. (Este texto está a ficar com uns trocadilhos giros: «agitar as águas… divers». Está bem pensado…).
O novo relógio agitou as águas pelo seu design, pelo seu cromatismo único e pelas suas características técnicas. O oceanógrafo francês ficou de tal modo rendido ao conceito Doxa Sub que negociou a distribuição exclusiva para a sua empresa: a US Divers.
Assim surgiu o primeiro diver de mostrador laranja e que recebeu a designação de «professional» . A cor laranja e os ponteiros negros foram estudados para um maior contraste e consequente legibilidade debaixo de água. Curiosamente Jaques Cousteau escolheu o modelo de mostrador preto para si, o designado «sharkhunter».
Professional, sharkhunter… afinal se os modelos são iguais, um já não é profissional?
Não tema, caro leitor!
Pesquisei e o que descobri ainda me fez apaixonar mais pela marca. Eu sou daquelas pessoas que detesta falar de relógios através de números. Não sei uma única referência e normalmente uso as designações altamente profissionais tais como «aquele lindo de caixa em aço escovado e mostrador chocolate». Não trato objetos de afeto por números, mas adoro um bom nome. Sea Dweller, Hybris Mechanica, Vagabondage: são destas designações que eu gosto e a Doxa não desiludiu.
Em cada coleção, os relógios têm exatamente as mesmas especificações. O primeiro foi designado por «professional» como uma declaração da marca em relação à qualidade do seu produto e aos restantes foram dadas designações diferentes baseadas na cor dos mostradores. Esta regra é válida em todas as coleções da marca.
A saber:
Mostrador laranja: professional
Mostrador preto: sharkhunter
Mostrador prateado: searambler
Mostrador azul: caribbean
Mostrador turquesa: aquamarine
Mostrador amarelo: divingstar
Mostrador branco: whitepearl
Por vezes exagero nos estrangeirismos, eu sei, mas os americanos têm uma expressão perfeita: «How cool is that?!». Também posso ensaiar em português um «olha que catita!».
Outra das curiosidades está relacionada com o célebre “T”. Porque é que alguns modelos têm essa letra e outros não? Simples. A diferença está na escala da luneta. “T” significa que essa escala está em “feet” e sem o “T” significa que está em metros.
A sessão
Em termos de fotografia, as peças com bracelete em metal foram as mais complicadas devido aos reflexos. Foi necessário todo um trabalho de proteção dos relógios para evitar luzes parasitas. Por outro lado, os refletores tendem a eliminar as texturas dos metais, o que obrigou à realização de várias imagens para posterior montagem na edição.
Era necessário captar condignamente o aço escovado das caixas e o contraste com as áreas polidas como a coroa ou o raiado lateral das lunetas e a ligeira textura das correias em cauchú. O resultado foi um conjunto de fotografias que captam no fundo o meu gosto pelos relógios da marca. Eis assim o que penso.
O veredito
E foi mesmo pelo SUB 300T professional que comecei. Não engana. É um design vencedor desde o primeiro dia e décadas de pequenas afinações tornaram-no num relógio icónico. Ergonomia, robustez, qualidade de acabamentos, correias de cauchu, ou em aço, integradas na perfeição sobretudo a belíssima milanesa característica da marca. O acabamento dos mostradores, a luneta canelada com numerais vazados e preenchidos de luminova. Simplesmente adorei a peça.
O mesmo posso dizer em relação aos outros modelos de outras coleções. A única observação que posso fazer é que, dependendo da coleção e da capacidade de o modelo suportar maiores pressões, a volumetria pode variar bastante, assim como a colocação ou espessura do vidro. No entanto, não senti que tal afetasse dramaticamente a ergonomia ou o conforto no pulso.
O maior elogio que posso fazer a um relógio é querer ter um. No caso dos Doxa, queria ter vários. Sim, porque uma pessoa às vezes sente-se mais «professional», outras mais «sharkhunter» e, ainda outras, mais «divingstar»…