Da visita à VO’Clock, a feira italiana de relojoaria realizada em paralelo com a Vicenzaoro, retiramos vários apontamentos de destaque — que vão desde a alta-relojoaria tradicional à relojoaria mecânica acessível, passando por adereços especiais. Aqui fica um primeiro apanhado.
A Vicenzaoro é a maior exposição europeia para a indústria joalheira e realiza-se duas vezes por ano; paralelamente a cada uma dessas manifestações, têm lugar o VO’Clock Vintage (janeiro) e o VO’Clock Privé (setembro). A dualidade e distinta nomenclatura explica-se: ideia é dedicar o evento de janeiro ao mercado vintage com a VO’Clock Vintage e o de setembro aos contemporâneos com a VO’Clock Privé, porque as marcas preferem estar num evento mais próximo do natal devido às vendas.
Na mais rcente edição, e à semelhança dos anos anteriores, as marcas ditas modernas exibiram no mesmo piso da joalharia com acesso exclusivo a profissionais; num espaço próprio no primeiro andar do Vicenza Expo Center, e com acesso livre para os aficionados, estiveram vários mestres da AHCI/Académie Horlogère des Créateurs Indépendants (com um dos seus fundadores, Vincent Calabrese, em destaque) e para algumas marcas de maior prestígio. Essa secção superior funciona mais como um espaço gerador de conteúdos do que de exibição comercial, sendo lá que têm lugar seminários e conversas que contam com o apoio da Féderation de la Haute Horlogerie.
Novos modelos estiveram à disposição, diversos mestres e marcas da AHCI (Vincent Calabrese, Bernard Lederer, Matthias Naeschke, Meccaniche Orologi Milano, Marc & Darnò e outros) marcaram presença e várias comunidades de aficionados participaram em eventos complementares. A Zenith assume particular protagonismo ao promover workshops mais técnicos sobre o seu lendário movimento El Primero, e o interesse gerado pelas suas novidades Defy Skyline já justificou um nosso artigo à parte; também merecerão futuramente artigos à parte as novidades do mestre Bernard Lederer, da Speake Marin, da Leica e da Yema.
Aqui ficam algumas notas de destaque e o piscar de olho a marcas menos comuns:
1 | Wyler Vetta: perfume rétro
Fundada por Paul Wyler no início do século passado, a Wyler Vetta é uma companhia relojoeira suíça com um trajeto especialmente reconhecido em Itália e um dos seus modelos mais marcantes dos seus cem anos de produção (comemorados agora em 2024) foi o cronógrafo Jumbostar de 1968. No processo de recuperação de uma marca que já teve um assinalável peso histórico e que até equipou os pulsos da seleção italiana que ganhou o Campeonato do Mundo de Futebol em 1934, o Jumbostar foi recuperado há dois anos com uma bela combinação do preto com um tom creme que lhe dava um certo perfume vintage e pinceladas de vermelho para o toque desportivo — declinado não só na tradicional variante cronográfica mas também num modelo de três ponteiros.
A nova geração do Jumbostar é ainda melhor e, dentro do seu estilo neo-vintage, o cronógrafo Jumbostar da Wyler Vetta foi mesmo o melhor que se viu na VO’Clock. De dimensões mais contidas (passou de 43 para 40 mm), ergonómico e muito equilibrado nos mais diversos parâmetros, está declinado em versões de mostrador bicompax preto, bordeaux, verde e azul com totalizadores creme contrastantes que são particularmente atraentes. Dotado de um movimento cronográfico Concepto, está situado numa bem razoável fasquia de preço situado na casa dos 2.400 euros.
Para além do cronógrafo, e tal como em 2022, foi também lançada a correspondente versão automática de três ponteiros (que os italianos designam por solotempo) nas mesmas duas variantes de mostrador. Uma delícia, tanto o Jumbostar Chronograph como o Jumbostar Automatic. E o cronógrafo Tribute to Ermético (3.850 euros), com o seu mostrador amarelado e espírito ainda mais revivalista, também foi um dos favoritos do evento. Mais informação em www.wylervetta.com.
2 | Ichnos: exercício greco-romano
Uma companhia italiana com nome e inspiração grega? A rivalidade da antiguidade clássica é desfeita na Ichnos, uma pequena companhia dedicada a relógios de vocação marinha com um diver dotado de escalas de mergulho inspirado num modelo da década de 60 que é particularmente interessante. Sobretudo o Archipelago Spargi Deco em tons turquesa.
Mais informação sobre a Ichnos pode ser encontrada no website da auto-denominada micromarca italiana: www.ichnoswatches.com.
3 | Out of Order: spritz em shaker
A Out of Order é uma jovem companhia italiana de relógios mecânicos com preço acessível (entre 300 e 650 euros) que completou o seu décimo aniversário em 2023 sob o mote ‘Damaged in Italy’. A ideia é apresentar acabamentos de caixa patenteados que proporcionam o visual de um relógio vintage com muito uso, recorrendo ao aço envelhecido e manchado em várias das suas criações.
O espírito iconoclasta dos fundadores Riccardo Torrisi, Claudio Dalla Mora e Dario Ceolotto traduz-se em psicadélicas combinações de cores e muita irreverência. Das várias linhas disponíveis, a Shaker é talvez a mais apelativa; inclui espetaculares modelos com mostradores dégradé e lunetas bicolores dotados da função GMT e inspirados em conhecidos cocktails. Como o novo Spritzautomatic GMT, motorizado pelo calibre NH34A da Seiko, e com um interessante look laranja translúcido. Uma marca… divertida. Mais informação: www.outoforderwatches.com.
4 | Oisa: calibres Made in Italy
Entretanto, o (re)lançamento do primeiro movimento mecânico ‘Made in Italy’ no ano passado, com a chancela da Locman (a reinterpretação moderna do histórico calibre OISA 29-50 ‘Cinque Ponti’), foi complementado com uma versão automática do mesmo movimento — o primeiro calibre automático manufaturado totalmente em Itália.
A afirmação relojoeira não se cinge apenas ao estabelecimento de marcas — a produção de movimentos próprios é fundamental. A Locman, proprietária da Oisa, é logicamente a primeira marca a beneficiar disso. Mais informação: www.oisa1937.it e www.locman.it.
5 | GPF Straps: revivalismo em pele
O hábito também faz o monge. Sediada em Arezzo, a GPF Straps é uma das mais importantes companhias produtoras de correias para relógios na Europa e a sua variedade é extremamente alargada, tanto nas peles utilizadas (de todas as espécies e com certificação CITES) como no estilo (dividido maioritariamente entre a linha Clássica e a linha Vintage).
As variadíssimas peles são tingidas com métodos naturais e as correias são manufaturadas, num belo tributo à tradição da correaria toscana. Do alargado catálogo, os produtos mais interessantes são mesmo os da linha Vintage: as correias apresentam um aspeto envelhecido graças à aplicação de patina, há cores para todos os gostos e a própria originalidade das costuras proporciona múltiplas opções. Um deleite para qualquer strapaholic ou simplesmente quem goste de mudar o visual do seu relógio — e os relógios ganham mesmo um carisma especial com algumas das notáveis correias disponíveis. Mais informação em www.gpfstraps.com.
6 | Wolf 1834: a hora do lobo
Em constante crescimento. A Wolf tem-se afirmado cada vez mais no cenário relojoeiro como a mais completa companhia de moinhos para relógios, apresentando uma alargada variedade de estilos e de preços. É também uma marca que tem investido muito na cultura relojoeira e no patrocínio de eventos. A sua origem remonta a 1834 (então fabricante de estojos) na Alemanha e alega ser a única fabricante de moinhos que integra contagem de rotações, enquanto as restantes usam apenas o tempo para uma estimativa.
Os preços vão dos 275 euros para o cubo individual mais simples até aos cofres embutidos construídos à vontade do freguês, alguns dos quais com um preço de várias centenas de milhar de euros. Da Alemanha, a marca passou para a Suécia e depois para o Reino Unido. Atualmente, é um potentado que inclui também acessórios em pele e todos os tipos de caixas para relógios e joias. Mais informação em www.wolf1834.com.