À descoberta dos Beatles

A propósito da edição limitada Raymond Weil Maestro Beatles Limited Edition e no dia em que se celebra 50 anos do último concerto dos Beatles, publicamos a versão completa da reportagem dedicada à exposição The Beatles — Sons e Tons, que esteve patente em Viana do Castelo. 

Versão completa da reportagem publicada na versão impressa da Espiral do Tempo 55 (verão 2016).
Descubra o vídeo que complementa esta reportagem: À descoberta dos Beatles com Victor Coutinho

EdT55 — Nem de propósito: no ano em que a Raymond Weil celebra 40 anos com o lançamento de uma edição limitada dedicada aos Beatles, deu-se a coincidência de, em Viana do Castelo, se celebrar a mítica banda inglesa com uma exposição que apresentou ao público, pela primeira vez, tesouros da música que pertencem à coleção discográfica do Beatle Coutinho. Perdão:  Victor Coutinho.

Depois de ter passado quase um dia a contar-nos histórias da sua vida e da sua paixão, Victor Coutinho recebeu, de braços abertos e com o mesmo entusiasmo, mais uma das inúmeras turmas que, entre os passados meses de abril e junho, se deslocaram ao Museu do Traje de Viana do Castelo para visitar a exposição The Beatles — Sons e Tons.

Beatles
© Espiral do Tempo / Paulo Pires

A presença de Victor Coutinho enquanto guia não foi fruto do acaso — sem ele, não haveria exposição. Sem ele e sem a avó Mimi, que o próprio fez questão de mencionar mais do que uma vez e com o maior orgulho: «Costumo dizer que o John Lennon tinha a tia Mimi e eu tinha a avó Mimi». É que foi a avó Mimi que, por amor ao neto, tornou possível a aquisição de uma grande parte dos 36 mil discos, entre vinis e CD, que atualmente compõem a coleção pessoal do vianense, nascido em Kinshasa. Durante os dias da exposição, o próprio não teve nenhum pudor em divulgar o evento também nas ruas, puxando as pessoas para o segundo andar do Museu, com a certeza de que as levaria para um momento de história. «Porque», referiu, «se quiserem ver discos, vão à FNAC ou à Galáxia. Aqui, as pessoas vêm ver raridades, ver história». A certeza é mesmo essa. Victor Coutinho conta, na sua coleção, com cerca de 2700 discos dos Beatles, e foi parte desse espólio que o público teve a oportunidade de descobrir. «Deixei os meus meninos saírem de casa. Estão aqui a passar umas férias maravilhosas», afirmou.


De comprador a colecionador

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© Espiral do Tempo / Paulo Pires

E como nasceu a extensa coleção de Victor Coutinho? «Os meus dois primeiros discos — World, dos Bee Gees, e Mighty Queen, original de Bob Dylan, numa versão dos Manfred Mann — foram uma oferta do afilhado da minha avó quando eu tinha 12 anos, mas, na altura, não estava nos meus horizontes adquirir discos. Só depois de adquirir um gira-discos é que comecei efetivamente a comprar. Comprava porque tinha essa possibilidade. Comprei coisas até importantes e que aqui estão expostas, mas não com o conhecimento de causa. Naquela altura, não era o entendido que hoje sou. Tudo o que saísse, eu comprava, e ganhei este vício salutar. 20 anos antes do tempo desta exposição, comecei a olhar para o meu espólio como uma coisa que merecia outro tipo de abordagem. Já não era um acumulador, era agora um colecionador. O mundo do colecionismo já é completamente diferente. Fiz então uma regressão musical, porque só comecei a ter os meus primeiros discos em 1968. Os Beatles acabam em 70. Eu, naquela altura, já tinha passado ao lado. Fiz a regressão e fui adquirindo algumas obras, algumas raras. Como esta, posso fazer mais umas vinte e tal exposições». Com efeito, a exposição The Beatles — Sons e Tons «nasceu de uma ideia de um amigo meu, já no ano passado», explicou-nos Victor Coutinho, «e a ideia seria expor isto fora da cidade, o que eu não aceitei, porque, como sou um colecionador de Viana do Castelo, teria de ser na minha cidade. Além disso, a ideia inicial nem seria expor o espólio dos Beatles que tenho em minha posse, mas eu não concordei. Quis apostar na banda que adoro, da qual possuo um espólio que acho que tinha de ser partilhado. Depois, o homem sonha e a obra acaba por se realizar». Quando visitámos a exposição, foi-nos dito que, nos primeiros 18 dias, tinham por ali passado cerca de 12.000 pessoas. «Um verdadeiro recorde», nas palavras do colecionador que passou a ser conhecido por ‘Beatle Coutinho’, graças a um simpático jovem visitante que fez questão de o cumprimentar, chamando-o por esse nome.


The Beatles — Sons e Tons

Beatles
O famoso álbum The Beatles Yesterday an Today com a Butcher cover. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Quanto aos tesouros que estiveram expostos durante dois meses, e apesar de a mostra contemplar contextualizações detalhadas do espólio ali apresentado, Victor Coutinho destacou de imediato o Yesterday and Today, com a famosa Butcher Cover, «considerada no mundo da Beatlemania como a obra mais importante ainda acessível».  O colecionador português esteve 15 anos atrás desta pérola: «éramos 43 a disputá-la». A Butcher Cover é a polémica capa que ilustrou a edição americana do álbum Yesterday and Today, de 1966, que nunca chegou a ser distribuída comercialmente. Em causa estava o trabalho fotográfico de Bob Whitaker, que apresentava os quatro Beatles vestidos de açougueiros, rodeados de carne crua e bonecas desmembradas. O feedback negativo junto das rádios e disc jockeys, levou a editora, a Capitol Records, a colar sobre a capa uma nova capa com uma fotografia diferente. Mas o álbum com a Butcher Cover acabou por se tornar num mito, principalmente pelas histórias em torno da razão pela qual os Beatles se deixaram fotografar em tal cenário. Entre as muitas teorias, consta que esta teria sido uma reação da banda britânica à editora norte-americana que distribuía as músicas dos álbuns originais em diferentes álbuns de modo a lançar mais discos durante o ano, numa espécie de desmembramento musical. Outros referem uma reação à Guerra do Vietname. Mas, independentemente da explicação, a verdade é que uma destas procuradíssimas capas esteve em grande destaque em Viana do Castelo.

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© Espiral do Tempo / Paulo Pires

Da exposição, o colecionador foi destacando ainda outras referências: «O Rubber Soul, numa versão de Taiwan, adquirida a um diplomata americano no fim da década de 70 e cujo disco está todo forrado com fotografias dos Menace, conhecidos como os Beatles asiáticos, ou o álbum The Beatles, mais conhecido por White Album, com a particularidade de ter sido gravado pela Antrop Records em S. Petersburg. Todos os carateres são russos, e um destes encontra-se no Beatles Experience Museum at Albert Hall em Liverpool». Depois, e como não poderia deixar de ser, há sempre uma história portuguesa para contar. Neste caso, a música «Penina», que, no espólio apresentado, esteve presente em duas das peças: «Temos um disco raríssimo, que talvez 90% das pessoas não conheça — o Black Album, um triplo bootleg que inclui a música «Penina» e onde o Paul McCartney fala acerca dela». Com efeito, esta música foi composta ao piano, e foi oferecida por Paul McCartney, em 1968, aos Jota Herre, depois de o Beatle ter gentilmente aceitado, no Hotel Penina, no Algarve, o inesperado convite da banda portuguesa, formada por Aníbal Cunha, Rui Pereira, Carlos Pinto e José Carlos Flamínio, para tocar. «Paul McCartney ofereceu o que, naquela altura, equivaleria hoje a 33 mil euros, 6600 contos», remata o vianense. Ainda a este propósito, «temos depois o The Songs that Lennon and McCartney Gave Away, que é o único álbum em que aparece oficialmente um português a cantar uma música oferecida por um Beatle, a «Penina», mas que, neste caso, é Carlos Mendes quem a canta».

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O álbum Help com a concha da Shell na capa foi adquirido por Victor Coutinho em 1995. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Continuando a visita guiada, destacamos também, entre tantos outros possíveis, um álbum Help com a concha da Shell, adquirido em 1995, um disco raro no qual os Beatles cantam o «Barbeiro de Sevilha», bem como um disco de promoção, Not for Sale, cujas gravações o Ringo Starr ofereceu a Peter Sellers,  ou ainda «a maior, mais importante e mais rara coleção de EP dos Beatles (na minha opinião e na opinião de alguns experts)». Rara, porque, como explicou Victor Coutinho, «as tiragens eram curtas e a EMI Valentim de Carvalho, na época, fracionava os longplays que eram caros e dividia-os em singles. Apesar de contemplar uns discos mais raros do que outros, com algumas primeiras e segundas edições, o que é mesmo raro é encontrar coleção completa. E, neste caso, esse é o motivo que justificou a exposição deste setor». Acrescentaríamos, ainda, um disco com gravações não editadas para a BBC e «uma primeira edição de Let it Be, de 1970, que, na altura, foi logo retirada do mercado porque foi um grande fracasso na época – por ser cara e de difícil manuseamento – mas um fracasso que acabou por torná-la hoje numa obra de culto. Além disso, este álbum foi outro dos motivos que esteve na origem da separação dos Beatles, porque a produção não foi de George Martin, mas de Phil Spector. Paul McCartney não esteve de acordo com os arranjos feitos e mais tarde acabou por reagir, em 2003, com Ringo Starr e George Martin, com o Let it Be… Naked», contou-nos o vianense para quem esta exposição representou sem dúvida «a história de vida, a história de uma banda e a história pessoal».


Raymond Weil Maestro Beatles Limited Edition

Raymond Weil The Beatles Limited Edition
Raymond Weil The Beatles Limited Edition © Raymond Weil

Claro está que, à exposição, acabámos por levar connosco o Raymond Weil Maestro Beatles Limited Edition, que a marca lançou este ano, no âmbito da celebração o seu 40.º aniversário. Para nós, era incontornável recolher a opinião de um verdadeiro apaixonado pela banda britânica. Assim, ao lado das relíquias expostas, o relógio acabou por se enquadrar na perfeição. Aliás, só o facto de nas vitrinas estarem apresentados os 13 álbuns de estúdio referenciados no mostrador do relógio mostra bem o modo como há coincidências que dão origem a histórias que merecem ser contadas. Neste caso, o facto de a Raymond Weil e Viana do Castelo — graças a um colecionador de referência — celebrarem os Beatles no mesmo ano. Quanto ao relógio, recebemos o aval certeiro: «Acho que é de uma beleza e, ao mesmo tempo, de uma simplicidade fantásticas. Adquiri-lo seria como um ‘beatlemaníaco’ adquirir ‘um’ Butcher Cover!» Palavras do Beatle Coutinho. ET_simb

* Um bootleg, neste caso, é um disco audio com gravações não oficialmente lançadas.

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