Além de ser smart: o que é que o Montblanc Summit tem de relógio de pulso?

Por esta altura, já o mundo inteiro escreveu sobre o Summit, o primeiro smartwatch com a assinatura da Montblanc. Esta novidade vem na sequência de alguns interessantes modelos apresentados no SIHH 2017 e surge poucos dias após o lançamento do TAG Heuer Connected Modular 45. Mas o que é que afinal o Montblanc Summit tem de relógio de pulso?

Não é costume abordarmos num tão curto espaço de tempo o universo paralelo dos smartwatches. Mas é uma temática que está na ordem do dia no âmbito da indústria relojoeira e, na semana passada, já analisamos o TAG Heuer Connected Modular 45; hoje chamamos a atenção para o novo Summit, o primeiro smartwatch assinado Montblanc.

Apresentá-lo em traços gerais e mencionar as especificidades técnicas poderia ser um abordagem possível. Mas admito: falar de sistemas de software e funcionalidades digitais quando ainda não tivemos a oportunidade de o ‘experienciar’ devidamente está um pouco fora do nosso alcance.

Se é verdade que Montblanc Summit guarda uma série de elementos dignos de um computador, também é verdade que o posicionamento da Montblanc é bem explícito: manter a ligação ao mundo da relojoaria dita tradicional. Aliás, nós já conhecíamos a perspetiva do antigo CEO da marca Jérôme Lambert, no que diz respeito aos smartwatches:

«Uma oportunidade! Quando falamos de relógios inteligentes, falamos, antes de tudo, de relógios. Não nos esqueçamos que o setor é muito ativo com as suas 600 marcas de relógios. Não tenho qualquer preocupação face à nossa capacidade de falar também às gerações mais jovens.»

A TAG Heuer soube fazer isso ao preferir designar o seu smartwatch de connected watch — relógio conectado, digamos assim — e ao conseguir concretizar este ano o conceito de modularidade que permite a intermutabilidade entre módulos mecânicos e módulos eletrónicos.

© Montblanc
© Montblanc

Já a Montblanc assume o termo smartwatch, mas afirma: « O Summit transporta a mais fina relojoaria para a era digital e introduz os seus códigos no mundo dos relógios conectados, marcando uma nova era nos wearables de luxo para homem.» A ideia é incluir no relógio o ritmo das vidas de hoje, ao mesmo tempo que se proporciona a sensação de um verdadeiro relógio no pulso, criando uma ponte para o mundo da alta-relojoaria.

No fundo, tem sido esta a abordagem geral das marcas, cada uma à sua maneira (estava aqui a pensar no Horlogical Smartwatch da Fréderique Constant, por exemplo).

Em vez de smartwatches como estamos habituados a conhecer, têm nascido assim relógios de pulso de personalidade um pouco híbrida, que ficam ali a meio caminho entre uma coisa e outra. No caso específico do Montblanc, temos um relógio com códigos estéticos da relojoaria tradicional e tecnologia e funcionalidades de última geração.

© Espiral do Tempo / Miguel Seabra
© Espiral do Tempo

E de smartwatch o Summit tem muita coisa, como é óbvio: memória RAM de 512 MB, 4 GB de armazenamento interno, bateria de 300 mAh com carregamento por indução; além disso, vem equipado com Android Wear 2.0 e todas as suas funcionalidades inerentes. Contagem de passos, direções passo-a-passo, análise do sono, sensor de batimentos cardíacos na parte traseira, notificações, microfone e tradutor global são algumas das possibilidades que oferece. A ligação ao smartphone, compatível com Android e iOS, é feita por Bluetooth ou por Wi-fi.

Claro que há muito mais. E em breve teremos certamente a possibilidade de descobrir este smartwatch como deve ser.

No entanto, por agora, vamos focar-nos na componente relojoeira propriamente dita e descobrir o que é que afinal o Summit tem de relojoaria tradicional.

A caixa

As linhas do Summit baseiam-se na coleção 1858 da Montblanc, com inspiração assumidamente vintage e uma das mais bem sucedidas linhas relojoeiras da marca na atualidade… É mesmo a escolha do ‘nosso’ campeão mundial e olímpico do triplo salto, Nélson Évora, que surgiu no evento de lançamento realizado na Boutique da Montblanc na avenida da Liberdade, em Lisboa, com um 1858 Small Seconds Automatic no pulso (com bracelete milanaise que lhe acentua o visual vintage).

© Espiral do Tempo / Miguel Seabra
© Espiral do Tempo

Os modelos da coleção 1858 têm 44mm de diâmetro; o Summit apresenta uma caixa com 46 mm de diâmetro e 12,5 mm de espessura tem realmente contornos de relógio tradicional, porém tanto à primeira vista, como depois no pulso, parece demasiado grande. Aqui, a culpa talvez seja das asas: se fossem integradas, talvez transmitisse outra sensação; por outro lado, há aquela questão da leveza. Sabemos bem como, de um modo geral, os relógios mecânicos tendem a ter um peso simpático que é sinónimo de algum conforto e que psicologicamente é tão importante para os aficionados; no caso do Summit, esse peso não existe, porque lá dentro não bate um movimento mecânico. Será uma questão de hábito, claro. E de perceber que é um smartwatch que muita gente utilizará em atividades mais desportivas; nesse prisma, o peso inferior acaba por ser uma vantagem.

O relógio está disponível com caixas em aço e em titânio com quatro diferentes variantes de cor: aço; aço com revestimento PVD e com luneta em PVD; aço com acabamento acetinado e luneta com revestimento PVD; e titânio grau 5 com acabamento acetinado.

A aparência de relógio tradicional é reforçada pela coroa também emprestada da coleção 1858. A coroa em si não roda; integra antes um botão que permite controlar a sensibilidade à luz.

O mostrador

© Montblanc
© Montblanc

Ao contrário de outros smartwatches, o mostrador de 1.39” está sempre ligado e este aspeto é mesmo uma mais valia, se quisermos fazer a ponte com os relógios tradicionais. Por outro lado, oferece inúmeras possibilidade de escolha de mostradores – quase todas rebuscadas da coleção 1858, mas com algumas também evocativas da nova coleção Timewalker desvelada em janeiro deste ano. O sistema é simples, basta deslizar o dedo no vidro e selecionar a opção desejada. Se escolhermos um mostrador com cronógrafo, há opção de selecionar a função que se quer destacar nos submostradores. As funções são muitas, como seria de esperar, e direcionadas para diferentes vertentes da vida – do desporto, às viagens, passando pelas necessidades do quotidiano. O delicioso Worldtimer tem reunido preferências por ter sido desenvolvido em especial para o Summit e inspirado nos mapas old school.

O relógio respeita a norma IP68 no que diz respeito à resistência, o que significa que está preparado para resistir aos salpicos da vida diária e não propriamente a um mergulho no abismo.

Vidro de safira bombeado

Montblanc Summit
Montblanc Summit © Montblanc

A olho nota-se pouco, mas está lá. O Summit é o primeiro smartwatch a estar equipado com vidro de safira curvo, numa alusão a características típicas da relojoaria tradicional. Sinceramente, este aspeto pioneiro não se percebe bem, porém os mais céticos podem ficar descansados porque a sensibilidade não é aqui um problema.

Braceletes

© Montblanc
© Montblanc

Esta questão era obrigatória nos tempos que correm: um relógio com este não poderia vir equipado apenas com uma opção de bracelete. A marca aposta assim na versatilidade com oito opções entre braceletes NATO e calfe, bem como cores que passam pelo preto, o verde, o vermelho, o azul e o castanho. As braceletes podem ser facilmente trocadas e a marca vai disponibilizar um configurador on-line para facilitar a escolha da combinação. Algumas são bem apetecíveis e na combinação com os mostradores podem fazer deste um relógio com diferentes estilos – mesmo ao gosto do freguês. A Montblanc fala em 300 opções de combinações possíveis de personalização, entre mostradores e braceletes.

Personalização

© Espiral do Tempo / Miguel Seabra
© Espiral do Tempo / Miguel Seabra

Se quisermos ser ainda mais exigentes na ponte com a mais fina relojoaria, falemos de um pequeno grande luxo acessível aos bolsos de apenas alguns: a Montblanc oferece aos seus clientes a possibilidade de desenharem os seus próprios mostradores digitais com a equipa criativa da marca. O preço para este serviço começa nos 15.000 euros. Nada a questionar, se tivermos em conta que a marca disponibiliza uma equipa exclusiva para fazer este trabalho…

Em suma

Perante o Montblanc Summit e outros smartwatches lançados por marcas de relojoaria, a sensação com que ficamos é que  apesar de salientarem as especificidades digitais e de software, os principais argumentos passam acima de tudo por argumentos puramente relojoeiros/ tradicionais e foi nisso mesmo que pegámos.  Será que são estes mesmos argumentos que vão convencer as gerações mais novas a escolher um smartwatch? Ou que as levarão a descobrir algo de tão especial que as leve a passar de um smartwatch para um relógio de pulso tradicional?

Não sabemos. Mas estamos cá para ver.

Na passada sexta feira, na apresentação do Summit, notou-se que ainda existe pouco à-vontade no meio da relojoaria com este tipo de produto. Há sempre quem refira que é um gadget e há sempre quem refira que é o relógio do futuro.  Há também que refira que estamos perante dois produtos de campeonatos diferentes. Ou seja, quem compra relógios tradicionais compra-os por motivos muito diferentes àqueles que estão associados à compra de smartwatches. E a aquisição de um não tem que invalidar a aquisição de outro.

Estamos a assistir a um momento de transição/reação e de alguma mudança; por isso, é natural que se questione e é natural que algumas marcas estejam aos poucos a afinar a sua posição. Basta ver, como a Montblanc passou de um original módulo conectado à bracelete há uns anos atrás, para uma coleção de smartwatches. Sim, porque o Summit é anunciado como coleção.

Para já, o Montblanc Summit vai estar disponível a partir de maio de 2017 com um preço que começa nos 920 euros. Segundo a marca, o retalhista on-line MR PORTER será parceiro exclusivo de lançamento durante duas semanas, antes de ser distribuído ao nível global, tanto através do site, como dos canais de retalho da Montblanc.

Visite o site oficial da Montblanc para mais informações.

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