A história está repleta destas ironias. No passado domingo, dia 2 de setembro, um dos mais populares grupos de música pop, os U2, viu-se obrigado a parar o seu concerto em Berlim: Bono, o vocalista, atirou a toalha para o chão e saiu de cena, pouco tempo depois do início do concerto, por ter perdido totalmente a sua voz. Na mesma noite, no Teatro de São Carlos, em Lisboa, os dez finalistas do concurso internacional de canto lírico Operalia, entre os quais o tenor português Luís Gomes, lutavam para conquistar um júri de 13 profissionais escolhidos a dedo pelo organizador Plácido Domingo. As vozes que conquistaram o primeiro prémio receberam um prémio monetário. Já os vencedores do prémio do público receberam um relógio Rolex. Para casa todos levaram também mais certezas de futuro.
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Não é preciso ser um grande apreciador de música para conhecer o nome de Plácido Domingo. Juntamente com os seus parceiros José Carreras e Luciano Pavarotti, este madrileno nascido em 1941 entrou para a história, na década dos anos 90, graças à estrondosa popularidade dos concertos d’Os três Tenores. Nessa altura, Plácido Domingo já era reconhecido entre os seus pares como um incontornável tenor por ter conseguido representar mais de 150 personagens diferentes ao longo da sua carreira – um feito nunca mais repetido por nenhum outro cantor de ópera. Porém, decidiu sair da sua zona de conforto com esta iniciativa ousada de democratização de um género musical que tende a ser consensualmente qualificado de elitista. As lotações sempre esgotadas vieram confirmar esta aposta.
O nome Plácido Domingo integra hoje a lista dos cantores reconhecidos universalmente, quebrando todas as barreiras sociais que isolam a ópera. Não contente com este desfecho, o tenor alargou as suas competências ao dirigir orquestras e, mais recentemente, demonstrou as suas capacidades de gestão ao assumir o cargo de diretor da Ópera de Los Angeles. O reconhecido tenor esteve na semana passada em Lisboa para apresentar a 26º edição da Operalia, o prestigiado concurso internacional de canto lírico por ele fundado, e dirigir a Orquestra Sinfónica Português na grande final que decorreu no Teatro Nacional de São Carlos, no passado dia 2 de setembro.
Operalia, a ambição da renovação
Fundado em 1993 por Placido Domingo com Lucienne Telle, este ‘X-Factor da ópera’ visa essencialmente descobrir e incentivar jovens promissores cantores. Este ano, o júri era composto por 13 influentes gestores, entre os quais Jonathan Friend, administrador artístico do MET Metropolitan Opera, Jean-Louis Grinda, diretor da Ópera de Monte-Carlo, Peter Mario Katona, diretor de seleção de elencos da Royal Opera House, Joan Matabosch, diretor artístico do Teatro Real de Madrid ou, ainda, Ilias Tzempetonidis, diretor da seleção de elencos da Ópera Nacional de Paris. Das centenas de candidaturas que chegaram ao longo do ano à organização, somente 40 jovens, dos 18 a 32 anos, passaram para os quartos de final. Esses cantores foram convidados a viajar até Lisboa para concorrer, durante uma semana, sob o olhar vigilante e acompanhamento personalizado do tenor Plácido Domingo. O Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), que este ano celebra 225 anos, foi o palco do prestigiado concurso, o que veio a demonstrar a fama internacional crescente da cidade. Em entrevista ao Observador, Patrick Dickie, atual diretor artístico do TNSC, confirma que “a Operalia já esteve em vários cantos do mundo e Portugal era um destino óbvio. É um grande evento, chama o público local e é transmitido online e na televisão.”
Grande final e várias surpresas
As altas expectativas para esta 26ª grande final não foram defraudadas: não faltou talento, emoção, e até algumas surpresas. A primeira, sublinhada num excelente artigo de Cristina Fernandes publicado no Público, foi a inédita ausência, na grande final, de sopranos na categoria de ópera. Haveria assim mais espaço e esperança para as várias meio-sopranos que alcançaram a final. A segunda surpresa veio da presença e dos resultados do tenor português Luís Gomes. Este jovem promissor, nascido no Montijo, integrou recentemente o famoso Jette Parker Young Artists Program da Royal Opera House de Londres e, dos oito prémios atribuídos na grande final, Luís Gomes conquistou dois: o esperado prémio do público para melhor voz masculina (afinal, jogava em casa) e, menos esperado, o prémio zarzuela com “La Roca Fría Del Calvário” de La Dolorosa, do compositor espanhol José Serrano. O tenor português partilhou este lugar com o bielorusso Pavel Petrov, que acabou também por receber o tão cobiçado primeiro prémio do concurso, momentos mais tarde. “Esta vitória na zarzuela já compensou os trabalhos que tive de recusar” confessa o jovem tenor português. “Não tinha expectativas nenhumas, vim com o objetivo de fazer o melhor que podia e de pôr em prática o que estudei durante largos meses”. O certo é que o público do São Carlos ficou rendido desde os primeiros momentos da sua atuação.
Por fim, a meio-soprano canadiana de origem italiana Emily D’Angelo foi a grande vencedora no domínio das vozes femininas. A elegante cantora estreou-se profissionalmente há apenas dois anos como Cherubino em Le Nozze di Figaro no Festival dei Due Mondi, em Espoleto, Itália. Apresentando-se em palco vestida com uma calculada sobriedade, hipnotizou a exigente audiência. A sua interpretação de “Dopo Notte” da ópera Ariodante de Georg Friedrich Händel foi uma opção arriscada que acabou por resultar. Emily surpreendeu ainda a audiência quando voltou a aparecer em palco para a sua segunda performance com umas calças vermelhas, muito apropriadas à zarzuela. Foi a única finalista que mudou de roupa entre as duas apresentações; algo que terá provavelmente tido alguma influência na sua vitória. A jovem conquistou também o prémio do público para melhor voz feminina, o prémio zarzuela e o prémio Birgit Nilsson.
O primeiro prémio, para a melhor voz feminina e masculina, é de 30 mil dólares, cerca de 25.700 euros. Já os vencedores do prémio do público receberam um relógio Rolex devidamente gravado com os elementos distintivos do evento. Afinal, a marca da coroa é o principal patrocinador da Operalia há já diversos anos.
Associação de titãs
Muito se poderia escrever sobre o genuíno compromisso com artes assumido pela Rolex e que este ano, tal como aconteceu recentemente com Vasco Mendonça, passou pelo feliz desfecho para um português. Fenómeno universal e líder incontestável há décadas no setor da relojoaria, a marca da coroa associou-se a Plácido Domingo em 1982. Mais tarde, em 2002, com toda naturalidade aceita o desafio de alargar ao apoio financeiro a sua parceria com o Concurso Mundial de Ópera, a Operalia.
O atual diretor-geral de relógios Rolex para Portugal, Benoît Falletti, resume bem o contributo da marca quando afirma que “o sucesso da Operalia é tal que os vencedores alcançaram o estrelato nos mais importantes salões de ópera em todo o mundo”.
Muito para além de uma operação de marketing pontual, este apoio substancial (a marca, porém, não divulga números) permite ao brilhante tenor continuar, com a tenacidade e a excelência que lhe são reconhecidas, esta procura de novos talentos. Deixando a última palavra para Plácido Domingo: “Sem o generoso apoio da Rolex, incondicional lealdade, elevado compromisso e sentido inato de colaboração, a Operalia não poderia existir”. Nem mais.
Visite o site oficial da Rolex ou o site oficial da Operalia para mais informações.
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