Rolex Mentor & Protégé: de mãos dadas pela música

A Espiral do Tempo teve, recentemente, a oportunidade de conhecer os compositores Kaija Saariaho e Vasco Mendonça, no âmbito da apresentação em Portugal do programa Mentors & Protégés, desenvolvido pela Rolex. Respetivamente ‘mentor’ e ‘discípulo’, Kaija e Vasco são os protagonistas da área da música neste que é um projeto que apoia as artes numa lógica de transmissão de saberes e partilha de experiências.

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O compositor português Vasco Mendonça e a compositora finlandesa Kaija Saariaho, respetivamente discípulo e mestre, são os protagonistas da área da música da edição 2014/2015 da iniciativa Rolex Mentors & Protégés. © Rolex/Hugo Glendinning

Uma iniciativa que recupera a tradicional cadeia de transmissão de saber com base na ligação mestre/aprendiz. O projeto Mentors & Protégés, com assinatura Rolex, tem o lema de garantir a preservação do património artístico e de estimular a criatividade, através do diálogo entre artistas de diversas áreas e de diferentes gerações. Desde 2002, foram diversos os nomes que participaram no programa — do cinema, à dança, passando pela literatura, pelo teatro, pela música, pela arquitetura e pelas artes visuais. Martin Scorcese, Trisha Brown, Mario Vargas Llosa, Sir Peter Halle, Álvaro Siza Vieira, Gilberto Gil, Peter Sellars e David Hockney são algumas dessas personalidades. Enquanto mentores, cada um dos conceituados artistas acompanhou jovens em ascensão nas respetivas áreas — ‘protegidos’, como denomina no projeto —, de modo a legarem um saber, transmitirem os seus conhecimentos e propiciarem a partilha de experiências criativas. Ao mesmo tempo, os jovens artistas selecionados para participarem no programa surgem de todos os cantos do mundo. O compositor português Vasco Mendonça foi o primeiro português a conquistar um lugar enquanto discípulo neste projeto. A reconhecida compositora finlandesa Kaija Saariaho é a sua mentora/ tutora. Ambos são os protagonistas na área da música na edição 2014/2015 deste programa filantrópico.

Rigor de seleção à la Rolex

© Rolex Mentors & Protégés
Os sete jovens selecionados para a edição 2014/2015 do programa Rolex Mentors & Protégés são oriundos da Bulgária, Israel, Estados Unidos, Paraguai, México, Portugal e República Democrática do Congo. Da esquerda para a direita: Miroslav Penkov (literatura), Tom Shoval (cinema), Myles Thatcher (dança) Gloria Cabral (arquitetura), Sebastián Solórzano Rodríguez (teatro), Vasco Mendonça (música) e Sammy Baloji (artes visuais). © Rolex/ Regis Golay

A iniciativa Rolex Mentors & Protégés apoia jovens artistas de diferentes áreas a alcançarem o seu máximo potencial, oferecendo-lhes a oportunidade de se unirem a grandes mestres durante um ano de colaboração criativa. De dois em dois anos, um novo quadro de mentores é apresentado, e cabe a cada mentor estabelecer um perfil de aprendiz com o qual gostaria de trabalhar. O processo de seleção dos jovens artistas é muito rigoroso e não é fácil. Ao contrário da iniciativa Rolex Awards for Enterprise, os aspirantes ao programa Mentors & Protégés nem sequer se podem candidatar; são antes convidados a apresentar a sua candidatura. Basicamente, um conjunto de peritos das diferentes áreas abordadas pelo programa identifica potenciais jovens cujo perfil vai ao encontro das especificações determinadas pelos mentores. Segue-se o momento em que a própria Rolex convida os artistas selecionados a submeterem a sua candidatura para que, das várias candidaturas, se definam três finalistas de cada área. A entrevista com o futuro mentor é o momento decisivo. É nessa altura que os sete artistas, que terão a oportunidade de serem acompanhados por nomes distinguidos com prémios como os Óscares, Nobel, Pritzker, Cervantes entre outros, são efetivamente escolhidos.

Vasco Mendonça passou por todo este processo e refere mesmo que foi com surpresa que recebeu o contacto da Rolex. «Eu não fazia ideia de que me tinham nomeado, mas foi importante saber que o meu trabalho estava assim a ser reconhecido», explica. O compositor português, já referido como um dos portugueses mais destacados da música contemporânea, foi assim convidado a enviar a sua candidatura — com um vídeo, uma carta e o seu portefólio. Na fase final, após uma entrevista a cada um dos três finalistas, coube a Kaija Saariaho selecionar apenas um. «Inicialmente, na minha perspetiva, era para ser uma mulher, pela identificação», refere, mas acabou por ser Vasco Mendonça o discípulo selecionado.

Dialogar, partilhar, criar

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Kaija Saariaho é saudada como uma das compositoras mais originais e importantes dos últimos tempos. Aceitou, com agrado, o convite da Rolex para participar no programa Mentors & Protégés. Considera ser seu dever apoiar as novas gerações. © Rolex/Hugo Glendinning

Aos mestres e discípulos é sugerido um tempo mínimo de seis semanas de convívio para a partilha de experiências, mas uma grande parte acaba por conviver consideravelmente mais tempo. Entre si, o duo decide a base da sua relação: por um lado, o protegido tem acesso total ao trabalho do mentor, por outro lado, podem concordar em colaborar juntos num trabalho comum. Vasco Mendonça conta com um sorriso que, na primeira vez que se encontrou com Kaija Saariaho, «não falámos uma única palavra sobre música», algo que traduz a importância do estabelecimento de uma relação que vai para além da transmissão de conhecimento. «A ligação a um mentor como caminho para a aprendizagem e para alcançar o máximo potencial enquanto artista é uma antiga e respeitada prática que está novamente a ganhar popularidade», refere-se no site oficial da iniciativa, «aos protegidos é garantido um acesso sem paralelo a grandes artistas do mundo, muitos dos quais abraçaram esta oportunidade para partilharem conhecimentos, experiências e ideias.»

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Gilberto Gil, de origem brasileira, e de Dina El Wedidi, de origem egípcia, tutor e discípula na área da música da edição 2012/2013 do Rolex Mentors & Protégés: um caso flagrante de trocas culturais e criativas. © Rolex/ Bart Michiels

Do ponto de vista prático, para mentores e para protegidos, o resultado traduz-se em experiências criativas únicas, que derivam também de trocas culturais, tendo em conta a diversidade de origens de uns e de outros — na edição 2012/2013, o caso de Gilberto Gil, de origem brasileira, e de Dina El Wedidi, de origem egípcia, foi flagrante neste sentido. Juntos em atuação vieram oferecer ao mundo algo de novo, num misto de saberes, experiências, paixão, tradições culturais e inovação. No caso de Vasco e Kaija, a relação tem-se revelado muito importante. «Partilhamos um grande interesse pela voz humana e pelo teatro, discutimos produções, escolha de textos, nomeadamente para o meu próximo projeto. Tem sido um processo de crescimento muito centrado também na tomada de decisões» explica o também professor de Análise e Composição da Universidade Lusíada de Lisboa, «ao mesmo tempo, a Kaija tem sido muito generosa ao ajudar-me a enquadrar-me no meio, pondo-me em contacto com outros curadores, compositores, instrumentistas, cantores e a construir uma carreira internacional». Juntos, mestre e discípulo partilharam já momentos de trabalho na Noruega, México, França, Áustria e Finlândia.

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Vasco Mendonça assinou um autógrafo em exclusivo para os leitores da Espiral do Tempo, no âmbito da apresentação da iniciativa Rolex Mentors e Protégés, em Lisboa. © Espiral do Tempo

Para a edição de 2014/2015 do Rolex Mentors & Protégés estavam nomeados 154 jovens. À espera deles estavam, para além de Kaija Saariaho, o arquiteto suíço Peter Zumthor, o coreógrafo russo Alexei Ratmansky, o realizador mexicano Alejandro González Iñárritu, o escritor e poeta canadiano Michael Ondaatje, a designer de iluminação Jennifer Tipton e o artista islandês Olafur Eliasson. Os sete selecionados têm origens tão distintas como Bulgária, Israel, México, República Democrática do Congo, Estados Unidos, Bulgária e Portugal, claro. No final dos doze meses de tutoria, para além de apoio monetário de 25 mil francos suíços e de uma ajuda financeira no que diz respeito a viagens e eventuais despesas, cada discípulo recebe ainda mais 25 mil francos como financiamento da publicação de uma nova criação, de um espetáculo ou evento público.

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Vasco Mendonça é compositor residente da Casa da Música. © Rolex/Hugo Glendinning

Quanto a Vasco Mendonça, tem-se destacado a nível internacional com obras como The Boys of Summer (2012), obra para música de câmara encomendada em conjunto para os festivais de Aldeburgh, Aix-en-Provence e Verbier, e The House Taken Over (2013), ópera de câmara encomendada pelo LOD Muziektheater e pelo Festival de Aix-en-Provence. Em 2013, a sua obra Ping estreou no Reino Unido, numa interpretação pela companhia Music Theatre Wales. Tendo estudado com nomes como Klaas de Vries e George Benjamin, recebeu o Prémio Lopes Graça de Composição e representa Portugal no International Rostrum of Composers da UNESCO. Já a par do percurso de Vasco Mendonça, Kaija Saariaho fez questão de vir a Portugal conhecer o ambiente pessoal e profissional do jovem compositor, já no âmbito do Mentors & Protégés. A reconhecida compositora, galardoada com o Polar Music e o Grawemeyer, refere que «a minha música é tão utilizada/tocada que acho que é meu dever ajudar as novas gerações» e destaca como positiva a sua relação com o jovem português. Ao longo deste ano «temo-nos encontrado com frequência e espero que tal continue a acontecer.» ET_simb

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rolexmentorprotege.com

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