Em Milão — A Parmigiani Fleurier comemorou este ano o seu 20.º aniversário e exibiu, em Milão, uma mostra de históricos exercícios mecânicos restaurados pelo atelier fundado por Michel Parmigiani. Estivemos lá e escrevemos sobre o tema para a mais recente edição da nossa revista; agora complementamos essa reportagem com uma projeção da coleção contemporânea da marca.
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É uma evidência: a esmagadora maioria dos mestres relojoeiros que fundaram a sua própria marca ainda no século XX ganharam credenciais a restaurar obras-primas do passado e Michel Parmigiani é um deles. Criou o seu próprio atelier de restauração em 1976, numa altura em que a indústria relojoeira suíça sofria o impacto da concorrência do quartzo, e foi enriquecendo o conhecimento enquanto desvelava os segredos dessas criações de exceção; na década de 80 passou a trabalhar com a fundação da família Sandoz para preservar as maravilhas mecânicas do acervo de Maurice-Yves Sandoz e a relação de confiança conduziu ao lançamento da sua própria marca de alta-relojoaria em 1996. Cumpriu recentemente 20 anos de vida e iniciará o seu 21.º com mais uma presença no Salon International de la Haute Horlogerie de Genève, dentro de escassas semanas.
Em 2016, na celebração das suas bodas de porcelana e com o patrocínio da Fundação Sandoz, a Parmigiani Fleurier promoveu uma mostra histórica nas instalações da bela Pisa Orologeria, em Milão, com alguns dos mais notáveis exemplares da coleção — juntamente com a apresentação dos 33 calibres concebidos pela marca ao longo das duas décadas de vida e o Tonda Chronor Anniversaire comemorativo do 20.º aniversário.
O principal destaque da exibição tem de ser, forçosamente, o famoso Pistolet à Canon Double et Oiseau Chanteur. Criado pelos lendários Irmãos Rochat tendo por base o desenho de uma pistola de cavalaria, quando puxado o gatilho é libertado um passarinho autómato que dá uma pirueta, abre o bico, revira a cabeça e abana tanto a cauda como as asas enquanto chilreia uma melodia — para depois desaparecer tão inesperadamente quanto a sua aparição. O Pistolet à Canon Double et Oiseau Chanteur, manufaturado em ouro e esmalte champlevé com 400 pérolas, 60 diamantes e gravação à mão, exigiu 4000 horas de trabalho e uma reconstrução quase total do mecanismo: não funcionava e algumas das seis anteriores intervenções de restauro foram desastrosas, desvirtuando a peça original. Agora está de regresso à sua esplendorosa glória.
Entre as peças ‘não-relojoeiras’ extraordinárias contam-se também o Miroir à Oiseau Chanteur, também dos Irmãos Rochat, com o mecanismo de abertura do espelho a fazer soltar um pássaro cantante; a Grenouille (rã) que se move e coacha; o Souris Blanche (ratazana) que se move e levanta; ou o Petit Piano à Musique da Fabergé.
De inspiração relojoeira, destacam-se: o Flacon à Parfum avec Montre, Automates et Carillon (inícios do século XIX), um frasco de perfume com relógio e animação complementada com música; e a Tabatière Ovale avec Montre, Carillon et Bateau Animé (cerca de 1780).
Entre os vários relógios propriamente ditos da mostra, dois de bolso assumiram relevância por serem equiparados a modelos Parmigiani Fleurier contemporâneos: a Montre Anglaise Ovale à Aiguilles Télescopiques, do início do século XIX, com a correspondente versão única de Michel Parmigiani (o Ovale Pantograph de 2013); e a Montre à Deux Fuseaux Horaires, de cerca de 1870, na qual se inspira a linha Tonda Hemisphères.
«Quando se tem um contacto direto com tantas maravilhas do passado como eu tive a fortuna de ter, é simplesmente impossível acreditar que a relojoaria do passado poderá morrer», confessa Michel Parmigiani. A exibição conjunta das Mechanical Wonders e dos relógios contemporâneos Parmigiani Fleurier foi a prova disso mesmo. Veremos que novidades terá a marca de Fleurier para nos oferecer em breve na edição do SIHH que se avizinha, mas para já foi anunciada uma atualização do Tonda Métrographe.
E tivemos a oportunidade de fotografar alguns dos modelos mais relevantes da coleção contemporânea da Parmigiani Fleurier — primeiramente no local da exibição e depois no centro da cidade de Milão. Aqui ficam alguns instantâneos e wristshots tirados na Pisa Orologeria — com exemplares vários das linhas Tonda, Kalpa, Toric e Bugatti (não temos imagens de modelos Pershing e Ovale nem de modelos femininos):
Depois seguiu-se um típico almoço italiano com a melhor gastronomia transalpina no Salumaio di Via Montenapoleone, um local onde o tempo parece parar.
Claro que se impunham também vários wristshots e instantâneos — e também um pequeno vídeo — nalguns dos mais emblemáticos pontos do centro de Milão: a Piazza del Duomo com a imponente catedral (Duomo) à frente, na Galeria Vittorio Emanuele II e na zona do mítico teatro Scala di Milano.
Fizémo-nos acompanhar de um Tonda Quator com data retrógrada, dia da semana, mês e disposição das fases da lua de grande precisão, de um Tonda Hemisphères com múltiplos fusos horários e de um Tonda 1950 Methéorite Special Edition com mostrador azul abismo.
Finalmente, e porque vale a pena, aqui ficam algumas fotografias noturnas da Piazza del Duomo com o Duomo e a Galeria Vittorio Emmanuele em destaque.
Uma cidade monumental carregada de história e simbolismo que apresenta um quarteirão da moda tão sofisticado que envergonha zonas comerciais de prestígio concorrentes como Bond Street em Londres, Madison Avenue em Nova Iorque ou o Faubourg de St. Honoré em Paris… mas a moda é passageira, ao passo que a monumentalidade artística é eterna e aqui fica a prova disso, em guisa de despedida!
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