Rolex Awards for Enterprise 2019: vencedores anunciados

Já foram anunciados os vencedores da edição de 2019 dos Rolex Awards for Enterprise. São assim cinco os projetos que têm como objetivo contribuir para uma melhoria da qualidade de vida do nosso Planeta que poderão continuar a seguir em frente agora com o apoio da Rolex.

A Rolex anunciou os cinco vencedores da edição de 2019 dos Rolex Awards for Enterprise, uma iniciativa que nasceu originalmente em 1976, no âmbito dos 50 anos do Oyster da Rolex, e que tem como objetivo apoiar projetos empreendedores que pretendem contribuir para uma melhoria da qualidade de vida no nosso Planeta.

Os 10 finalistas, pré-selecionados pelo júri a partir de 957 candidatos originários de 111 países, apresentaram os seus projetos no National Geographic Explorers Festival e, pela primeira vez, o público teve a oportunidade de votar nos seus projetos preferidos. Os resultados da votação pública foram levados em conta pelo júri na hora de selecionar os cinco projetos vencedores. Aqui fica uma síntese de cada um deles:

João Campos Silva (Brasil)

Projeto | Proteger o arapaima para salvar e garantir a sustentabilidade da Amazónia
Localização | Amazónia Brasileira

João Campos-Silva
João Campos-Silva | © Rolex Awards for Enterprise

Em colaboração com associações locais e líderes do setor piscatório da Amazónia Brasileira, João Campos Silva pretende proteger da extinção o arapaima ou pirarucu, o maior peixe de escamas de água doce do Planeta. Ao mesmo tempo, o jovem brasileiro está determinado também em salvar os meios de subsistência e a cultura das comunidades nativas da Amazónia que dependem dos rios onde o peixe vive para sobreviver.  «O arapaima é um peixe fantástico. É enorme, podendo alcançar três metros de comprimento e pesar até 200 kg. Ele tem um papel fundamental na alimentação dos povos da Amazónia desde o surgimento da primeira sociedade humana na região», explica Campos-Silva. A pesca predatória, a fragmentação do habitat e os impactos causados pela ação humana têm dizimado as populações selvagens de arapaima, quase ao nível da extinção em algumas localidades. Porém, na região Oeste da Amazónia, no rio Juruá, o encerramento de pequenos lagos ligados aos rios associado à forma cuidadosa de manuseio dos peixes existentes pela população local resultou numa incrível recuperação da espécie, com a multiplicação por 30 do número de arapaimas. Com o apoio dos Rolex Awards for Rolex Awards for Enterprise, o biólogo brasileiro pretende elevar a experiência a um novo patamar ampliando o plano de preservação para 60 comunidades e assim quadriplicar em três anos a população de arapaimas.

Grégoire Courtine (França)

Projeto | Desenvolver uma ponte implantável para ajudar pessoas com paralisia a andar novamente
Localização | Suíça

Grégoire Courtine | © Rolex
Grégoire Courtine | © Rolex Awards for Enterprise

Uma lesão séria na coluna vertebral tem significado sempre a perda definitiva da capacidade de andar no ser humano, mas o investigador francês Grégoire Courtine está empenhado em apoiar pacientes com paralisia a recuperar a capacidade de andar. Para isso, desenvolveu uma ‘ponte’ eletrónica que pode ser implantada entre o cérebro do paciente e a medula espinhal lombar. Por meio de tecnologia sem fio, e mediante a estimulação elétrica da medula espinhal lombar, o sistema transmite sinais cerebrais para o controlo voluntário dos movimentos. Esta estimulação elétrica utiliza impulsos temporizados que coincidem com os sinais cerebrais para reproduzir movimentos naturais. Em pacientes com paralisia causada por uma lesão parcial da medula espinhal, a estimulação elétrica é reforçada por um sistema robótico de suporte de peso.  A ponte é uma prótese neural com o objetivo de restaurar o controlo voluntário imediato dos músculos da perna e recuperar a marcha com apoio. Por sua vez, isso irá estimular o crescimento dos nervos espinhais e por fim restituir o controlo permanente dos músculos da perna paralisados, eliminando a necessidade da ponte. Courtine já demonstrou que sua ponte espinhal pode funcionar, mas, agora, como próximo passo e validação do conceito, irá conduzir um ensaio clínico com três pacientes que estão paralisados há cerca de um ano, com o objetivo de compreender melhor a relação entre os sinais cerebrais e a estimulação da medula espinhal. A ponte por ele desenvolvida será implantada nos  pacientes e os padrões de estimulação elétrica ajustados para cada um – sendo que poderão assim aprender a andar gradualmente através de um suporte de peso corporal suspenso por uma cinta. A experiência tem como objetivo estabelecer a base tecnológica e conceptual para o desenvolvimento de uma interface cérebro-medula que possa ser totalmente implantada no paciente e que, um dia, se venha a tornar num tratamento médico usado em larga escala.

Brian Gitta (Uganda)

Projeto | Teste rápido não invasivo para substituir exames de sangue na luta contra a malária
Localização | Uganda e Quénia

 Brian Gitta | © Rolex
Brian Gitta | © Rolex Awards for Enterprise

Brian Gitta pretende combater o flagelo mundial da malária através de um dispositivo eletrónico portátil que permite fazer o diagnósticoda doença em menos de dois minutos, sem recurso a análises de sangue. Os testes realizados atualmente requerem uma amostra de sangue, um microscópio e um analista especializado que nem sempre estão disponíveis nos países em desenvolvimento, por isso, o teste desenvolvido por Guitta oferece uma vantagem significativa em termos de rapidez e de conveniência – principalmente tendo em conta que o exame tradicional, de microscopia, leva no mínimo 30 minutos e poderá obrigar ao envio de amostras de sangue para laboratórios distantes. O teste consiste num dispositivo  portátil designado Matiscope no qual o paciente tem de inserir um dedo limpo. Este dispositivo utiliza luz e ímanes para detetar a presença do parasita da malária: na corrente sanguínea esse parasita elimina cristais de hemozoína, que são magnéticos por conterem um átomo de ferro no seu núcleo. Mas além de detetar a presença do parasita através dos ímanes, o dispositivo mede, através de um raio de luz, os sinais físicos associados à presença da malária, nomeadamente, a mudança de cor, forma e concentração das hemácias. O diagnóstico é fornecido rapidamente, podendo ser de imediato partilhado com as autoridades governamentais da saúde, médicos, cientistas e empresas farmacêuticas.  A versão atual do Matiscope consegue atingir uma precisão de diagnóstico de 80% – embora seja preciso melhorar para 90% ou mais para ser mais eficaz em campo. Outro desafio de Guitta passa por convencer os profissionais da área médica e os pacientes de que esta tecnologia não invasiva pode fornecer um diagnóstico confiável e por um custo bem menor do que o exame tradicional. Depois dos ensaios clínicos atualmente levados a cabo para comprovar a confiabilidade em comparação com os métodos existentes, Gitta pretende distribuir o Matiscope em hospitais em toda Uganda, e, em seguida, em países vizinhos, como o Quénia.

Krithi Karanth (Índia)

Projeto | Desenvolver uma linha telefónica de apoio para diminuir os conflitos entre a população e os animais selvagens na Índia
Localização | Índia

Krithi Karanth | © Rolex
Krithi Karanth | © Rolex Awards for Enterprise

O crescimento da população mundial tem-se traduzido num aumento dos conflitos entre seres humanos e a população de animais selvagens, mas Krithi Karanth tem vindo a mostrar que esse problema pode ser minimizado. «Os animais selvagens ignoram as fronteiras traçadas pelos seres humanos, por isso, pessoas e rebanhos são muitas vezes feridos ou mortos e lavouras e equipamentos destruídos. As comunidades, por sua vez, costumam revidar, matando os animais selvagens», explica Karanth. O governo indiano acaba por desembolsar mais de 5 milhões de dólares em indemnizações a agricultores e habitantes de vilarejos pelos danos causados anualmente pelos animais selvagens. Porém, segundo Karanth, os 80.000 casos indemnizados representam uma reduzida parcela dos conflitos, pois o governo não dispõe de recursos suficientes para processar rapidamente todos os pedidos. Sendo assim, em 2015, a conservacionista criou o Wild Seve, um número gratuito que permite aos habitantes de pequenas vilas solicitarem ajuda para fazer pedidos de indemnização por prejuízos causados pelos animais. Este serviço atende atualmente meio milhão de pessoas, sendo que já foram feitos 14.000 pedidos de indemnização, no valor de 200.000 dólares, em nome de 6.400 famílias. O pragmatismo da abordagem contribuiu para melhorar o clima de confiança no seio da comunidade e reduzir a hostilidade aos animais selvagens. Agora, Krithi Karanth deseja alargar o projeto Wild Seve a mais três parques e 1.000 vilarejos da Índia, através do uso de tecnologia móvel para identificar áreas problemáticas e fará testes de campo em 1.000 domicílios situados em áreas de alto conflito usando abrigos à prova de predadores, bem como lavouras e cercas alternativas para reduzir os danos às plantações e aumentar a segurança dos habitantes e de seus rebanhos. Paralelamente, tem a intenção de lançar o Wild Shaale, um programa educativo de preservação destinado a 20.000 crianças de 300 escolas situadas em áreas de alto conflito, como forma de sensibilização.

Miranda Wang (Canadá)

Projeto | Reciclar resíduos plásticos não recicláveis: produção de substâncias químicas úteis a partir de resíduos plásticos
Localização | Estados Unidos

Miranda Wang| © Rolex Awards for Enterprise
Miranda Wang| © Rolex Awards for Enterprise

Tendo em conta que o mundo produz anualmente 340 milhões de toneladas de plástico e que as implicações ambientais desta produção são devastadoras, Miranda Wang propõe um destino mais útil para esses resíduos, valorizando-os através de uma tecnologia inovadora de reciclagem de produtos químicos desenvolvida pela sua empresa, a BioCellection.  Basicamente, a empresa desenvolve tecnologias de reciclagem para transformar plásticos sujos, contaminados e não recicláveis em substâncias químicas renováveis e de boa qualidade, com alto valor para a indústria. Entre essas tecnologias, há um processo para decompor o polietileno em precursores químicos, cuja comercialização pode dar origem a mercados bilionários, já que o polietileno representa um terço do volume total de plásticos produzidos. O processo de Wang é muito mais barato do que a extração das mesmas substâncias do petróleo e multiplica por 40 o valor do resíduo de plástico, além de ser um forte incentivo à sua recolha. «Inventámos um novo processo sustentável e económico para fabricar produtos químicos industriais de alto valor a partir desses resíduos. Conseguimos demonstrar que a qualidade do produto é equivalente à do fabricado com petróleo virgem». Uma das consequências mais notáveis é que o processo de Wang reduz a emissão de dióxido de carbono em comparação com outros processos, reduzindo os resíduos e o impacto ambiental da indústria química. Agora, o objetivo de Wang é desenvolver uma indústria de processamento comercialmente viável. Até 2023, ela e sua equipa pretendem reciclar 45.500 toneladas de resíduos no fabrico de produtos químicos a partir do plástico que, caso contrário, iria parar ao lixo – desta forma poderíamos assistir a uma redução de 320.000 toneladas de emissões de CO2.

Visite o site oficial dos Rolex Awards for Enterprise para mais informações sobre cada um dos projetos vencedores.

Outras leituras