Baselworld 2016: as novidades da coroa

Em Basileia — É inevitável: mal se abrem as portas de cada edição de Baselworld e o primeiro stand a que os visitantes acorrem é o da Rolex. Neste ano, as principais novidades da marca da coroa não foram estruturais e tiveram sobretudo a ver com a afinação de ícones incontornáveis da sua história, com o celebrado Daytona claramente à cabeça ao passo que o modelo novo propriamente dito foi claramente o mais polarizante…

Daytona
Cosmograph Daytona, 2016 ©Rolex/Alain Costa

A Rolex mantém-se como um nome à parte no universo da relojoaria mecânica e continua a ser uma das marcas mais reconhecidas em todo o mundo pelo que qualquer alteração na sua coleção é escrutinada como em mais nenhuma. E, em Baselworld, o primeiro stand onde a maioria dos visitantes vai logo que entra no pavilhão principal (o Hall 1.0) é precisamente o da Rolex. Sim, logo à entrada estão os stands da TAG Heuer e da Zenith à direita, e os da Bvlgari e da Hublot à esquerda; mas o da Rolex, de aparência menos fortificada do que antigamente, é uma espécie de meca que suscita peregrinação até porque as novidades que apresenta anualmente em Baselworld são sempre rodeadas de um segredo inviolável.

Baselworld 2016, stand Rolex. Fotografia Christophe Chamartin © MCH Messe Schweiz AG
Baselworld 2016, stand Rolex. Fotografia Christophe Chamartin © MCH Messe Schweiz AG

Por vezes o segredo é bem trabalhado. Este ano, com a adesão da marca genebrina às redes sociais (já estava no Facebook há algum tempo; arrancou com o Instagram no final de 2015), já se sabia que haveria novidades relacionadas com o Oyster Perpetual Cosmograph Daytona devido a vários teasers publicados e também à frequente recordação da história do histórico cronógrafo. Os indícios confirmaram-se com a apresentação de um novo modelo em aço nas tradicionais duas variantes de mostrador branco ou preto que mantém a arquitetura da caixa e o tamanho, mas com uma espetacular luneta negra em Cerachrom com graduação fina de extraordinária precisão graças a um revestimento em platina através do procedimento PVD que torna extremamente legível a sua graduação (a escala taquimétrica que permite medir velocidades médias até 400 milhas ou quilómetros por hora).

©Rolex/Alain Costa
Rolex Cosmograph Daytona ©Rolex/Alain Costa

A luneta em cerâmica monobloco é extremamente durável e resistente tanto aos raios UV como à corrosão. A opção pelo negro dá uma aura estética completamente diferente ao visual que o Daytona tradicional em aço vinha apresentando nas últimas duas décadas. Os diversos toques no grafismo do mostrador incluem, na versão de mostrador branco lacado, anéis pretos nos submostradores que oferecem ao conjunto um toque mais vintage, mais reminiscente do Daytona original de 1965 (ref. 6240) e de uma famosa versão posterior (ref. 6263); o mostrador preto apresenta anéis acizentados. Todas as aplicações são em ouro com a inclusão de matéria luminescente Chromalight.

Rolex Cosmograph Daytona
Rolex Cosmograph Daytona
Wristshots Rolex Cosmograph Daytona © Espiral do Tempo / Miguel Seabra

É certo que o tamanho da caixa (em aço 904L) mantém o diâmetro de 40 mm que até puxa um pouco para os 39 mm, quando muitos esperariam uma versão um pouco maior à semelhança do que sucedeu com o Explorer (o Explorer I passou de 36 para 39 mm em 2010; pouco depois o Explorer II foi de 40 para 42 mm) e porque a média do diâmetro dos relógios aumentou claramente desde o lançamento da vigente caixa Daytona, na década de 90, mas a Rolex sempre evitou mexer no tamanho do seu lendário cronógrafo até mesmo no auge da moda sobredimensionada (a meio da década passada) e é incontornável que a nova versão do Daytona, apesar do mesmo diâmetro, fica melhor com o seu tamanho devido ao visual ligeiramente rétro. Por vezes, pequenos detalhes fazem mesmo uma grande diferença.

Rolex Air-King
Rolex Air-King ©Rolex/Alain Costa

Mas se o novo Daytona era aguardado com uma ânsia quase messiânica, o Oster Perpetual Air-King acabou por assumir protagonismo devido ao seu inesperado lançamento e à surpresa que as soluções apresentadas no mostrador suscitaram e pode mesmo dizer-se que acabou por ser o relógio mais polarizante e controverso de Baselworld, chegando mesmo a granjear o epíteto de Frankenwatch devido à ‘estranha’ convivência de algarismos dos minutos estampados (5, 15, 20, 25, 35, 40, 50, 55) com algarismos das horas (3, 6, 9) aplicados em relevo. Para mim, essa alternância decididamente bizarra é muito mais controversa do que a inédita utilização do amarelo para o logótipo da coroa e do verde para o nome da marca. O ponteiro dos segundos também surge em verde, a cor corporate da casa genebrina.

Rolex Air-King
Rolex Air-King ©Rolex/Alain Costa

A inscrição Air-King regressa assim ao catálogo após uma ausência de décadas e com o grafismo original da década de 50, quando a Rolex criou um novo modelo associado à aeronáutica e a valorização da leitura dos minutos com os respetivos algarismos em destaque tem precisamente a ver com a importância mais imediata dessa informação no que diz respeito aos tempos de navegação. A primeira expedição a sobrevoar o Evereste usou precisamente relógios Oyster no pulso, em condições climatéricas extremas (sobretudo a mais de 10 mil metros de altitude e para as aeronaves da altura).

Rolex Air-King
Wristshots Rolex Air-King © Espiral do Tempo / Miguel Seabra

Para além da polémica no plano estético, convém realçar que o novo Air-King passa a ser o modelo com preço de entrada na linha Professional, abaixo do Explorer mas com um significante pormenor técnico: está dotado de uma caixa interior anti-magnética semelhante à do Milgauss, para evitar os efeitos perniciosos dos campos magnéticos. O fecho Oysterclasp não é tão bom como o Oysterlock de vários ‘irmãos’ da linha Professional mas, por exemplo, o diâmetro de 40 milímetros parece ser o mais ideal para todos os tipos de pulso masculinos e seguramente que haverá igualmente muitos pulsos femininos que o irão receber…

Rolex Explorer
Rolex Explorer ©Rolex/Alain Costa

Ainda na linha Professional, mas de modo muito mais discreto, também o Explorer foi afinado. Manteve a caixa de 39 milímetros mas os ponteiros foram redesenhados de modo a serem mais longos e cheios (o facto de serem curtos foi logo apontado pelos especialistas aquando da atualização estrutural do modelo, em 2010), enquanto os emblemáticos algarismos 3-6-9 em revelo passam a ser preenchidos com a mesma matéria luminescente Chromalight dos indexes das horas.

Rolex Explorer
Wristshots Rolex Explorer © Espiral do Tempo / Miguel Seabra

Aquele que, para muitos, representa o espírito da Rolex  essência instrumental, limpidez de grafismo, história ligada à conquista do Evereste  surge agora numa versão praticamente perfeita e preparada para muitos e bons anos de permanência no catálogo da marca.

Rolex Explorer
Rolex Explorer ©Rolex/Alain Costa

Até porque o novo Explorer, tal como todos os outros novos modelos da Rolex, traz consigo duas valências vigentes desde o verão de 2015  uma garantia de 5 anos e uma nova precisão Chronomètre Superlatif que ultrapassa largamente os apertados critérios cronométricos do COSC (a bitola da Rolex passou a ser de -2 e +2, com testes feitos aos movimentos e depois feitos aos movimentos já dentro das respetivas caixas do relógio), e ainda um novo selo verde que passa a acompanhar cada relógio Rolex a partir de agora  substituindo o histórico selo Bordeaux.

Rolex Day-Date 40 e selo verde
Day-Date 40 e selo verde Rolex ©Rolex/Jean-Daniel Meyer

Ainda dentro da linha Professional, o Oyster Perpetual Yach-Master recebeu uma nova e prestigiada versão de 40 milímetros de diâmetro  combinando aço 904L com ouro Everose de 10 quilates e sendo equipada com um mostrador chocolate. Já em 2015 a Rolex tinha alargado a oferta de modelos do seu modelo de inspiração mais náutica com um tamanho mais pequeno (37 mm) e a apresentação de braceletes de borracha.

Rolex Yacht-Master 40
Rolex Yacht-Master 40 ©Rolex/Alain Costa

Claro que a Rolex também apresentou novas versões e atualizações fora da sua linha Professional. E importantes, sempre dentro do espírito de ‘mudar sem parecer que se muda’ que carateriza a marca por exemplo, o Datejust 41 foi afinado tanto no seu design como melhorado no plano mecânico com a adoção do novo calibre 3235. Nos novos modelos ‘bicolores’ (designados Rolesor, combinação do aço com ouro) surge também a bracelete Jubilé (com elos mais pequenos no centro) a complementar a mais comum bracelete Oyster de três elos.

Rolex Datejust 4
Rolex Datejust 41 ©Rolex/Alain Costa
Rolex bracelete Jubilé
Bracelete Jubilé ©Rolex/Thomas Hensinger

De resto, foram igualmente apresentadas mais versões Pearlmaster e Cellini, sendo de destacar o importante investimento da marca em calibres de pequena dimensão para modelos femininos mais pequenos (como o novo Lady-Datejust 28) dotados de maior precisão graças à espiral Syloxi em silício. Tradicionalmente, a miniaturização dos calibres de reduzida dimensão impede a mesma precisão de movimentos maiores e mais estáveis a obsessão da Rolex pela precisão está também a refletir-se cada vez mais nos seus relógios femininos mais pequenos, sobretudo os de diâmetro abaixo dos 30 milímetros. ET_simb

Rolex Lady-Datejust 28
Rolex Lady-Datejust 28 ©Rolex/Alain Costa

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