Baseado num antecessor premiado, o novo Récital 30 da Bovet é um relógio superlativo e tem tudo para ser o melhor worldtimer lançado em 2025. Fomos descobri-lo com a ajuda de alguém que já foi o melhor tenista do mundo.
Nada melhor do que um viajante para apresentar um worldtimer. Daniil Medvedev tem passado uma grande parte da sua vida a fazer as malas e a competir em torneios de ténis por esse mundo fora — tendo mesmo sido número um mundial e conquistado vinte troféus no circuito ATP, dos quais um título do US Open entre seis finais do Grand Slam que jogou, o ATP Finals de encerramento de época, seis títulos Masters 1000 e ainda a Taça Davis em representação do seu país. É também embaixador da Bovet desde o verão de 2019 e a associação deu-lhe sorte porque exatamente foi a partir dessa altura que a carreira do moscovita há muito radicado em França passou para um patamar superlativo.

Também a Bovet se encontra num patamar superlativo. Pascal Raffy, dono da marca sediada no Castelo de Môtiers (perto de Fleurier e no Val de Travers) é um grande adepto do ténis e tem fomentado essa qualidade de alta relojoaria que já valeu à Bovet tantos troféus no Grand Prix d’Horlogerie de Genève — o último dos quais na categoria de Exceção Mecânica da edição de 2024 através do Récital 28 Prowess 1. E é precisamente o inovador sistema de horas mundiais com roletes desse Récital 28 Prowess 1 que constitui a base do novo Récital 30 Worldtimer, que pode muito bem valer uma nova estatueta dos ‘Óscares da Relojoaria’ em 2025, na categoria da Complicação Masculina.

E perspetiva-se que seja premiado porque, antes do Récital 28 e do Récital 30, todos os relógios mundiais apresentavam erros durante o Horário de Verão e esses dois modelos da Bovet resolvem o problema — sendo que o novo Récital 30 é ainda extraordinariamente apelativo no plano estético. Normalmente, os utilizadores ou colecionadores têm de acertar os seus relógios worldtimer para os países que mudam ou para os países que não mudam de hora entre o verão e o inverno (apenas cerca de um terço das mudanças mundiais, 70 países de 195) — de qualquer forma, uma grande parte do mundo estava sempre errada…

O grande avanço da técnica relojoeira para resolver mecanicamente esse problema foi a decisão de usar roletes em vez de um mostrador convencional. E conceber relógios mecânicos perfeitos para o viajante sofisticado.
Engenhosa solução
Como as datas de mudança do Horário de Verão nos EUA e na Europa não são fixas de ano para ano, era impossível fazê-lo da maneira tradicional. Os 24 rolos de cidades são impressos em quatro lados, e o rolo de período de tempo é impresso com os quatro períodos diferentes: UTC, Horário de Verão Americano (AST), Horário de Verão Europeu e Americano (EAS) e Horário de Inverno Europeu (EWT). Ao pressionar-se o botão superior do Récital 30, todos os rolos giram 90 graus em simultâneo. As cidades que não mudam para o Horário de Verão são impressas quatro vezes para essa cidade (por exemplo, Pequim), e as cidades que mudam, como Genebra, são impressas três vezes para Genebra e uma vez para a cidade ao lado dela (no caso de Genebra, Londres). Assim, Genebra e Londres mudam de posição no mostrador quando entram no Horário de Verão.

«O Récital 30 sempre esteve na minha ideia, desde o início da nossa pesquisa para solucionar o problema do Horário de Verão, que começou há seis anos», sublinha Pascal Raffy. «Quando me sento no pátio do nosso Château de Môtiers, penso sempre em relógios úteis e significantes. No pulso, precisamos de ter a indicação do tempo, e é mais importante do que nunca tê-la conectada ao mundo, que se tornou tão pequeno e acessível hoje em dia. Eu queria oferecer aos nossos colecionadores um relógio muito intuitivo para os guiar e lembrá-los de onde vieram e para onde vão. Complicado, mas simples de usar, o Récital 30 é o resultado da inovação, da extraordinária atenção aos detalhes, do conhecimento excecional e do fator humano de todos os nossos artesãos, exibindo as qualidades únicas da Bovet».

Ou seja, o Récital 30 permite que viajantes do mundo inteiro exibam com precisão os fusos horários globais durante os quatro períodos do ano – portanto, nunca erra. O seu ‘progenitor’ Récital 28 foi limitado a um total de 60 movimentos, já que a sua complexidade implica que apenas seis possam ser fabricados artesanalmente a cada ano. No entanto, o Récital 30, que foi desenvolvido em conjunto com o seu parente ao longo de mais de seis anos, não é tão limitado dessa forma. Muito raramente um relógio começa a sua vida na sua versão mais complexa, mas foi o que sucedeu com o Récital 28 (muito complexo e muito limitado); o Récital 30 vem agora democratizar essa tão inovadora solução de Horário de Verão e enfatiza os elementos essenciais para acompanhar a hora mundial: os rolos de hora mundial cobrem quase todo o mostrador, assumindo o protagonismo do relógio; no centro, há ainda um indicador dia/noite vinculado à hora local. Mas não é tudo…
O fuso esquisito
O planeta está dividido em 24 fusos horários, mas há mais divisões oficiais. Por exemplo, a Índia tem um fuso horário intermédio de 30 minutos e Pascal Raffy quis incluir essa nuance horária no mostrador. A indicação de Nova Deli surge a preto no mostrador com um indicador amarelo, e o ponteiro dos minutos amarelo da mesma cor está vinculado aos minutos de Nova Deli (com o seu peculiar deslocamento de 30 minutos).

Obviamente, o interesse tem a ver com o facto de a Índia ter passado a ser o país mais populoso do mundo e com uma economia cada vez mais pujante. «A Índia é um país em rápido crescimento no cenário global, e eu queria homenagear essa cada vez mais relevante região no Récital 30», diz Pascal Raffy. «Os colecionadores na Índia são muito conhecedores e exigentes em relação à verdadeira excelência relojoeira, pelo que fiquei orgulhoso de incluir esse exclusivo deslocamento de 30 minutos, algo raramente feito anteriormente na relojoaria».

É mesmo um relógio vocacionado para alguém em trânsito permanente como Daniil Medvedev, que apresenta uma peculiaridade inverosímil no seu currículo: ganhou os seus 20 títulos em 20 cidades distintas! Mas já é certo e sabido que não ganhará outra vez o US Open em Nova Iorque na edição que se conclui no próximo dia 7 de setembro: perdeu precocemente, num duelo em cinco sets cheio de peripécias e casos de arbitragem.

O carismático russo é extremamente competitivo e apresenta não só um estilo de jogo muito peculiar como também uma personalidade surpreendente, o que por vezes causa fricção com o público e os opositores. Tem usado vários modelos da Bovet, mas adotou recentemente o Récital 30 em titânio.
Outro capítulo
Para além do desenvolvimento mecânico, o Récital 30 traz consigo outra novidade: pela primeira vez, a Bovet abdica do seu histórico fornecedor para assumir o fabrico das próprias caixas de relógios nas suas instalações em Tramelan. Todas as caixas de titânio do Récital 30 são inteiramente fabricadas internamente, enquanto as caixas de ouro rosa 18k serão produzidas na manufatura de Tramelan a partir de 2026.

Para qualquer marca de alta relojoaria, é importante fabricar o máximo de componentes internamente para manter um controlo de qualidade absoluto — acompanhando a exigência absoluta requerida às peças dos movimentos, as caixas são o invólucro que se deseja perfeito para qualquer exemplar da melhor arte relojoeira. O fabrico artesanal das caixas do Récital 30 internamente significa uma interação aprimorada entre o departamento técnico, os engenheiros, a equipa de produção e os mestres relojoeiros. «Tenho de estar sempre a oferecer novos desafios aos meus artesãos», diz Pascal Raffy. Na Bovet, combinamos arte e inovação, e realizamos o excecional todos os dias. A caixa do Récital 30 é um exercício de design que integra um vidro de safira abaulado e ponteiros moldados, evocando uma janela para o universo, enquanto o relógio em si tem um visual e uma sensação vintage inegáveis. Sabia desde o início que a caixa e o design geral do Récital 30 tinham de ser excecionais e inesperados».
Personalização
Graças à ênfase da Bovet na produção verticalizada e no toque humano, a Maison relojoeira dirigida por Pascal Raffy está aberta à personalização e a pedidos de relógios sob medida. Sem linhas de montagem e com todos os componentes passando pelas mãos dos artesãos da Bovet (até as espirais são da casa, com produção própria dirigida por um português), versões personalizadas dos relógios da marca são sempre bem-vindas e incentivadas. O Récital 30 apresenta-se especialmente convidativo para ser personalizado à vontade do freguês: os colecionadores podem alterar os nomes das cidades, escolher entre diversas cores para o mostrador de 24 horas e o ponteiro dos minutos, ou até mesmo trocar a versão indiana pela versão universal, ou vice-versa, caso se mudem de uma região para outra no futuro.

Essa personalização também se estende às correias. De série, a variante em ouro rosa do Récital 30 vem com uma correia em pele de aligátor; já a versão em titânio surge equipada com uma bracelete em cordura azul-clara — uma interessante opção que lhe dá um ar especialmente leve. Mas a Bovet disponibiliza um alargado naipe de soluções de correia para qualquer um dos dois modelos.
Primeiras impressões
A primeira vez que vimos o Récital 30 Worldtimer tivemos a noção imediata que se tratava de uma peça notável tanto no plano estético como técnico, sendo que a forma ao serviço da função poderia perfeitamente valer-lhe um prémio no Grand Prix d’Horlogerie de Gèneve de 2025 e/ou em qualquer dos vários concursos de relógio do ano por esse mundo fora. O diâmetro não é pequeno (42mm), mas as asas são curtas e ‘veste’ muito bem; para mais, o diâmetro é perfeitamente aceitável tendo em conta a complexidade mecânica e a área de mostrador necessária para uma boa leitura dos múltiplos fusos horários mundiais.

Ou seja, o Récital 30 Worldtimer é um dos melhores relógios jamais lançados pela Bovet (mesmo não sendo tão complicado como muitas das outras realizações da marca) e seguramente um dos melhores worldtimers da presente década. Chapeau! Para mais, a produção — embora não limitada — é restrita: são manufaturados somente 30 exemplares por ano.
Algumas caraterísticas técnicas:
Bovet
Récital 30 Worldtimer
Ano de lançamento | 2025

Movimento | Calibre R30-70-001 de manufatura, carga automática, 373 componentes; frequência de 28.800 alternâncias/hora; autonomia de 62 horas; horas, minutos, horas mundiais em rolos, indicador dia/noite; ponteiro dos minutos suplementar
Funções | Horas, minutos, segundos, horas do mundo.
Caixa Ø 42mm | ouro rosa ou titânio de grau 5; espessura de 12,9mm; acabamento escovado e polido; vidro de safira convexo com tratamento antirreflexos; fundo transparente em vidro de safira; coroa com cabochon; estanque até 30 metros.
Mostrador | convexo; 26 rolos pretos em PVD (24 fusos horários mais dois); mostrador worldtimer off-white; disco azul guillochado à mão no centro com abertura para indicação dia/noite e tempo de origem; anel periférico off-white para a escala dos minutos; indicação do tempo de Nova Deli no anel dos minutos com indicação em flecha; ponteiro adicional dos minutos
Bracelete | pele (couro ou aligátor) ou borracha com textura segundo vontade do cliente
Preço | CHF 68.000 (titânio); CHF 96.800 (ouro rosa)