A história de como um relógio pode personificar alguém muito especial. O nosso leitor Miguel Isaac fala-nos do Breitling Navitimer Cosmonaute do seu avô, mecânico de aviões, que acabou por permanecer na família enquanto relógio que é muito mais do que um relógio — motivando a aquisição de uma versão mais recente, dotada de uma carga simbólica que também faz dela um objeto repleto de significado.
Assim que percebi que a Espiral do Tempo tinha um espaço dedicado às histórias dos seus leitores, fui invadido por uma enorme vontade de contar a nossa, a da minha família, e de como um relógio nos marcou de tal forma que acabou por iniciar uma tradição que se manterá, certamente, por muitas gerações.
A ideia de deixar esta história preto no branco, quer seja numa página da web (de onde nunca nada se apaga definitivamente, como sabemos) ou de uma revista em papel que une tantos entusiastas e apaixonados pela relojoaria, fez com que me convencesse em apenas alguns segundos.
O Breitling do avô
Tudo começou com o Breitling Navitimer Cosmonaute do meu avô, datado do início da década de 60. Ele tinha outros relógios, mas desde sempre que aquele foi ‘o’ seu relógio. Aquele que os filhos e netos viam no seu pulso sempre que o imaginavam. E mesmo além da imaginação, lembro-me de, sempre que estávamos com ele — sobretudo nos dias mais marcantes como aniversários ou no Natal —, tentarmos imediatamente perceber se o tinha no pulso. O charme daquele cronógrafo condizia na perfeição com ele, tudo batia tão certo!
O meu avô foi mecânico de aviões da companhia aérea americana TWA — entretanto comprada pela American Airlines e extinta. E lembro-me como se fosse hoje de andar com ele pelos hangares e até entrar em aviões e ficar maravilhado com os cockpits repletos de instrumentos indecifráveis. Sempre que o acompanhava sentia-me noutro mundo! Adorava o respeito com que todos os colegas tratavam o ‘Senhor Isaac’ e de como aquele Breitling brilhava no seu pulso.
Lançado em 1952, o Navitimer rapidamente se tornou num instrumento favorito dos profissionais da aviação; graças às suas réguas de cálculo circulares, permitia aos pilotos determinar velocidades médias, o consumo de carburante e outros valores inerentes à sua atividade. O Navitimer do meu avô é de 1962 e a sua caixa de 40mm, um diâmetro perfeitamente normal nos dias de hoje, fazia com que na altura fosse considerado um modelo imponente.
A caixa dourada, os clássicos submostradores claros contrastantes, o mostrador de 24 horas — sobrelotado de informação — e o logótipo com dois aviões representados encantavam-me e criavam uma associação lógica na minha cabeça: este é o relógio de quem trabalha nos aviões. Hoje em dia seguro-o na mão enquanto observo cada um dos seus detalhes e volto a apreciá-lo exatamente da mesma maneira, acrescentando apenas outros detalhes particularmente interessantes como o facto de ser relativamente raro ver este tipo de mostrador, que combina as duas inscrições icónicas do modelo — ‘Navitimer’ e ‘Cosmonaute’ — e sobretudo a pátina de quase 60 anos a dar-nos o seu tempo. A Breitling registou a designação ‘Cosmonaute’ e produziu esta versão peculiar com mostrador de 24 horas, criada na perspetiva das primeiras missões espaciais, até meio da década de 60. Em 2012 a marca lançou uma edição limitada do Navitimer Cosmonaute para celebrar os 50 anos do voo Mercury Aurora 7.
Ter o Navitimer Cosmonaute na mão ou no pulso é relembrar-me do meu avô, de tudo o que vivi com ele e do quanto viajei nas histórias que me contava sobre as muitas viagens em trabalho — algumas delas terei ouvido seis, sete ou oito vezes, mas ouvia-as sempre com o entusiasmo da primeira vez, e em todas o imaginei com o seu Breitling no pulso. Como o estou a imaginar agora enquanto escrevo este texto.
Um novo Navitimer
Quando o seu neto mais velho (o meu irmão) casou, o meu avô ofereceu-lhe orgulhosamente o relógio. E passados alguns anos, depois de nos ter deixado, comecei insistentemente a pensar que era uma pena só haver na família um relógio com uma simbologia desta dimensão, que falasse sobre quem o usou às gerações que aí virão. Até que houve um dia em que a minha mãe me confidenciou que gostava de oferecer ao meu pai um presente especial este ano, pelo 40º aniversário de casamento. Nesse momento fez-se luz e sugeri-lhe que lhe oferecesse um Breitling Navitimer, algo que certamente adoraria e que iniciaria, assim, uma tradição familiar.
Apesar de ser apreciador e de ter usado sempre relógios, nunca nenhum relógio mecânico convenceu totalmente o meu pai — exceto o Breitling Navitimer! Sempre que em família falávamos de relógios lá dizia ele: “sim, é giro, mas não é o Navitimer”. No dia em que o recebeu, no final de um jantar no mítico Café de São Bento, em Lisboa, vimos todos o brilho nos seus olhos enquanto o colocava no pulso, e tivemos a certeza de que o início desta “nova tradição” estava assegurado.
Estreado em 2018 e com 43mm de diâmetro, este Navitimer contemporâneo é muito diferente daquele que o meu avô nos passou, mas o ADN está bem presente no design e na funcionalidade. Para além do movimento cronográfico B01, idealizado e manufaturado pela Breitling e que pode ser visto através de um vidro de safira, saltam claramente à vista outras diferenças como a caixa de maior dimensão em aço (que acaba por fazer sentido tratando-se de um relógio utilitário), um logótipo minimalista que contribui para um mostrador mais clean e ainda o ponteiro cronométrico em vermelho. Mas não menos importante que tudo isto, é mesmo o que este relógio vai significar para os nossos filhos e netos daqui a 60 anos — como significa para nós o Breitling Navitimer Cosmonaute do meu avô, o ‘Senhor Isaac’.