Guy Bove: o fleumático

Na sequência da apresentação de designers de grande relevância na área da relojoaria, e depois de Eric Giroud, de Emmanuel Gueit e de Jorg Hysekapresentamos esta semana o perfil do fleumático Guy Bove — que tem trabalhado em alguns dos mais importantes projetos relojoeiros do mercado há mais de uma década e é atualmente diretor de produto da TAG Heuer.

Nasceu em Nova Iorque, mudou-se para a Suíça em criança e dá a ideia de ser britânico pela maneira pausada de falar, seleção de palavras e fleumatismo. Guy Bove tem 48 anos, mas há mais de uma década que tem trabalhado em alguns dos mais importantes projetos relojoeiros do mercado — primeiro na IWC, com a atualização da linha Ingenieur em 2005, no 30º aniversário do design original de Gerald Genta; depois na Chopard, onde desenvolveu a estética L.U.C e estreou o design da nova sister company Ferdinand Berthoud; e mais recentemente como diretor criativo na Breitling a partir da nova direção de Georges Kern, ao lado de quem «num ano, fiz o trabalho de quatro anos». Juntou-se à TAG Heuer enquanto diretor de produto em novembro de 2018. «O meu primeiro relógio bom foi um TAG Heuer, um Série 2000. E o primeiro relógio que desenhei foi um TAG Heuer. Por isso, acho que é o destino».

Guy Bove é o novo Diretor de Produto da TAG Heuer. Na presente década, destacou-se com a estética singular da Ferdinand Berthoud e aprecia relógios de forma — como o Monaco que tem no pulso. © DR
Ao longo da última década, Guy Bove destacou-se com a estética singular da Ferdinand Berthoud e aprecia relógios de forma — como o Monaco que tem no pulso. © DR

Foi sob a sua supervisão que a TAG Heuer lançou os cinco modelos Monaco em edição limitada que no ano passado celebraram as cinco décadas de vida do lendário cronógrafo quadrilátero — um relógio de forte personalidade e diferente de qualquer outro. «Entre os anos 40 e 70 via-se claramente um overlapping entre as marcas por partilharem os mesmos fornecedores de mostradores e de caixas», recordou. «A grande diferença para hoje é que atualmente usa-se mais o nome do relógio para diferenciar uma linha de produto e dentro de uma mesma linha são lançados diversos modelos para criar uma espécie de universo.»

As cinco edições especiais que a TAG Heuer lançou este ano para celebrar os 50 anos do cronógrafo. Todos lançados em edições limitadas a 169 exemplares. ©TAG Heuer
As cinco edições especiais que a TAG Heuer lançou para celebrar os 50 anos do cronógrafo. Cada qual limitada a 169 exemplares .

Guy Bove começou por trabalhar numa agência e depois vinculou-se exclusivamente às marcas para que trabalhou, mas não acha que haja grande diferença: «Não é tão relevante uma marca ter designers próprios ou recorrer a designers exteriores, tudo depende da qualidade do trabalho. Importante mesmo é o que a companhia decidiu fazer e a partir daí o sucesso do produto está associada a uma combinação de factores. Tenho trabalhado nas marcas, mas sei de muitos relógios bem conhecidos de marcas importantes que foram desenhados por pessoas no exterior.»

Guy Bove — que tem trabalhado em alguns dos mais importantes projetos relojoeiros do mercado há © Ferdinand Berthoud
Nos tempos em que trabalhava para a Chopard e Ferdinand Berthoud © Ferdinand Berthoud

E qual é o selo pessoal de Guy Bove? «Gosto de desenhar relógios que vão crescendo em nós», refere. «Gosto de desenhar coisas como se fossem vistas através da lente de uma câmara porque gosto da interação com a luz, por isso os meus relógios não são tão diretos; têm sempre detalhes de que nos vamos apercebendo ao longo do tempo. Como o anel de safira dos segundos no Ferdinand Berthoud.» A geométrica caixa modular do Chronomètre FB 1 da Ferdinand Berthoud é um notável exercício de design: «Gosto de relógios de forma, de relógios que não são redondos. Como o Engine One da Chopard ou os Ingenieur de 2005 quando a IWC relançou o modelo através de uma coleção.»

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Chronomètre FB 1 da Ferdinand Berthoud | © Ferdinand Berthoud

Com um ícone dos relógios de forma como o Monaco entre mãos agora na TAG Heuer, vai seguramente ter muito com que se entreter. E não só: está também a trabalhar na incorporação do calibre Heuer 02 em cada vez mais modelos, o que implica mudanças nos mostradores porque o layout dos totalizadores é diferente.

Versão completa e adaptada do perfil originalmente publicado no número 69 da Espiral do Tempo (inverno 2019).

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