Celebração em grande: Breguet Experimentale 1

A Breguet está a acabar em grande o ano do seu 250º aniversário: após a conquista do galardão máximo no Grand Prix d’Horlogerie de Genève, introduziu algo de revolucionário no seu Experimentale 1 de mostrador regulador.

Abraham-Louis Breguet (1747-1823) é considerado como o maior relojoeiro de todos os tempos e as invenções por si implementadas a partir de 1775, como o turbilhão, o calendário perpétuo, o escape natural, o escape de força constante, a espiral de terminal curvo, são vistas como fundamentais para a evolução da relojoaria mecânica — sendo mesmo comum dizer-se que, depois dele, pouco mais se inventou no setor. Claro que isso é uma hipérbole destinada a sublinhar a relevância do grande mestre francês, mas muitos dos principais marcos relojoeiros têm mesmo a sua chancela… e o seu nome transformou-se naturalmente em marca. Tendo em conta precisamente os pergaminhos da Breguet, os analistas vinham pedindo maior proatividade ao longo da última década; as suas preces foram ouvidas com a ascensão de Gregory Kissling ao cargo de CEO, em outubro de 2024.

Grand Prix d'Horlogerie de Genève 2025:CEO da Breguet Gregory Kissling
Gregory Kissling e o prémio mais apetecido do GPHG para a Breguet | Foto: GPHG

Obviamente que projetos de relevância relojoeira são processos que levam vários anos a desenvolver, mas foi já sob a égide de Gregory Kissling que a Breguet, neste ano do seu 250.º aniversário, ganhou o galardão máximo do Grand Prix d’Horlogerie de Genève com o bonito Classique Souscription e surpreendeu tudo e todos com o recém-lançado Experimentale 1, um relógio que estreia uma nova linha de vanguarda impulsionada pela pesquisa e desenvolvimento da marca. Para além de modernizar a gama Marine, apresenta os mais recentes avanços técnicos da marca: um turbilhão de alta frequência sem precedentes e um novo escape de força constante baseado em magnetismo controlado.

Inesperado e tecnicamente avançado, o Experimentale 1 celebra os 250 anos da assinatura Breguet | Foto: Breguet
Inesperado e tecnicamente avançado, o Experimentale 1 celebra os 250 anos da assinatura Breguet | Foto: Breguet

É fácil recorrer a lugares-comuns e dizer que o Experimentale 1 representa uma ponte entre o passado e o futuro, uma simbiose entre tradição e inovação. O certo é que Abraham-Louis Breguet é mesmo inspirador e o seu virtuosismo audaz dá o mote para o desenvolvimento de um programa que visa mostrar do que a Breguet (e, consequentemente, o Swatch Group) é capaz na área da pesquisa e do desenvolvimento — especialmente na vertente dos materiais, eletromagnetismo, mecânica vibratória e acústica. O Experimentale 1 é simultaneamente o primeiro modelo associado ao novo programa de P&D e o último relógio comemorativa do 250.º aniversário da marca, reunindo múltiplos fatores emblemáticos: a homenagem à nomeação de Abraham-Louis Breguet para o Bureau des Longitudes de Paris em 1814, quando lhe foi concedido o título de Horloger de la Marine Royale; uma reengenharia da sua maior invenção, o turbilhão (a patente é de 26 de junho de 1801); e a evolução do trabalho sobre magnetismo iniciado em 2013 com o Classique Chronométrie 7727 e recentemente aperfeiçoado com o Classique 7225.

Magnetismo e precisão

Tecnicamente, o turbilhão de alta frequência de 10 Hz e o escape magnético de força constante assumem o protagonismo no Experimentale 1. Normalmente, o magnetismo é um fator desregulador de qualquer movimento mecânico, mas os referidos Classique Chronométrie 7727 e Classique 7225 vieram mostrar que esse fenómeno pode ser aliado da relojoaria (como algumas outras marcas também já tentaram demonstrar). Ambos os relógios usam um pivô magnético com dois micro-ímãs a gerarem campos magnéticos opostos para manter o eixo do balanço perfeitamente centrado. Teoricamente, essa solução elimina praticamente o erro de posicionamento, aumenta drasticamente a resistência a choques e permite uma frequência de 10 Hz com desgaste mínimo graças ao reduzido atrito. Um contexto de sonho.

desenhos históricos e técnicos de Abraham-Louis Breguet para o Breguet Experimentale 1
Sketches históricos de Abraham-Louis Breguet dos finais do século XVIII | Foto: Breguer

Pois bem, o Experimentale 1 tem por base os progressos alcançados durante o desenvolvimento e aperfeiçoamento do conceito de pivô magnético, mas traz o magnetismo controlado para o escape de modo a aumentar significativamente a precisão. Normalmente, a demanda pela precisão envolve pelo menos três variáveis: a primeira decorre da amplitude normalmente inconsistente do balanço (no arco da reserva de carga, o torque diminui e torna-se impossível manter uma amplitude constante se a energia recebida não for consistente); a segunda é o efeito da gravidade sobre o órgão regulador (balanço e espiral), que Abraham-Louis Breguet resolveu com a invenção do turbilhão (um dispositivo que coloca o órgão regulador numa gaiola em constante rotação que anula o efeito da gravidade); o terceiro é a resistência a choques e impactos que afetam o funcionamento regular do relógio. O Experimentale 1 foi concebido para resolver essa charada tripla.

O mostrador de tipo regulador e o Calibre do Breguet Experimentale 1
O mostrador de tipo regulador do Experimentale 1 e a ‘explosão’ do Calibre 7250 | Fotos: Breguet

Para o Experimentale 1, a Breguet desenvolveu um turbilhão de 10 Hz com escape magnético de força constante; nele, o magnetismo serve para imprimir um impulso estável ao balanço durante todo o arco da reserva de corda, para além de desacoplar a função de impulso da rotação da roda de escape, da gaiola do turbilhão e do restante trem de engrenagens. O dispositivo revolucionário consiste em duas rodas de escape, cada qual equipada com uma pista magnética, em cujo centro bate uma âncora com âncoras igualmente magnéticas. O conceito baseia-se nos escapes de força constante. Abaixo de um determinado torque, o turbilhão pára rapidamente; acima desse limite, o balanço oscila na sua amplitude máxima. O novo escape também permite desacoplar os impulsos transmitidos ao balanço da rotação da roda de escape e, consequentemente, do resto do trem de engrenagens. Ao contrário de um movimento de âncora suíço, a inércia da gaiola do turbilhão praticamente não tem influência. Ao separar essas duas funções, a Breguet conseguiu criar um turbilhão com um oscilador de 10 Hz nessas dimensões, dando também liberdade ao design — por exemplo, deslocando o balanço relativamente ao centro de rotação da gaiola.

O dispositivo turbilhão e o mostrador de tipo regulador do Breguet Experimentale 1
O dispositivo turbilhão surge às 12 horas, por baixo do submostrador dos segundos | Fotos: Breguet

A construção do mecanismo de escape também é peculiar. Entre as duas rodas de escape equipadas com uma pista magnética, uma roda intermediária garante que o dispositivo não sofra saltos indesejados. A maioria dos outros componentes do turbilhão não são magnéticos, a fim de evitar qualquer interação que possa interferir com o seu funcionamento suave. A espiral do balanço é feita de silício, a quarta roda fixa é concebida em LIGA (NiP12) e os demais componentes de titânio ou Nivagauss. Aparentemente, a solução parece tradicional: há uma âncora e uma alavanca, mas não há necessidade de um remontoire d’égalité como dispositivo de força constante porque a âncora é acionada por magnetismo — ou seja, o impulso é feito sem contacto, reduzindo o atrito ao máximo. E é essa solução que cria a força constante, por não ter atrito ou influência do estado de enrolamento e do torque da mola principal.

Abraham-Louis Breguet criador do oscilador balanço espiral bimetálico.
Abraham-Louis Breguet é considerado o maior relojoeiro de todos os tempos | Fotos: DR

Se a maioria dos turbilhões funcionam a 2,5 Hz, 3 Hz ou 4 Hz e o padrão de  alta frequência na relojoaria se situa normalmente nos 5 Hz (36.000 vibrações/hora em movimentos como o El Primero e da Grand Seiko), o turbilhão do Experimentale 1 dobra essa marca: funciona à elevada frequência de 10 Hz ou 72.000 vibrações/hora, tornando o turbilhão mais estável e mais preciso. E para ‘premiar’ essa precisão, o Experimentale 1 é certificado pelo selo Breguet na categoria Scientifique — o que significa que tem uma precisão ‘científica’ garantida de -/+ 1 segundo por dia.

O fundo do relógio mostra a ponte do turbilhão inserido no calibre de corda manual do Experimentale 1 da Breguet
O fundo do relógio mostra a ponte do turbilhão inserido Calibre 7250 de corda manual do Experimentale 1 | Foto: Breguet

A embrulhar todas as referidas valências técnicas está o Calibre 7250 de corda manual, manufaturado com blocos de ‘Ouro Breguet 18K’; inclui um sistema patenteado de duplo tambor em série, cada qual composto por uma mola dupla separada por um espaçador de safira e dispostos em ambos os lados do eixo central dos minutos (às 3 e 9 horas) totalizando quatro molas para otimizar a gestão de energia (autonomia de 72 horas). O fundo do movimento é elegantemente decorado, com uma mistura de técnicas tradicionais (ponte do turbilhão polida com acabamento bercé, ângulos internos chanfrados) e um visual moderno muito técnico.

Nova estética Marine

No plano estético e arquitetónico, o Experimentale 1 também inaugura uma nova linguagem de design na Breguet — modernizando o visual da linha Marine. A caixa, esculpida em Ouro Breguet de 18 quilates, mede 43,5 mm de diâmetro por 13,30 mm de espessura, com facetas marcantes e formas angulares. As asas de módulo central são uma estilização da linha Marine e são vazadas. Os acabamentos de superfície são alternadamente jateados, azulados e acetinados, além de uma incrustação em ouro Breguet com tratamento ALD azul. Os flancos usam o canelado característico da Breguet numa abordagem mais moderna.

Documentos históricos e o relógio de bolso de Abraham-Louis Breguet com mostrador regulador que inspirou o Experimentale 1
Documentos históricos e o relógio de bolso n.º 3448 de Abraham-Louis Breguet com mostrador regulador que inspirou o Experimentale 1 | Fotos: Breguet

A inspiração principal do Expérimentale 1 é o histórico relógio de bolso nº 3448 com configuração de estilo regulador. O mostrador de safira assenta em quatro pilares de ouro e mostra uma boa parte da mecânica; a metade superior abriga o módulo do turbilhão de 10 Hz, enquanto a parte inferior integra o submostrador das horas, ladeado pelos dois tambores de corda gêmeos. As pontes visíveis em Ouro Breguet são mates ou acetinadas com arestas polidos à mão e azuladas. Os segundos são exibidos no turbilhão, e os minutos centrais ostentam uma branca preenchida com Super-LumiNova. Os ponteiros revenidos a azul das horas e dos minutos são uma evolução dos clássicos ponteiros Breguet de ponta aberta.

fundo do relógio e mostrador do Breguet Experimentale 1
O Experimentale 1 representa uma evolução estilizada da linha Marine | Foto: Breguet

Para acrescentar à modernidade do conjunto, a bracelete utilizada é em cauchu e tem uma fivela de ouro; está perfeitamente integrada na caixa e equipada com um sistema de troca rápida. O Breguet Experimentale 1 é uma edição limitada de 75 peças, com um preço unitário de CHF 320.000. Feliz aniversário, monsieur Abraham-Louis!

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