Já era considerada o melhor evento relojoeiro do planeta em múltiplos aspetos e pelos mais variados líderes de opinião. A partir deste ano, a Dubai Watch Week cimentou mesmo a sua posição enquanto melhor evento mundial de relojoaria. Eis as principais ilações a retirar de uma semana… das Arábias.
Foi mesmo uma semana em grande. Se a Dubai Watch Week já era vista como o melhor evento relojoeiro no plano cultural e idealmente formatado para os aficionados da relojoaria, a sua sétima edição catapultou o certame para um patamar ainda mais alto — sendo que passou a rivalizar diretamente com o salão Watches and Wonders no que diz respeito à representatividade de marcas (congregando ainda mais: 93!) e à afluência de pessoas (houve 49.000 visitantes registados). Mas uma coisa é provavelmente certa: nunca antes se viram no mesmo local tantos relógios excecionais… e nem se trata dos relógios em exibição nos stands das marcas: o nível dos relógios que os visitantes traziam no pulso (ou nos dois pulsos) foi verdadeiramente excecional e houve muitos que andaram por lá com peças de milhões sem qualquer preocupação de segurança.

Se o Watches and Wonders é um evento primariamente vocacionado para profissionais do setor (distribuidores, lojistas, imprensa) com entrada paga para o público nos últimos dois dias, a Dubai Watch Week tem entrada gratuita mediante subscrição. Logo aí fica a ganhar…

Para além disso, conseguiu feitos notáveis: fez com que o CEO da Rolex, Jean-Frédéric Dufour, falasse num fórum público pela primeira vez na história da marca da coroa; persuadiu quatro CEOs de grandes marcas a participar de uma mesa redonda para discutir tarifas e o estado da indústria; atraiu CEOs de grandes marcas que nem sequer participaram no evento; contou com a adesão de conceituadas marcas (como a Audemars Piguet, a Breitling, a Greubel Forsey) que nem sequer participam no Watches and Wonders; fez com que jornalistas de outros continentes pagassem a onerosa viagem do seu próprio bolso para não perderem a ocasião; e atraiu meia centena de milhar de pessoas. Sem esquecer o impacto mediático à escala global. O segredo do sucesso? O espírito dinâmico do Dubai e a visão da família Seddiqi, promotora do evento.

Para qualquer amante da relojoaria, a Dubai Watch Week é o evento ideal. Bem organizado e ainda melhor frequentado, mais aberto e menos pretensioso Aqui ficam as notas do rescaldo.
1. De bienal a anual
Se a Dubai Watch Week é por muitos considerado o melhor evento relojoeiro do mundo, a periodicidade bienal pode ser um óbice à consagração absoluta. Não será fácil passar a ser realizada anualmente — mas, atendendo à trajetória de crescimento do evento e ao modo convincente como se afirmou, esse passo pode ser dado num futuro próximo.

Atualmente, a organização tem promovido um Horology Forum itinerante nos anos intercalares; numa ótica de promoção ainda maior do Dubai, essas visitas a metrópoles internacionais (as últimas edições do Horology Forum realizaram-se em Londres, Nova Iorque e Hong Kong) podem ser dispensadas e os custos canalizados para ‘casa’.
2. Grandes marcas e novidades
Para expor no Dubai Watch Week, todas as marcas são encorajadas a criar experiências interativas para o público e têm obrigatoriamente de apresentar uma nova linha ou uma edição limitada. Houve mesmo 20 lançamentos de destaque à escala global, a começar pela nova geração Ranger da Tudor, que já destacámos anteriormente — para além de um trio muito especial da Bell & Ross, H. Moser & Cie, e Louis Erard x Konstantin Chaykin ou do duo ‘digital’ Chronoswiss e Bremont.

Houve mesmo marcas que, embora não tivessem um pavilhão ou um stand propriamente dito, participaram em atividades — como a organização de masterclasses por parte da Hermès.

A Audemars Piguet construiu um enorme pavilhão em cima de um morro artificial e fez dele um museu vivo dedicado aos 150 anos da marca, trazendo raras peças do seu acervo histórico. O extraordinário pavilhão da Van Cleef & Arpels é dez vezes maior do que o da Watches and Wonders.
3. Paraíso para aficionados
Na base da Dubai Watch Week esteve um conceito educativo sobre o que é a alta-relojoaria, num processo de evangelização que começou entre os colecionadores locais e que se internacionalizou — quando, aquando da primeira edição, em 2016, o mercado estava excessivamente virado para a comercialização.

A família Seddiqi funcionou como a família Medici, que no Renascimento patrocinaram artistas que revolucionaram a história da arte; o investimento nos grandes mestres e nas marcas independentes deu excelentes frutos e a enorme apetência atual por relógios de François-Paul Journe, Kari Voutilainen, Rexhep Rexhepi e marcas como a MB&F ou a H. Moser & Cie é um reflexo dessa ação educativa.

Todos eles se mantêm fiéis à Dubai Watch Week e fazem questão de marcar presença — e os colecionadores sentem-se como numa Disneylândia relojoeira, aproveitando todas as hipóteses para tirar selfies com os seus ídolos. Os grandes mestres e os CEOs correspondem de bom grado… mesmo aqueles que, noutras circunstâncias e outras paragens, nunca se revelariam tão acessíveis.
4. Colaborações em foco
A Dubai Watch Week é também um excelente palco para exaltar colaborações — e, mesmo que haja quem diga que há já demasiadas parcerias a saturarem o mercado, qualquer relógio colaborativo assume redobrado interesse mediático e tem uma história suplementar para contar. Niels Eggerding, CEO da Frederique Constant, confessou mesmo que há três anos convocou uma reunião geral para avaliar o estado da marca e qual o caminho a seguir para a tornar mais sexy e irreverente… e que a conclusão foi precisamente a de apostar em colaborações.

O certo é que a fórmula dá certo; na Dubai Watch Week, apresentou uma edição do cronógrafo Highlife em parceria com a Bamford (o estúdio criativo londrino de George Bamford) especialmente atraente. Mas houve mais: a nova associação entre a Louis Erard e Konstantin Chaykin deu origem ao Unfrogettable e a parceria de peso entre cotadas marcas como a Ulysse Nardin e a Urwerk resultou no UR-Freak de 100 mil euros. Sem esquecer que a marca própria da família Seddiqi, denominada Vyntage, passou a ter o aconselhamento de Rexhep Rexhepi, que supervisionou a criação do novo Strata de design integrado.
5. Micromarcas em crescendo
A popularidade das micromarcas tem caraterizado a presente década e o fenómeno não deixou indiferente Hind Seddiqi, a diretora da Dubai Watch Week. Houve um espaço multimarcas dedicado a esses relógios de preço mais acessível mas suficientemente apelativos para serem cobiçados mesmo pelos mais abastados colecionadores. A Beda’a, a Atelier Wen e a Kurono são algumas das marcas que estiveram presentes e que foram adotadas pelos aficionados, tal como a Studio Underd0g — que até teve um espaço alargado com um estúdio de design a fomentar grande interatividade com os visitantes.






