Tudor Heritage Black Bay 36

Desde que foi lançado que olho para o Heritage Black Bay 36 naquele misto desconfiado do convencida/ não convencida. E esteve mesmo em cima da mesa por diversas vezes nas discussões editoriais. Mas foi preciso um ano e foi preciso a Tudor apresentar uma nova versão com caixa de 41 mm para finalmente o convidarmos a passar uns dias connosco. Posto isto, a pergunta que se coloca é só uma: porque adiámos este momento por tanto tempo?

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© Espiral do Tempo/ Paulo Pires
Tudor Heritage Black Bay 36 – lançado em 2016. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo
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O Tudor Heritage Black Bay 36 assenta perfeitamente tanto em pulsos femininos, como em pulsos masculinos. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Passou exatamente um ano desde que foi lançado e foi numa altura em que a Tudor apresentou uma nova versão com caixa de 41 mm que resolvemos passar algum tempo com o Heritage Black Bay 36.

A boa notícia é que a apresentação de uma nova versão não vai descontinuar o modelo anterior. Pelo contrário: a Tudor conta agora com as duas versões no seu catálogo e responde assim a uma clientela bem mais alargada – àqueles que ficaram desapontados no ano passado  e àqueles que não ficaram desapontados no ano passado. E tudo por uma questão de milímetros da caixa.

Mas vamos por partes.

Tudor Heritage Black Bay (ou BB) e a legião de fãs

Já por aqui falámos algumas vezes da linhagem  Heritage Black Bay, por isso não vale a pena estar a esmiuçar muito. Basta resumir que é uma livre reinterpretação de um modelo histórico de mergulho que a­­ Tudor lançou em 1954 e que foi sendo produzido com variações até aos anos 80.

Quando foi apresentado, em 2012, surgiu com traços distintivos que se têm mantido, nomeadamente, elementos da velha escola como o mostrador convexo, os ponteiros com extremidade snowflake, indexes em forma de pontos sobredimensionados com revestimento luminescente e luneta rotativa graduada que acentuava bastante o espírito vintage.

A linha, entretanto, tem vindo a crescer com algumas alterações e recentemente os novos modelos passaram a ser equipados com movimento de manufatura, recuperaram o escudo no mostrador (em vez da rosa) como logo e passaram a ostentar as inscrições na parte de baixo do mostrador com linhas direitas, em vez de curvas.

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O Tudor Heritage Black Bay 36 tem caixa em aço e fundo fechado. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Mas com mais ou menos alterações, o  Tudor Black Bay – BB para alguns – tem sido sempre acarinhado pelos seus traços inconfundíveis num concentrado de pulso que tem partido muitos corações. Parece até que quem começa a usar um BB nunca mais o tira ou começa a ter cada vez mais dificuldade em usar outro relógio – e não estou a lançar boatos. Digamos que é uma espécie de conhecimento de causa… (a este propósito talvez recomende a leitura da crónica “Carisma”, assinada pelo meu colega Miguel Seabra e publicada na mais recente edição da Espiral do Tempo).

A euforia em torno desta coleção foi especialmente óbvia este ano. A marca lançou um modelo cronográfico e mais algumas variantes em torno da versão regular, mas complementadas com janela da data às 3 horas. Lançou também, como já dissemos, um Heritage Black Bay de 41 mm que se veio juntar ao modelo lançado em 2016, o tal que tivemos connosco.

Estas duas versões passam assim a ser a entrada de gama da coleção Heritage Black Bay.

Heritage Black Bay 36

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De 36 mm, o Heritage Black Bay tem mostrador preto e indexes contrastantes. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Com caixa de 36 mm em aço, com acabamento escovado e polido, e luneta fixa polida em vez da rotativa graduada típica dos BB, o Heritage Black Bay 36 tem um bonito mostrador preto polido com os indexes circulares em relevo e os inconfundíveis ponteiros snowflake das horas e dos segundos que remontam a modelos do catálogo da marca da década de 60.

Mas apesar de manter estes códigos mais óbvios da coleção, para mim sempre me pareceu pouco BB, não sei bem porquê. Até posso repetir sem novidade o que já alguns disseram: tem qualquer coisa de Rolex. E isto gosto porque faz lembrar a Rolex da melhor maneira. Falo de modelos como o Explorer ou mesmo o Milgauss. De qualquer forma, é importante desligarmo-nos deste aspeto. Porque  é um relógio que merece toda a atenção e que vive por si só – sem necessidades de comparações.

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O mostrador preto potencia o contraste dos elementos no mostrador. Resultado: excelente legibilidade. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo
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A luminescência do mostrador é notória e não é necessário estar completamente às escuras para que  comece a fazer-se notar. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Voltando ao mostrador, o nosso convidado é circundado por uma escala de minutos, e indica apenas as horas, os minutos e os segundos por meio de ponteiros centrais de tamanho bem simpático. O contraste entre o branco dos indexes sobredimensionados e dos ponteiros e o fundo escuro garante a melhor legibilidade.

No escuro, a luminescência é poderosa – algo obrigatório se tivermos em conta que se trata de um neto de relógios de mergulho. Às 12 horas, logo abaixo do comprido index triangular, encontram-se as referências à marca, com destaque para o escudo (recuperado nos modelos mais recentes Black Bay) e às 6 horas o lettering em linha curva alusivo ao movimento automático – para quem  gostava deste detalhe nos primeiros BB, este é mesmo um pormenor a favor. Até porque o Heritage Black Bay 36 e o Heritage Black Bay 41 são os únicos Black Bay a manter o lettering desta forma. Mero pormenor? Sim. Mas um pormenor estético que faz toda a diferença.

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Connosco tivemos a versão com bracelete em aço escovado. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Depois, a caixa é Black Bay, óbvio.  Mais pequena, mais estreita mais plana também, revela-se muito confortável e assenta perfeitamente no pulso.  O curioso é que o facto de ser um  relógio mais plano, faz com que não pareça assim tão pequeno no pulso. E o vidro plano também contribui para este efeito. Já se sabe que o meu pulso é mínimo, mas fizemos o teste. O Heritage Black Bay 36 é perfeito tanto para amostras de pulso, como o meu, como para pulsos maiores.

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O Tudor Heritage Black Bay 36 resulta muito bem em pulso finos, mas também em pulsos de tamanho mais regular. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

A coroa aparafusada com ranhuras é outro elemento importante – se nos quisermos ancorar mais uma vez nos antecedentes ligados ao mergulho – e está gravada com a clássica rosa, em relevo.

E por falar em estanqueidade, refira-se que o Tudor Heritage Black Bay 36 está preparado para resistir debaixo de água até aos 150 metros de profundidade. Já o fundo é fechado e guarda o Calibre 2824 de corda automática com aproximadamente 38 horas de reserva de corda – sendo este e o novo modelo de 41 atualmente os únicos BB não equipados com movimento de manufatura.

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A coroa é gravada com a rosa Tudor em relevo. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo
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Aqui uma imagem da coroa por enroscar. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Mais algumas notas

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O relógio está disponível com diversas versões de bracelete: aço, pele e pele envelhecida. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Quando escolhemos um relógio para passar algum tempo connosco temos sempre objetivos diferentes: podemos querer salientar os detalhes ou fazer fotografias que agucem o apetite, podemos querer também experimentar porque achamos que vale a pena ou podemos apenas querer tirar teimas quando temos dúvidas.

No meu caso, sou completamente fã do conceito Black Bay. Gosto das linhas, gosto da reinterpretação de detalhes do passado num relógio de contornos contemporâneos e com leveza de espírito, gosto das combinações de cores disponíveis e tenho preferência pelos modelos mais patinados, em especial daqueles que têm luneta vermelha. É um daqueles casos em que continuo a achar que não vale a pena grandes alterações e sou uma daquelas que prefere mesmo o lettering curvo dos primeiros modelos, em vez de direito como nas versões mais recentes.

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Mesmo num plano mais afastado são óbvios os indexes e os ponteiros snowflake tão associados à coleção BB. © PauloPires/ Espiral do Tempo

O facto de o Black Bay ser um relógio viciante talvez tenha sido o motivo pelo qual fui desconfiando deste irmão mais novo. Acho que estava constantemente a compará-lo com os outros BB. Pressuposto errado, portanto. A verdade é que o Heritage Black Bay 36 assenta que nem uma luva, é um relógio de contornos mais desportivos, mas com qualquer coisa de mais formal que o torna bastante versátil, equilibrado e cheio de personalidade. E a ausência da luneta rotativa graduada torna o mostrador muito mais impactante.

A marca refere que este relógio surge como introdução à estética da coleção Black Bay para pulsos mais finos, mas o facto de este ano ter sido complementado por uma versão de maiores dimensões mostra bem que não seduziu apenas os pulsos mais finos e não deve ser encarado como uma segunda escolha para quem quer entrar no mundo Black Bay.

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O Tudor Heritage Black Bay 36 revela-se um relógio muito versátil, mas cheio de personalidade. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Deste lado houve consenso. Ficámos agradavelmente surpreendidos e rendidos. Com a nota de que enquanto relógio resulta na perfeição tanto em pulsos femininos, como em pulsos masculinos.

A versão que tivemos connosco estava equipada com bracelete em aço escovado e fecho de báscula; no entanto, prefiro a versão com bracelete de pele envelhecida porque lhe oferece um toque mais cool e vintage que gosto de sentir e de ver. É tudo uma questão de gosto. O relógio está disponível ainda numa outra versão com bracelete castanha de pele. Mas, como é habitual na coleção Black Bay, as três versões são todas acompanhadas de uma segunda bracelete fabric camuflada, de produção exclusiva Tudor.

Há muito por onde escolher.

Consulte o site oficial da marca para mais informações sobre o Tudor Heritage Black Bay 36.

Algumas características técnicas

Tudor Hritage Black Bay 36. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo
Tudor Heritage Black Bay 36. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Tudor
Heritage Black Bay 36

Referência/ 79500
Movimento/ Corda automática, Calibre 2824, 38 horas de reserva de corda.
Funções/ Horas, minutos e segundos.
Caixa Ø 36mm/ Aço polido e escovado, luneta em aço com acabamento polido, vidro de safira plano, estanque até 150 m. Coroa adornada com a gravação da rosa Tudor em relevo.
Bracelete/ Aço com fecho de báscula. É acompanhado de uma bracelete fabric. Está ainda disponível com bracelete em pele castanha ou em pele envelhecida.
Preço/  € 2.730

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