Cumprindo uma tradição outonal, a Espiral do Tempo organizou mais um Encontro — desta vez em parceria com a Maurice Lacroix, que cumpre este ano meio século de vida. Uma ocasião para rever amigos, conhecer a estratégia atual da marca de Saignelégier e destacar cinco aspetos da sua história.
A década de 70 foi extraordinariamente revolucionária em todos os sentidos, mas particularmente marcante no que diz respeito à indústria relojoeira: foi nos anos 70 que nasceu o relógio moderno, cuja arquitetura integrada cortou com o design assente em asas tradicionais, e que se deu a chamada crise do quartzo, provocada pela rápida inundação do mercado por parte de relógios mais baratos e precisos vindos do oriente que pareceram então tornar obsoletos os movimentos mecânicos. Mas, no meio de uma tempestade que meteu milhares de trabalhadores no desemprego e ditou a falência de tantas empresas do setor, também nasceram algumas marcas — e a Maurice Lacroix foi uma delas.

A Maurice Lacroix foi fundada em 1975, pelo que está a cumprir agora o seu 50.º aniversário. Surgiu então como uma marca nova adaptada ao novo contexto relojoeiro e aos novos gostos da altura. Meio século depois, continua forte e independente — com um interessante catálogo e apetecíveis modelos com um preço mais acessível do que muitas outras companhias relojoeiras do seu segmento. Tem também a partir deste ano um novo distribuidor em Portugal (a Watchers), pelo que a reintrodução da Maurice Lacroix no mercado nacional foi um excelente pretexto para a organização de mais uma reunião com a nossa chancela: o Encontro Espiral do Tempo x Maurice Lacroix.

O local escolhido foi o Cascavel Gastro Bar, na pitoresca zona de Santos. E o Encontro Espiral do Tempo x Maurice Lacroix teve a participação de três dezenas de amigos da Espiral do Tempo, que puderam ver modelos da coleção atual da marca de Saignelégier, alguns modelos históricos e ainda modelos que serão lançados num futuro próximo ou a médio prazo. Um privilégio. Para além da confraternização com dois representantes suíços da Maurice Lacroix, que puderam responder às questões dos presentes e apresentar devidamente tanto as valências da coleção como o espírito por trás da firma relojoeira para a qual trabalham.
1. Raízes no… século XIX!

Apesar de celebrar 50 anos em 2025, as raízes da Maurice Lacroix remontam a… 1889, com a fundação da companhia Desco Von Schulthess, especializada na importação e distribuição de seda e que cresceu para se tornar numa holding em 1933 — passando a representar e distribuir também marcas relojoeiras como a Jaeger-LeCoultre e a Audemars Piguet, para além de chegar mesmo a ser dona da Girard-Perregaux. Em 1961 foi criada uma empresa sob o nome de Tiara, que começou por funcionar como private label em Saignelégier, uma pequena localidade de 2.500 habitantes no extremo norte da zona relojoeira do Jura. Em 1975 surgiu a ideia de lançar uma marca própria e foi escolhido o nome de um dos seus diretores.

Nos anos 80, a Tiara passou a fabricar relógios exclusivamente para a marca própria e adquiriu o fabricante de caixas Queloz SA. Nos anos 80, a Maurice Lacroix começou também a apostar em movimentos mecânicos, ajudando à recuperação da relojoaria tradicional e tornando o seu catálogo mais completo. A linha Les Mécaniques surgiu em 1986 e seduziu imediatamente os amantes da bela relojoaria tradicional. Em 2011, a Maurice Lacroix passou da Desco Von Schulthess para o grupo relojoeiro DKSH de Zurique e adquiriu a Manufacture des Franches Montagnes para produzir movimentos próprios.
2. Calypso inspirou Aikon

Qualquer marca relojoeira almeja criar um ícone — ou seja, um relógio que seja imediatamente identificável e que prima pela diferença. O Calypso nasceu em 1990 e tornou-se imediatamente no best-seller da Maurice Lacroix, sendo caraterizado pelas seis ‘garras’ na luneta. A primeira versão de mostrador esqueletizado surgiu em 1993, explorando um visual que a Mauric Lacroix já tinha investido em 1987 no âmbito da linha Les Mécaniques.

Acessível e esteticamente marcante, a linha Calypso foi desmultiplicada em inúmeras variantes de diversos tamanhos até sair do catálogo em 2003. Em 2016, a sua estética serviu de inspiração ao lançamento do Aikon — que rapidamente se tornou na trave mestra do catálogo da marca através de múltiplas interpretações (incluindo materiais diferenciados) e que este ano recebeu a notável ramificação Aikonic.
3. Da Les Mécaniques à Masterpiece
A linha Les Mécaniques foi satisfazendo a crescente procura por parte de saudosistas da relojoaria mecânica entre as décadas de 80 e 90, através de criações que salientavam a indústria relojoeira tradicional. O modelo Five Hands (cinco ponteiros, indicando a data e o dia da semana através de ponteiros datadores de eixo central) tornou-se extremamente popular graças também ao seu centro de mostrador em guilloché e luneta decorada com nervuras. A partir de 1992, a marca adotou a designação Masterpiece para englobar todos os seus modelos dotados de mecânica exclusiva e direcionados para um público mais conhecedor e adepto das especialidades mecânicas, recorrendo também a calibres clássicos especificamente preparados.

Em 2008, a linha Masterpiece representava 10.000 exemplares entre a produção anual de 80.000 relógios. Entre as peças revolucionárias e concetuais lançadas nessa altura encontra-se o cronógrafo ML 106 Mémoire, com 537 componentes. A partir de 2010 surge o incomparável Square Wheel e em 2013 o Mysterious Seconds (nota de destaque: nessa altura, entre 2014 e 2016, a marca teve um nome de grande impacto mundial como embaixador: Roger Federer). Desde então, a linha Masterpiece tem sido enriquecida com criações especiais e há grandes novidades a serem anunciadas brevemente.
4. Pontos e os novos 1975
Em ano de Bodas de Ouro, a Maurice Lacroix lançou a coleção 1975 sob o lema ‘o relógio vintage para os dias de hoje‘. Trata-se de uma coleção elegante, de modelos aparentemente simples mas que surgem carregados de pequenos detalhes alusivos à história da marca e à região de Saignelégier em que se insere.

Já a linha Pontos, que durante muito tempo (até à afirmação do Aikon) foi a gama mais conhecida e procurada da Maurice Lacroix, mantém todo o seu peso institucional no catálogo — com modelos redondos, modelos mais simples, cronógrafos, variantes de submostradores descentrados e o popular Pontos S de vocação desportiva que inclui cronógrafos e modelos de mergulho.
5. A assinatura

Uma das marcas distintivas da Maurice Lacroix desde os seus primórdios é a inclusão do logótipo (uma estilização das iniciais do nome) na maior parte das correias e braceletes. Esse logótipo pode surgir acoplado, embutido ou desenhado. Mas é praticamente omnipresente e dá uma aura muito especial a qualquer modelo da marca.
A comunidade Espiral do Tempo
No Cascavel Bar estiveram presentes muitos dos amigos da Espiral do Tempo, entre assinantes históricos da revista e habitués dos nossos eventos promovidos em parceria com marcas relojoeiras ou com personalidades relevantes da indústria. Gabriel Bonnet e Louis Milliet responderam com grande eloquência a várias questões colocadas pelos convidados, que assim ficaram a conhecer bem melhor a Maurice Lacroix e os destaques da sua coleção.

Gabriel Bonnet e Louis Milliet aproveitaram ainda para convidar os presentes a visitar as instalações da Maurice Lacroix em Saignelégier, uma pequena vila localizada no coração das Franches-Montagnes — 170km a norte de Genebra, na transição para a zona germânica da Suíça e a cerca de 80 km de Basileia. Uma área caraterizada por tradicionais paisagens montanhosas da Suíça; a beleza natural da região influenciou mesmo pormenores nalguns relógios, como os representantes da marca fizeram questão de salientar.

Alguns dos convidados aproveitaram para trazerem os seus próprios relógios Maurice Lacroix, para os mostrarem orgulhosamente aos amigos e aos representantes da marca. Viram-se sobretudo modelos Pontos da década passada, alguns deles dotados de uma das complicações mais associadas à Maurice Lacroix: as indicações com ponteiros retrógrados.

Quanto ao local escolhido para o Encontro Espiral do Tempo x Maurice Lacroix, o Cascavel Gastro Bar revelou-se um excelente anfitrião e os cocktails especiais da casa — sobretudo uma variante muito especial do Moscow Mule — contribuíram para matar a sede e fomentar a boa confraternização que se verificou ao longo das quatro horas da reunião.
Num futuro próximo, a Espiral do Tempo anunciará qual o novo evento a partilhar com a sua comunidade. Fiquem atentos!
