Nova responsável da Jaeger-LeCoultre, Catherine Rénier abordou várias temáticas relacionadas com a Grande Maison e a atualidade relojoeira numa entrevista realizada durante o recente Salon International de la Haute Horlogerie.
—
Num cenário habitual de frio e chuva, Genebra acolheu 34 marcas da bela relojoaria durante a chamada Geneva Wonder Week. Ao longo de quatro dias de janeiro, o Salon International de la Haute Horlogerie (SIHH) foi o principal foco de peregrinação da cidade e permitiu aos profissionais do setor (24.000 entradas, segundo os últimos dados disponíveis) terem um primeiro contacto com modelos que farão parte do seu quotidiano durante todo o ano. Foi também a altura ideal para a Espiral do Tempo confrontar alguns dos responsáveis máximos das marcas exibidoras em entrevistas exclusivas. Um privilégio, sem dúvida.
Elegância e criatividade serão palavras recorrentes na conversa tida com Catherine Rénier. Terceiro Chief Executive Officer (CEO) da Manufatura Jaeger-leCoultre no espaço de quatro anos, terá certamente como objetivo principal estabilizar as equipas e a estratégia da Grande Maison. Fomos conversar com ela.
A Grande Maison apresentou este ano no SIHH novidades nas suas linhas regulares Reverso, Master Ultra-Thin et Rendez-Vous. Mas antes de abordarmos detalhadamente essas novidades, podíamos começar por recordar o grande lançamento de 2018, a linha Polaris…
Temos tido um excelente feedback relativamente à linha Polaris, especialmente no que aos cronógrafos diz respeito, e também relativamente à bracelete metálica que criámos para ela – uma bracelete que nem sempre é fácil de agradar. Existem diferentes projetos para enriquecer a coleção através de séries especiais e novas referências que serão acrescentadas ao longo dos próximos anos. A linha Polaris preenche o espaço do relógio desportivo/elegante que nos faltava até ao momento: um relógio elegante que não é demasiado desportivo, tipologia essa que outras marcas sabem bem aproveitar. É uma linha que funciona bem na Europa, nos Estados Unidos – onde a Jaeger-LeCoultre é encarada como uma marca de alta-relojoaria – e também na Ásia, continente onde temos forte presença há muito tempo.
Somos grandes admiradores da linha Duomètre. Há futuro para ela na coleção?
Sim. Também gosto muito do Duomètre, que precisa de ser melhor explicado. E temos muitos planos relativamente a esse tema.
Os mostradores azuis estão presentes nas três novas referências Master Ultra-Thin agora desveladas. É uma maneira de completar a linha Ultra-Thin?
Sim, claro que evitamos juntar referências já existentes. A outra reflexão a fazer é criar uma família à volta do GyroTourbillon, um relógio excecional mas limitado a 36 exemplares no mundo inteiro. Pegámos no seu típico mostrador azul esmaltado e guillochado para fazer edições limitadas, num complemento de complicações relojoeiras e acabamentos tipo métiers d’art. O nosso mote no SIHH tem a ver não só com a arte da precisão através do Gyrotourbillon, mas também com a do gesto através da guillochagem e da esmaltagem. Queríamos sublinhar a nossa especialização no plano dos métiers d’art através dessa assinatura clássica da casa que é o Master Ultra-Thin e não através de modelos femininos. O guilloché em efeito raiado é efetuado à mão, necessitando de três passagens por cada sillon. Os jogos de luz daí resultantes são muito eficazes, sobretudo no Calendário Perpétuo.
A Manufatura também apresentou novidades na linha feminina Rendez-Vous.
A nossa oferta no plano da alta-joalharia, como acontece no caso dos 101, permitiu-nos dominar as técnicas de encastramento hoje realizadas no âmbito da Manufatura. Este ano, as nossas propostas em ouro branco e ouro rosa destacam o brilho dos diamantes sobre duas linhas – uma primeira linha de pequenos diamantes e uma segunda de tamanho maior e montados sobre griffe. Tudo numa caixa de proporções extremamente agradáveis de usar. É essa a expressão da Jaeger-LeCoultre: uma técnica específica para um encastramento realizado na nossa Manufatura, tudo associado à elegância e simplicidade caraterísticas da nossa marca, mesmo se o relógio inclui quatro quilates de diamantes.
A vegetação presente este ano no espaço da Jaeger-LeCoultre no SIHH remete-nos imediatamente para o meio ambiente da Manufatura na Vallée de Joux. A título pessoal, mas também enquanto responsável da Grande Maison, está a trabalhar em projetos ligados à redução do impacto das atividades industriais da empresa no ambiente?
Efetivamente, temos muitas ideias, como por exemplo relativamente às embalagens – cujas tintas são biodegradáveis. Na Manufatura temos a capacidade de ir sempre mais longe e fá-lo-emos. Mesmo as árvores presentes no nosso stand no salão são oriundas da floresta do Jura e foram previamente selecionadas por guardas florestais responsáveis pela gestão da floresta.
Algumas marcas manifestaram a vontade de gerir melhor o património dos seus modelos antigos, comprando-os no mercado de segunda mão e preparando-os para depois os vender com garantia. Qual é a posição da Jaeger-LeCoultre relativamente a isso?
É um tema da atualidade, sobretudo tendo em conta que a companhia WatchFinder já faz parte do futuro do grupo Richemont. Temos a vontade de acompanhar o cliente ao longo da vida do seu relógio com um serviço proactivo que recorda os procedimentos a ter relativamente a movimentos complicados, as alturas das revisões, a substituição das correias em pele. A compra de um relógio marca o início de uma relação que, como o relógio em si, vai durar muito tempo. O nosso papel é o de partilhar o nosso conhecimento e os nossos conselhos ao longo de todo esse ciclo de vida.
A nova geração é frequentemente associada aos relógios conectados. No entanto, parece que os mais jovens também parecem atraídos por esse objeto intemporal que é o relógio mecânico…
O nosso papel é o de partilhar a arte do saber-fazer, do artesanato e da herança relojoeira – um tipo de discurso que continua a ter significado tanto para a faixa dos 20 como para a dos 50 anos. Passar diariamente horas a fio com um smartphone à frente não significa que não sejamos sensíveis aos valores do artesanato, pelo contrário. Por outro lado, as novas gerações desejam ter acesso a informação precisa e imediata. Para mim, o desafio de estabelecer um mesmo nível de conhecimento no mundo inteiro obriga-nos a ser mais reativos e a melhorar os nossos serviços a todos os níveis, tanto online como nas lojas.
Se pudesse escolher um modelo Jaeger-LeCoultre da colheita de 2019, qual seria?
Escolheria o Reverso ‘Lie de Vin’ pelo trabalho que lhe está associado, pela cor, pela elegância. É um relógio que brilha pela simplicidade de uma cor que não foi nada fácil de alcançar. O Reverso é o nosso ícone, a nossa identidade – mais do que qualquer outro modelo de outra coleção. É único, também porque existe a possibilidade de personalizar o verso da caixa. O que abre um campo de criatividade que muito gostaria de explorar.
—