EdT36 — No espaço de um ano, a Rolex reformulou dois instrumentos emblemáticos da sua coleção Oyster Perpetual Professional — precisamente os dois modelos da linha Explorer, inspirada por expedições e exploradores que deram novos mundos ao mundo. As criteriosas atualizações também deram novas fronteiras à própria marca, que estreou um novo formato de 42 milímetros.
—
Texto originalmente publicado no número 36 da Espiral do Tempo.
A Rolex é a mais poderosa referência no mundo da relojoaria — e esse estatuto foi alcançado através da irrepreensível manutenção do seu ADN e da intransigente prossecução dos seus objetivos. Assim sendo, e tendo em conta uma fervorosa base de aficionados que disseca fastidiosamente a mais pequena nuance e modificação assinada pela lendária casa genebrina, como é que se consegue atualizar com sucesso um clássico? À maneira da Rolex — com extrema cautela e na lógica do aperfeiçoamento na continuidade, sem qualquer rutura aparente.
Foi o que aconteceu com a atualização das duas celebérrimas versões da linha Explorer, lançadas no espaço de um ano. Tanto o Explorer (também conhecido por Explorer I) como o Explorer II cresceram, mas mantiveram o estilo de sempre mesmo com algumas alterações que até se poderiam etiquetar de quasi-radicais para uma marca tão aparentemente conservadora: apresentado em 2010, o Explorer saltou dos 36 para os 39 milímetros de diâmetro, e os três emblemáticos algarismos do mostrador, sem luminescência, receberam um reflexo aparentado com o de uma curta tiragem de 1990-91; desvelado em 2011 para comemorar o 40.º aniversário da sua estreia, o Explorer II passou dos 40 para os 42 milímetros de diâmetro e substituiu os tons vermelhos do ponteiro GMT pelo laranja do modelo original. Ou seja: há sempre uma lógica e uma explicação para qualquer mudança introduzida.
Veia pioneira
A missão da Rolex sempre foi a de fazer relógios essenciais e ultrafiáveis. Reza a lenda que o irreverente Franck Muller, quando completou o seu curso de mestre relojoeiro, dotou um relógio Rolex de um turbilhão e foi mostrar o resultado à sede da marca — que não se mostrou interessada. Porque, num mundo já de si complexo onde proliferam tantas complicações, a Rolex cinge-se ao que é verdadeiramente essencial e prossegue inexorável na sua senda — imune a modas ou a tendências, mantendo de modo irrepreensível os seus códigos técnico-estéticos e nunca se desviando da intransigente prossecução dos seus ideais.
É caso para dizer ‘dura lex, sed Rolex’: a lei é dura, mas é a lei da Rolex — assente na trilogia qualidade-robustez-prestígio. A companhia fundada pelo visionário Hans Wilsdorf em 1905 goza de um estatuto incomparável no universo relojoeiro e muita da sua fama foi granjeada pela extrema fiabilidade dos seus instrumentos do tempo, historicamente testados pelos melhores profissionais das mais diversas áreas e nas condições mais exigentes. Por exemplo: a Rolex foi a primeira a chegar ao topo e às profundezas da Terra: com Sir Edmond Hillary no Evereste, em 1953 (8.848 m), e no flanco do batíscafo Trieste na Fossa das Marianas, em 1960 (10.916 m). Nos 50 anos da descida do Trieste, a marca atualizou os modelos em aço do seu celebérrimo ícone Submariner e a nova versão do relógio associado à escalada do Evereste, o Explorer. Este ano foi a vez do Explorer II.
Tanto as linhas Explorer como Submariner integram a coleção Oyster Perpetual Professional, que inclui também o Sea-Dweller Deepsea para mergulho extremo, o GMT-Master II popularizado no pulso de aviadores, o Yacht-Master adaptado à vela e o Cosmograph Daytona tão querido pelos pilotos. Sem esquecer o Milgauss idealizado para resistir aos campos magnéticos mais fortes no pulso dos engenheiros. Todos eles relógios assentes no lendário conceito Oyster Perpetual (caixa estanque Oyster e calibre automático Perpetual) que se tornaram ícones na história da relojoaria mecânica de precisão… e que nunca sairão de moda.
A escalada do Explorer I
A década de 50 foi determinante para a exploração do Planeta: findas as preocupações da Segunda Guerra Mundial, o homem procurou chegar mais alto e mais fundo. Os míticos Himalaias foram paulatinamente conquistados: primeiro foi o Anapurna, em 1950, depois o Evereste, em maio de 1953, graças à expedição de Sir Edmund Hillary e do xerpa Tenzing Norgay, que alegadamente utilizaram relógios Rolex preparados para o efeito. Há um aceso debate sobre quem usou o relógio, se foi Hillary ou Norgay.
O que se sabe de certeza é que essa série de relógios tinha mostrador claro, sendo criado mais tarde nesse ano uma versão pré-Explorer com mostrador preto e indicadores luminescentes. O modelo foi batizado posteriormente Explorer e sofreu ligeiras alterações de 1957 até à versão de 1989 (referência 14270), substituída finalmente em 2011.
O modelo meticulosamente atualizado (referência 214270) cresceu três centímetros até aos 39 — mas o tamanho parece maior do que é devido à luneta fina e, consequentemente, à larga área do mostrador. Os algarismos que constituem a imagem de marca do Explorer (juntamente com o ponteiro Mercedes da hora) apresentam um reflexo por vezes escurecido que involuntariamente evoca uma tiragem limitada de 1990-91 que tinha matéria luminescente negra sobre o 3, o 6 e o 9.
No interior, a motorização é proporcionada pelo conhecido calibre 3130 da Rolex, tornado calibre 3132 graças ao novo sistema antichoque Paraflex (que absorve os choques mais eficazmente e simplifica o processo de montagem), à espiral Parachrom com curva terminal Breguet e ao balanço Glucydur com parafusos de regulação Microstella. O invólucro exterior também melhorou significativamente, desde a caixa em superaço 904L com luneta polida à bracelete com elos maciços.
Simples e de elegância casual, o Explorer pode ser considerado o paradigma do essencial que a Rolex tanto preconiza.
O tempo extra do Explorer II
O advento do Explorer II em 1971 abriu novos horizontes à exploração e tornou-se na nova referência para aventureiros profissionais graças à introdução da janela para a data e sobretudo à inclusão de um ponteiro suplementar para um segundo fuso horário. Foi imediatamente testado no pulso do vulcanólogo Haroun Tazieff e logo se tornou equipamento essencial em numerosas expedições (sobretudo polares e de espeleologia) graças à graduação de 24 horas que permite distinguir o dia da noite.
O novo Explorer II (referência 216570) mantém exatamente as mesmas características do original, mas apresenta-se num novo formato de 42 milímetros, diâmetro que passa por ser o tamanho canónico contemporâneo para os pulsos masculinos. O aumento quase não é percetível, porque tudo cresceu nas devidas proporções: a caixa monobloco Oyster numa liga aperfeiçoada de aço 904L e estanque a 100 metros, a luneta de 24 horas, a bracelete (que passou a incluir elos maciços e um novo fecho Oysterlock com extensão Easylink), o mostrador tradicional, a lupa Cyclops sobre a janela da data, os indexes… só o ponteiro do segundo fuso horário é que aumentou significativamente, mudando para a ponta em flecha e cor laranja de modo a melhor evocar o original de 1971 (de cognome ‘Freccione’ devido à forma do ponteiro suplementar). As duas versões de mostrador disponíveis apresentam as suas próprias valências: a de cor branca esmaltada tem os indexes e os ponteiros em ouro branco com rebordos a preto esmaltado para maior contraste; a de cor preta mate proporciona um efeito ‘fantasma’ com a coloração a negro da base dos ponteiros, fazendo parecer que as pontas flutuam sozinhas. A luminescência tem o selo Chromalight e é de longa duração no escuro.
Mas as mudanças também são interiores — e de monta. O novo Explorer II é alimentado pelo novo calibre de manufatura 3187, com a inevitável certificação de cronómetro atribuída pelo COSC e incorporando duas tecnologias patenteadas pela Rolex para incrementar a resistência e a fiabilidade: o sistema antichoque Paraflex e a espiral antimagnética Parachrom.
E não é preciso escalpelizar mais. Um Rolex é um Rolex: construído para trabalhar para sempre, seja em que circunstâncias for — das profundezas à estratosfera, mas sempre com o espírito prático inerente à expressão ‘pés bem assentes na terra’.
—