Foi um dos acontecimentos do ano para a Espiral do Tempo: a organização de um evento Girard-Perregaux, com a Torres Joalheiros, que contou com a presença de, Paolo Cattagni, diretor da histórica manufatura de La Chaux-de-Fonds para a Europa Central e Meridional. Aqui ficam algumas impressões sobre a marca, a coleção atual e os mais recentes lançamentos.
Com raízes que remontam a 1791, a Girard-Perregaux é uma das mais respeitadas manufaturas do panorama relojoeiro — incluindo no seu trajeto muitos desenvolvimentos técnicos que ajudaram a indústria do setor a desbravar novos caminhos. Começando por se especializar em cronómetros de precisão, rapidamente alargou a sua competência a grandes complicações. E, sendo uma das mais antigas companhias relojoeiras suíças, tem-se mantido sempre na vanguarda da inovação, com calibres próprios e modelos conceptuais — premissa que tem sido reforçada sob a batuta de Patrick Pruniaux, que em 2018 assumiu o cargo de CEO e em 2022 participou no management buy-out que reforçou a sua liderança tanto à frente da Girard-Perregaux como da sister company Ulysse Nardin.

A histórica manufatura de La Chaux-de-Fonds concluiu o ano de 2023 com uma forte presença na Dubai Watch Week — onde estreou o novo modelo colaborativo com a Aston Martin (o Neo Bridges Aston Martin Edition) semanas depois de ter apresentado a mais recente atualização do seu conceito de força constante (o Neo Constant Escapement). No que diz respeito a Portugal, e em parceria com a Espiral do Tempo, a Girard-Perregaux foi a estrela de um encontro com leitores e amigos da revista na flagship store da Torres Joalheiros. Um dos momentos marcantes de 2023 para nós.

Foi uma excelente oportunidade para ver alguns modelos emblemáticos (vintage e contemporâneos) da marca no pulso dos aficionados e também diversas novidades das várias linhas do catálogo atual— desde a Bridges à Laureato, passando pela mais feminina Cat’s Eye. A ocasião serviu igualmente para uma conversa com Paolo Cattagni, diretor para o mercado da Europa central e do sul, sobre o estado atual da marca. Aqui ficam as suas impressões:
Retrospetiva
«Temos orgulho na nossa história porque desenhamos, desenvolvemos e produzimos todos os componentes dos nossos relógios, e o movimento em si, nos nossos ateliers. Passaram exatamente 232 anos, desde 1791, que temos desenvolvido o nosso conhecimento e podemos dizer que somos uma das poucas manufaturas ainda em produção desde os séculos XVIII e XIX e nunca deixámos de ser uma manufatura. Continuamos alive and kicking!»

O que torna única a Girard-Perregaux
«A Girard-Perregaux distingue-se de outras marcas porque, em primeiro lugar, tem duas coleções icónicas bem diferenciadas: as linhas Bridges e Laureato. Somos uma das poucas manufaturas com duas coleções icónicas que trabalham perfeitamente em paralelo. Talvez o Laureato seja mais icónico em termos de design e o Bridges é mais icónico em termos de mecânica, embora se distinga também em termos de design devido às pontes no mostrador que fazem parte do movimento. Podemos dizer que se trata da herança da marca e que é uma herança especialmente única, comparando-a com outras marcas no mercado. É um dos nossos pontos chave.

A Girard-Perregaux é uma verdadeira manufatura integrada, fazemos os nossos movimentos e somos uma das manufaturas mais integradas na Suíça. Ser ‘integrado’ significa que temos a liberdade de nos desafiarmos a nós próprios e que podemos criar ou retirar o possível dos nossos arquivos, mas o ponto é que somos uma manufatura real, com uma história. No sentido real do que significa ter uma história. Portanto, quando alguém busca o sentido da palavra manufatura, pensamos que procura exclusividade e o real sentido do que significa ser uma manufatura. E isto é possível encontrar nos relógios da Girard-Perregaux. Portanto, a Girard-Perregaux joga com o design, que é exclusivo, mas é algo que também se pode usar numa base diária. O nosso design é único, mas também muito versátil.
Coleção que mais representa a marca
Do ponto de vista mecânico, a coleção Bridges traduz claramente o espírito da Girard-Perregaux, porque foi com o Three Bridges Tourbillon que Constant Girard começou. O Three Bridges Tourbillon tinha um turbilhão debaixo de três pontes e é o primeiro exemplo no nosso património em que fomos bons a tornar visível o que era invisível. É esse realmente o principal objetivo da manufatura: tornar visível o que normalmente é invisível. E ao colocar as pontes do movimento na parte da frente do relógio foi exatamente isso o que aconteceu. Por essa razão, hoje em dia, o nosso espírito é tornar visível o que é invisível.

O Laureato
«Se o Bridges é o ícone mecânico, o Laureato é o ícone estético, de design, mas é também o primeiro exemplo, que vem de 1975, de um relógio sport-chic. Desportivo e elegante. E essa é a principal caraterística do Laureato: ser um dos poucos ícones que foi usado nos anos 70. Este aspeto é importante para a Girard-Perregaux, porque podemos falar e manter contacto com outro tipo de clientes que não sejam propriamente as pessoas que compram um Bridges. E ambas as linhas podem existir sem estarem necessariamente uma contra a outra. No fundo, o Laureato completa e combina perfeitamente, no lado do design, com as especialidades que encontramos nos modelos Bridges, que representam o lado mais mecânico.

Ao contrário de outras marcas que pararam de produzir modelos icónicos durante muito tempo para os recuperarem depois, nós nunca parámos verdadeiramente de produzir o Laureato. Foi uma evolução contínua. Talvez tenha havido por vezes uma evolução de uma geração para a outra, mas o espírito da coleção é sempre o mesmo. O Laureato 42mm é o ícone do ponto de vista do design, porque é o mais elegante, é o que mais se pode adaptar a diferentes gostos e o Laureato Absolute é mais orientado para o desporto e é nessa vertente que jogamos mais com os materiais, por exemplo, algo que não fazemos com o Laureato 42. No Laureato 42 temos sobretudo o aço e algumas versões em cerâmica, mas no Laureato Absolute temos também matérias compostas como a fibra de vidro e o carbono juntamente com o titânio, como sucede com o novo Laureato Absolute 8-Tech.»

Girard-Perregaux e Ulysse Nardin
«Apesar de serem companhias irmãs pertencentes aos mesmos donos, a Girard-Perregaux e a Ulysse Nardin trabalham de forma totalmente independente e seguem os seus próprio caminho. Ninguém sabe de nada entre uma marca e a outra.»
Cliente principal
«O principal cliente da Girard-Perregaux é alguém que não anda propriamente a procurar na superfície. É um cliente conhecedor, que sabe o que quer e que provavelmente não tem um Girard-Perregaux como primeiro relógio — porque é uma pessoa que quer ver e mergulhar na mensagem da manufatura, na mensagem do relógio que está a comprar, algo que não é óbvio e que está à superfície.»

Novidades 2023
«Este ano jogámos com as formas e com os materiais, por isso temos o novo Laureato 42 com uma fantástica caixa em cerâmica verde com o selo Aston Martin, temos o Laureato Absolute 8-Tech assente numa caixa em carbon titanium, e o Laureato Saphire; depois, há o novo Neo Constant Escapement, que é a estrela de 2023: reimaginámos o movimento com um escape totalmente novo do sistema de força constante que implementámos desde 2013. Jogámos nos dois lados: com um novo movimento e com novos materiais, tendo em conta a coleção existente.»

O Neo Constant Escapement
«O Neo Constant Escapement é um lançamento totalmente novo, apresentado a 11 de outubro. Desde sempre, a relojoaria tenta saber como levar a energia do tambor até ao balanço, mantendo uma transmissão constante de energia. E existem diversas soluções para este problema/desafio. Como equalizar o declínio da energia durante a transmissão? É preciso algo que consiga lidar com esta inconstância e que consiga criar uma força constante. Mas esta força constante pode ser usada de diferentes formas e nós temos o constant escapement que consegue lidar com a energia que vem do tambor durante pelo menos sete dias e consegue combater o declínio da força. Isto é possível graças ao silício que usamos para a lâmina que fornece uma constante quantidade de energia ao balanço e a amplitude do balanço permanece estável durante pelo menos sete dias. E tem certificação COSC, porque se encaixa perfeitamente nas tolerâncias exigidas por este selo. Mas além do conceito de funcionamento, o Neo Constant Escapement é um relógio que, na nossa coleção, é a ponte perfeita entre as altas complicações e o Neo Bridges, por exemplo. Portanto, completa a coleção Bridges com um escape totalmente novo, numa caixa de 45mm em titânio e num relógio que apresenta as horas e os minutos num grande mostrador. A versão anterior era completamente diferente. Trata-se de um novo movimento. É uma evolução e o escape constante hoje é um totalmente novo escape, sem comparação com o anterior.»

Desafios
«Captar a atenção para um relógio é muito difícil hoje em dia, mas há sempre espaço para fazer as coisas bonitas que o relojoeiro pode fazer. Temos de ser consistentes com a nossa herança e o nosso espírito — mas, ao mesmo tempo, ser interessante no mundo de hoje não é fácil, em geral. Mantemo-nos focados no que somos bons a fazer: relógios com uma herança de mais de 230 anos e com uma evolução contínua, como sucede com o constant escapement. Isto é o que conseguimos fazer de melhor e, por exemplo, em termos de distribuição nós não alteramos propriamente o nosso sistema de boutiques com terceiros. Portanto, focamo-nos naquilo que somos capazes de fazer bem no domínio dos relógios.»

Principais mercados
«Em termos de mercado, trabalhamos bem com os Estados Unidos, Europa e China, com diferentes tipos de assortements. Vendemos muito bem as peças de alta-relojoaria no Médio Oriente e o Laureato é um produto global, é um ícone em todo o lado. Portanto, estamos equilibrados nestas três grandes plataformas.»
Mercado português
«Quanto ao mercado português, confiamos na família Torres. Pensamos que a Torres Joalheiros, tal como outros reatalhistas de topo em todo o mundo, pode dar à Girard-Perregaux o espaço e o apoio que precisamos no mercado local. Tentamos ir ao encontro dos pedidos da Torres Joalheiros e estamos bastante felizes e satisfeitos com o mercado local. Hoje o mercado português é mais importante no negócio do turismo e só um retalhista de topo, como a Torres Joalheiros, pode fazer a diferença, pondo a Girard-Perregaux em contacto com as pessoas adequadas, os colecionadores locais e a clientela certa que podem comprar um relógio Girard-Perregaux. Falar com eles, organizar eventos e ter momentos como o da Espiral do Tempo — no qual pudemos apresentar o novo Neo Constant Escapement. Talvez no passado tenhamos perdido algo neste sentido. Temos de nos focar em aprofundar o contacto com os clientes locais. E tal não é possível se não tivermos os parceiros certos. E um parceiro como a Torres Joalheiros é o melhor que podemos ter para o mercado local.

Hoje em dia, falar do cliente português, espanhol ou italiano é uma globalização no melhor sentido. Historicamente o mercado português era muito bom para nós, por exemplo para as peças de alta-relojoaria. Vendemos bastantes exemplares Three Bridges Tourbillon no mercado local. Atualmente, acho que existe o mesmo interesse dos portugueses que existe dos italianos ou alemães pelo Bridges e pelo Laureato, porque provavelmente conseguem ver para além da superfície e nessas duas linhas é possível encontrar muito conteúdo.»