GPHG 2015: Grito de Independência

Em Genebra — A cerimónia teve lugar num Grand Théâtre de Genève muito bem frequentado e que esgotou a sua lotação; a cada ano que passa, o certame redobra de importância e torna-se mais global — mas falta a participação de algumas marcas. E os vencedores foram…

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© GPHG

De todas as iniciativas que destacam os melhores exemplares relojoeiros de cada ano, o Grand Prix d’Horlogerie de Genève é, sem dúvida, aquela que mais impacto provoca — não só pelo peso institucional que ganhou ao longo dos anos e pela exibição itinerante dos relógios pré-selecionados, mas também pelo evento de grande prestígio realizado no Grand Thèâtre de Genève. É claramente a referência maior de todos os concursos anuais, embora seja uma pena que… não seja um certame propriamente aberto a todos: é preciso que as marcas inscrevam os relógios que desejem ver submetidos a escrutínio e várias manufaturas de relevo optam mesmo por não participar; apesar disso, a cerimónia cheia de pompa e circunstância do Grand Prix d’Horlogerie de Genève continua a ser encarada como a verdadeira cerimónia dos Óscares da Relojoaria. E o local onde os insiders da indústria relojoeira têm de marcar presença. A Espiral do Tempo esteve lá, para contar como foi.

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Os galardões de cada categoria à espera de serem entregues aos legítimos vencedores.© GPHG

Desde jornalistas especializados oriundos dos vários cantos do Planeta até presidentes de marcas e passando por representantes da classe política, muitos foram os que fizeram questão de marcar presença no Grand Théâtre — dando a relevância devida a uma iniciativa que, não recolhendo ainda a tal unanimidade, continua a ganhar prestígio em todo o mundo muito graças a um notável trabalho de expansão da Fundação do Grand Prix d’Horlogerie de Genève, que passou de 12 para 26 o número de elementos do júri de modo a que o elenco se tornasse mais abrangente e mostrou os relógios finalistas em eventos na Ásia e no Médio Oriente (os relógios vencedores serão expostos para a semana no SalonQP, em Londres). Como não podia deixar de ser, a importância política, cultural e económica de uma indústria que continua a ser um incontornável emblema helvético fez-se sentir na plateia do Grand Théâtre, mas os protagonistas foram mesmo os relógios e as personalidades que os criaram.

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Os grandes vencedores da edição de 2015 do Grand Prix d’Horlogerie de Genève. © GPHG

Os relógios em compita na edição de 2015 do Grand Prix de Genève tinham de ter sido lançados no mercado entre março de 2014 e novembro de 2015, após as primeiras fases de seleção, foram encontrados os finalistas nas 12 categorias e galardões especiais num total de 18 prémios a atribuir. O júri, que incluiu este ano Eric Singer (o baterista dos Kiss, a pintalgada banda de culto dos anos 70), reuniu-se dias antes do evento para observar de perto cada exemplar finalista (seis em cada categoria regular) e fazer a sua escolha final. No dia 29 de outubro e com a condução do humorista Frédéric Beigbeder — mestre de cerimónias pela terceira vez consecutiva, embora desta vez secundado por Gaspard Proust — a lista dos galardoados foi a seguinte, com as nossas anotações:


Grande Prémio ‘Aiguille d’Or’

Tourbillon 24 Secondes Vision, da Greubel Forsey

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© Greubel Forsey
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© Miguel Seabra/ Espiral do Tempo

O prémio do ‘Melhor dos Melhores’ foi para uma criação sólida e sóbria da Greubel Forsey, sem a habitual assimetria de outras criações da marca mas talvez por isso mais elegante. A arquitectura e os acabamentos são excelentes. Segundo ‘Ponteiro de Ouro’ no espaço de cinco anos para a Greubel Forsey, após o Double Tourbillon 30° Edition Historique. Uma escolha que surpreendeu (até mesmo Stephen Forsey), mas que se entende.


Prémio ‘Petite Aiguille’

Felix, da Habring²

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Habring²

Com uma terceira nomeação em cinco anos e pela segunda vez em três anos, o prémio destinado ao relógio ‘acessível’ foi para a marca fundada pelo casal Habring; a produção restrita e o movimento próprio de manufatura (primeiro totalmente feito na Áustria!) com muito trabalho manual pesaram na escolha de um modelo de visual depurado e intemporal. Maria-Christina e Richard Habring voltaram a subir juntos ao palco e a celebrar mais uma conquista para a Habring² com um beijo em frente a casa cheia.


Relógio de Homem

Voutilainen GMR, da Voutilainen

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© Voutilainen

O trabalho de guilloché de Kari Voutilainen sempre teve a admiração dos especialistas que, uma vez mais, não ficaram indiferentes ao virtuosismo do mestre finlandês. Mais uma vitória das artes decorativas e do neo-classicismo perante uma concorrência variada — desde a MB&F com o HMX até ao Galet Square de Laurent Ferrier que seria galardoado noutro parâmetro.


Cronógrafo

Altiplano Chrono, da Piaget

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© Piaget

Uma surpresa, atendendo à concorrência. Mas um relógio elegante e forte no plano técnico, com a sua construção ultra-slim que se tornou na imagem de marca da Piaget e que faz dele o mais fino do mercado. O Audemars Piguet Royal Oak Concept Laptimer Michael Schumacher era um candidato de nomeada, mas de estética não muito consensual.


Relógio Desportivo

Pelagos, da Tudor

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© Tudor
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O modelo não é novo, mas a versão azul (mostrador, luneta) foi lançada este ano com o novo movimento de manufatura da Tudor e convenceu o júri pela solidez da proposta: sem dúvida um relógio com excelentes pormenores técnicos, com calibre automático próprio e um preço extremamente aliciante. Bateu propostas bem mais complicadas e onerosas, desde o turbilhão cronógrafo Royal Oak da Audemars Piguet até ao Project Z9 da Harry Winston.


Turbilhão

Ulysse Anchor Tourbillon, da Ulysse Nardin

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© Ulysse Nardin
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© GPHG

Novamente se notou a preferência do júri por um relógio de estética clássica que remete para a especialização da marca em cronómetros de marinha, mas o inédito sistema de escape em âncora/turbilhão com componentes de silicone dá-lhe um significativo toque modernista. Nesse aspeto, é um relógio que faz recordar imediatamente o antigo mentor Rolf Schnyder, entretanto desaparecido. A categoria apresentava-se fortíssima e o Tourbillon of Tourbillons de Antoine Preziuso e o Tourbillon 24 Secondes Vision da Greubel Forsay foram premiados noutras categorias.


Relógio de Calendário

Slim d’Hermès QP, da Hermès

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© Hermès

Um modelo com nuances estilísticas interessantes e que se descobrem ao segundo e terceiro olhar. A fonte dos algarismos, inventada por Philippe Apeloig, já tinha dado que falar em Baselworld; o mecanismo de calendário perpétuo, concebido pela Agenhor, é transposto de modo claro e eficaz para o mostrador de leitura fácil. E é um relógio fino que assenta muito bem no pulso. A concorrência não foi muito entusiasmante.


Relógio Acústico

Minute Repeater Tourbillon with Gold Bridges, da Girard-Perregaux

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© Girard-Perregaux
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© GPHG

Uma combinação — turbilhão e repetição minutos — forte num grande relógio que também celebra estilisticamente as emblemáticas pontes da marca. A excelência do som produzido ajudou-o a conquistar o prémio numa categoria com concorrentes excecionais, sendo que esteticamente até sou um grande aficionado do Zeitwerk Minute Repeater e do Akrivia Tourbillon Chiming Jumpi Hour do jovem mestre Rexhep Rexhepi. Stefano Macaluso recebeu o prémio quase quatro anos após a morte do seu pai, que ressuscitou a Girard-Perregaux e foi um dos responsáveis pelo reflorescimento da relojoaria mecânica a partir da década de 90.

Exceção Mecânica

The Charming Bird, da Jacquet-Droz

© Jacquet-Droz
© Jacquet-Droz
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© GPHG

Apresentado na edição de Baselworld em 2013 mas só disponível em 2014, ficou elegível e a sua excecionalidade valeu-lhe o prémio correspondente. A Jaquet-Droz tem uma tradição histórica com autómatos, o Charming Bird é um prodígio de miniaturização que para mais é acompanhada de dimensão acústica: o chilrear do pássaro é fenomenal! A Hautlence, a HYT e Emmanuel Bouchet merecem menção na categoria.


Relógio de Artes Decorativas

Villeret Shakudō, da Blancpain

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© Blaincpain

A meticulosa gravura em baixo relevo é quase hipnótica. Mas a minha preferência ia para o Romain Gauthier Logical One Secret Kakau Höfke.


Relógio de Senhora

Big Bang Broderie, da Hublot

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© Hublot

Um mostrador bordado num relógio de forte imagem a preto e branco cujo triunfo surpreendeu — mas a concorrência também não se revelava particularmente forte.


Relógio Complicado de Senhora

Lady Compliquée Peacock, da Fabergé

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© Fabergé

Uma proposta feminina na qual se sente o dedo do criador Jean-Marc Wiederrecht; o Lady 8 Flower da Jaquet-Droz e o Il Giardino Notturno da Bulgari também me caíram no goto…


Relógio de Joalharia

Diamond Punk, da Audemars Piguet

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© Audemars Piguet

Uma ousada construção piramidal totalmente cravejada com uma placa deslizante sobre o mostrador e que ficaria muito melhor no pulso de uma cantora rock do que punk. O Groppoli da De Grisogono também é uma obra de arte joalheira extraordinária.


Relógio Revivalista

Extremely Piaget Double Sided Cuff Watch, da Piaget

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© Piaget

Uma escolha feminina numa categoria à parte cujo galardão só é atribuído se houver candidato adequado; este ano, a opção recaiu sobre um modelo finalista na categoria do Relógio de Joalharia que evoca os relógios pulseira de outrora.


Revelação

Galet Square, de Laurent Ferrier

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© Laurent Ferrier

Um dos galardões especiais reservado a marcas com menos de uma década de vida foi ativado para ser atribuído a uma jovem firma fundada por um veterano relojoeiro (anteriormente na Patek Philippe) que ganhou projeção precisamente ao vencer o prémio de Relógio Masculino há cinco anos. As formas do Galet Square, um dos finalistas na categoria de Relógio Masculino, são soberbas e já tinham chamado a atenção da crítica em Baselworld.


Prémio Especial do Júri

Micke Pintus, Yannick Pintus e Jean-Luc Perrin

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© GPHG
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Ref.57260 da Vacheron Constantin

Os três relojoeiros da Vacheron Constantin que desenvolveram o Referência 57260 ao longo de oito anos. A manufactura genebrina optou por não inscrever qualquer relógio seu no Grand Prix d’Horlogerie, mas o júri em boa hora premiou o lançamento relojoeiro do ano (afinal de contas, tratou-se do ‘relógio mais complicado do mundo’) com um dos galardões especiais que acaba por sublinhar de certa maneira o 260º aniversário da Vacheron Constantin.


Prémio Inovação

Tourbillon of  Tourbillons, de Antoine Preziuso, que também arrecadou o  Prémio do Público (votação via internet ou nas exposições)

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© Antoine Preziuso
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© GPHG

Há algum tempo que não se via algo de verdadeiramente especial do mestre da Academia dos Relojoeiros e Criadores Independentes, mas valeu a pena a espera: trata-se de um relógio verdadeiramente sensacional dotado de três turbilhões montados numa placa giratória aliada a um triplo diferencial planetário; o facto de ter surgido em palco com o seu filho Florian, que também contribuiu para a criação de tão original obra-prima, ofereceu um sabor humano muito especial ao momento.

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Uma imagem marcante: Antoine Preziuso e o seu filho Florian Preziuso exibem o modelo ‘Tourbillon of Tourbillons’ da Antoine Preziuso Geneve que ganhou dois prémios na cerimónia dos chamados ‘Óscares da Relojoaria’ — Prémio da Inovação e Prémio do Público. © Miguel Seabra/ Espiral do Tempo

Trocado por miúdos, e numa análise final, o grande vencedor foi… a relojoaria independente, uma vez mais. As pequenas marcas de nicho e gama alta voltaram a marcar presença destacada entre as nomeações finais, sendo que em muitos casos bateram mesmo marcas tradicionais pertencentes a poderosos grupos. Quererá isso dizer que o júri formado por jornalistas, colecionadores, relojoeiros e personalidades ligadas a instituições do setor estará naturalmente propenso a premiar as tiragens mais exclusivas e a iniciativa própria? Muito possivelmente. E, tanto no final da cerimónia como nas festas que se seguiram, os representantes dessas pequenas marcas voltaram a ganhar — sendo os mais carismáticos, os mais joviais e os mais comunicativos.

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Os irmãos Tim e Bart Gronefeld. © Miguel Seabra/ Espiral do Tempo

Como os irmãos Tim e Bart Gronefeld, vencedores da categoria do Turbilhão em 2014, que posaram especialmente para a Espiral do Tempo numa das festas pós-cerimónia com os seus blazers de gola laranja (holandeses…) e a inscrição Horological Bro. Para o ano há mais… ET_simb

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