É alemã, tem mais de 150 anos de história e uma coleção considerada por muitos como das mais acessíveis e atraentes da atualidade. Depois de décadas de presença em Portugal, a Junghans regressa melhor do que nunca.
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História originalmente publicada no número 61 da Espiral do Tempo (edição de primavera 2018)
A relojoaria de origem alemã tem-se revelado, nos últimos anos, uma alternativa cada vez mais credível, quando comparada com a habitual hegemonia helvética. A Junghans é disso um excelente exemplo. Sobejamente conhecida por latitudes germânicas, entre os portugueses é ainda possível reavivar memórias de prateleiras cheias de despertadores com a marca da estrela que competiam com a Kienzle e a defunta Reguladora.
Mas apesar do sucesso internacional a histórica marca esteve à beira de desaparecer devido à gestão comprometedora da Egana-Goldpfeil. A falência do grupo sediado em Hong Kong, que adquirira a Junghans no início do milénio, ameaçava arrastar a marca para a insolvência. Uma influência negativa da qual a marca se liberta definitivamente em fevereiro de 2009, através do investimento da família Steim, cuja sede assenta em Schramberg, a mesma cidade que viu nascer a Junghans. E, passados apenas 12 meses, os números deixaram de estar no vermelho, a faturação sobe a dois dígitos e os postos de trabalho multiplicam-se, dando um novo alento e um futuro mais sólido à empresa.
A cidade de Schramberg manteve, assim, a sua marca histórica e, mais importante ainda, a centena de trabalhadores que então eram o garante do conhecimento acumulado pela marca desde que foi fundada em 1861.
O investimento do Dr. Hans-Jochem Steim, cujas empresas de produção de componentes mecânicos empregam 5.200 trabalhadores e faturam, anualmente, mais de 400 milhões de euros, permitiu, àquele que em tempos foi considerado o maior fabricante mundial de relógios, tornar-se novamente o centro das atenções de uma cidade com 22.000 habitantes, localizada bem no coração da floresta negra.
De facto, não há muitas marcas de relógios cujo portfólio seja tão abrangente no que respeita ao preço, com relógios entre os 300 euros e os 2.000 euros, contemplando movimentos de quartzo, mecânicos de corda manual ou automática, e ainda os famosos Funk digitais, criados em 1990.
Mas quais são as origens deste nome com mais de 150 anos de idade? O cenário que serviu de fundo à criação da Junghans, a 14 de abril de 1861, foi o da produção industrial em série, massificada e mecanizada, verificada no novo mundo, e que então ameaçava qualquer empresa de média dimensão europeia.
Dedicada inicialmente apenas à produção de componentes para a relojoaria, a fabrica produzia, em 1866, três modelos de relógios de parede, de A a Z. Passados três anos, a 8 de setembro de 1870, a morte de Erhard Junghans deixa por herança uma empresa cuja centena de trabalhadores, distribuída por três edifícios, produz entre 80 a 100 relógios por dia.
Em 1876, a direção da empresa está nas mãos dos irmãos Arthur e Erhard Junghans Jr., que aproveitam a dinâmica da década seguinte para criarem novos calibres e aumentarem ainda mais a produção. São eles que, em 1890, registam o logotipo com a estrela de oito pontas e o ‘J’ ao centro, um símbolo que ainda hoje serve de coroa ao nome Junghans. A influência do espírito inventivo e de iniciativa de Arthur Junghans não pode ser menosprezada na história e no desenvolvimento da marca, como comprovam nomes famosos como Daimler, Maybach, Zeppelin ou Bosch, que eram presença assídua na casa do industrial.
E em consequência de uma sucessão de fusões e aquisições, a Junghans dá, já em 1903, trabalho a 3.000 operários, que produzem mais de três milhões de relógios por ano a uma cadência de 9.000 despertadores e relógios de parede por dia. A casa de Schramberg é agora o maior fabricante de relojoaria do mundo, e é neste período que se dá início à construção do edifício cujos peculiares terraços em degraus, bem iluminados por luz natural, são hoje património protegido da cidade.
Em 1910, começa a produção dos primeiros relógios de bolso de qualidade superior com os calibres J8 e J9, o que representou, em si mesmo, mais um marco importante na história da Junghans. Seguir-se-iam, em 1927, os primeiros relógios de pulso.
O número crescente de movimentos próprios permite ao designer Anton Ziegler lançar, em 1936, uma coleção de relógios de pulso de elevada qualidade e a cujas designações se passa a associar o predicado ‘Meister’.
Ao atravessar a década de 50 do século XX, a Junghans torna-se o terceiro maior produtor de cronómetros do mundo e o maior da Alemanha, desenvolvendo-se internamente uma cultura própria associada ao design. Ao lado de Ziegler, trabalha Max Bill, que, a partir de 1956, desenha relógios de mesa e de parede segundo a filosofia minimalista e depurada do movimento Bauhaus. Em 1961, apresenta uma coleção de relógios de pulso de estética intemporal que chegou aos nossos dias. A linha Max Bill é hoje o best-seller incontestável da marca.
Arquiteto, pintor e escultor, Max Bill foi também um dos mais excecionais designers do século XX. A longa colaboração que manteve com a Junghans teve início durante o período em que o designer esteve sediado na cidade de Ulm. Sendo ele próprio neto de um relojoeiro, a sua paixão pelos relógios afigurava-se como inevitável, pelo que quando a casa de Schramberg lhe encomenda um objeto utilitário, decide trabalhar no projeto com os seus alunos, na capacidade de professor da escola de Design de Ulm. O relógio de cozinha, produzido em 1956, e agora conhecido como o relógio de parede Max Bill, incorporava já elementos de design que acabariam por ser transpostos para os relógios de pulso.
Elementos como a clareza, a legibilidade e as proporções harmoniosas, onde a forma e a função são valorizadas, cumprem o objetivo de combinar o valor prático do objeto com o belo. Uma tarefa tão bem conseguida que, ainda hoje, os relógios criados por Max Bill se mantêm virtualmente inalterados.
1970 é o ano em que a Junghans apresenta o Astro-Quartz, o primeiro calibre a quartzo de produção alemã. Segue-se em 1972 os Jogos Olímpicos de Munique, um marco na história empresarial da marca, já que participou como cronometrista oficial na efeméride, ao fornecer relógios digitais de elevada precisão, pistolas de partida, sensores fotoelétricos e, pela primeira vez, o photo-finish a cores.
O surgimento da tecnologia de rádio controlo permite, em 1986, a construção em série do primeiro relógio de mesa Junghans, cuja precisão do movimento a quartzo era permanentemente controlada por um sinal remoto. Com o nome de código RCS1, o modelo incorporava ainda painéis solares que garantiam o fornecimento da energia e autonomia necessárias ao seu funcionamento. Com a crescente miniaturização desta tecnologia surge, em 1990, o futurista Mega 1, desenvolvido em estreita colaboração com a Frog Design. Ao primeiro relógio de pulso digital controlado por um sinal de rádio, segue-se cinco anos depois uma versão com caixa em cerâmica e mostrador com células fotoelétricas.
Hoje, os sucessivos terraços do edifício histórico estão dedicados ao museu da marca que partilha o espaço com o museu da cidade. E é nos edifícios contíguos, que, a bom ritmo, decorre a produção de componentes e a montagem dos relógios que se distribuem pelas seis coleções que a marca contempla no seu catálogo.
Entre os modelos que integram as linhas Erhard Junghans, Max Bill, Meister, Form, Meister Driver e Performance, é difícil encontrar uma peça que não seduza pelo design e pela relação entre preço e qualidade. Peças que podem não competir com os segmentos superiores da relojoaria suíça, mas que têm, certamente, uma palavra a dizer quando o tema é tradição, história e originalidade. É que o relógio da estrela regressou para ficar, e dificilmente alguém lhe poderá ficar indiferente.
Visite o site oficial da Junghans ou o site oficial da Torres Distribuição para mais informações.
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