Cronógrafos e escalas: história e guião

Como instrumentos criados especificamente para medir o tempo, os cronógrafos surgem frequentemente acompanhados por escalas — sobretudo taquimétricas, telemétricas, pulsométricas — mas poucos são os utilizadores que as sabem conjugar com as funções cronográficas. Aqui ficam as explicações e o manual de utilização de um adorno gráfico que se pode revelar bem mais útil do que se pensa…

Tempo é dinheiro. Um momento faz a diferença. Numa sociedade que passou a ser gradualmente avaliada ao segundo, o homem moderno agarrou o momento — tornando-se dono da velocidade e da técnica ao longo do século XX para elevar ainda mais a fasquia na vertigem do século XXI. E uma das razões que alimentam o fascínio do homem pelo relógio é precisamente a sensação de domínio do tempo.

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Escalas centrais: o novo Montblanc Unveiled Timekeeper Minerva que celebra os 165 anos da relojoaria Minerva e o centenário do primeiro movimento de cronógrafo de pulso | Foto: Montblanc

Para essa impressão são necessárias duas condições: que o relógio possa funcionar sem qualquer intervenção artificial (a simples operação de substituição da pilha em modelos de quartzo é um desvirtuar dessa premissa) e que apresente o maior número possível de funções que reforcem a ideia de controlo temporal (a captura do tempo é uma quimera tão antiga como a humanidade).

Rolex Oyster Perpetual Cosmograph Daytona
Oyster Perpetual Cosmograph Daytona lançado em 2023 como celebração do centenário da mítica corrida e op detalhe do ‘100’ no taquímetro | Foto: Rolex

O cronógrafo mecânico satisfaz ambos os parâmetros e personifica a mestria do tempo com uma veia lírica: numa existência contemporânea em que o tempo parece voar cada vez mais depressa, permite-nos capturar um momento da eternidade e congelá-lo para sempre!

A função cronográfica

Para além de dar a conhecer as horas, o cronógrafo possibilita a medição de intervalos temporários na vida diária ou na atividade desportiva — ou seja, permite dominar os tempos do nosso tempo. É útil para todos e indispensável para muitos, mas é sobretudo um símbolo incontornável da era moderna e tem escrito os progressos do homem nos últimos dois séculos… e escrever o tempo é transcrever a história do mundo.

TAG Heuer Carrera Chronograph 39mm “Glassbox” | © TAG Heuer
O Carrera Chronograph Glassbox tem uma escala taquimétrica disposta num ângulo original que facilita o visionamento sob todos os ângulos | Foto: TAG Heuer

Curiosamente, a origem etimológica da palavra cronógrafo significa isso mesmo: escrever o tempo (do grego graphein, escrever, e chronos, tempo). A função cronográfica também torna qualquer relógio mais interativo, e logo mais apelativo: o utilizador pode ‘brincar’ com ele, acionando e parando o mecanismo.

O Jaeger-LeCoultre_Polaris Chronograph com mostrador azul visto num pulso.
O Jaeger-LeCoultre Polaris Chronograph com mostrador azul | Foto: Jaeger-LeCoultre

E aproveito a deixa para fazer uma confissão: na verdade, sou sobretudo um apaixonado pelos cronógrafos mecânicos de mostradores analógicos porque gosto particularmente da estética mais preenchida do mostrador e de uma auréola mais raçuda; não utilizo a função cronográfica para muito mais do que medir o tempo que o moroso Rafael Nadal demora entre os pontos quando estou a comentar os seus encontros no Eurosport… e ver a que distância estão a cair os raios em altura de trovoada, não vá o diabo tecê-las. Mas para isso é preciso que na altura tenha no pulso um cronógrafo com escala telemétrica…

O novo Omega Speedmaster Moonwatch de mostrador branco com o tradicional taquímetro na luneta | Foto: Omega

Grande parte do apelo visual dos cronógrafos prende-se com o seu grafismo mais técnico e instrumental, que é frequentemente fomentado por uma (por vezes duas ou três) escala que surge na luneta, no perímetro ou até mesmo no centro do mostrador. Há modelos que devem mesmo uma boa parte da sua personalidade ao uso criterioso dessa escala. Alguns cronógrafos até são batizados por essa caraterística estar em particular evidência. A escala mais frequente é mesmo a do taquímetro pelo seu desígnio mais associado à velocidade e ao desporto. Já as escalas do telémetro (distância) e do pulsómetro (frequência cardíaca) surgem sobretudo em cronógrafos de caraterísticas clássicas ou vintage.

Escalas de telémetro, pulsómetro e taquímetro no mesmo relógio: o Patek Philippe Multi-Scale Chronograph Ref. 5975 foi lançado em 2014 para celebrar os 174 anos da marca | Foto: Patek Philippe

Antigamente, quando não havia computadores ou instrumentos eletrónicos, havia cronógrafos com todo o tipo de escalas e réguas que proporcionavam diversos cálculos e até permitiam medir os períodos dos parquímetros ou das chamadas telefónicas. Mas o que é verdadeiramente comum é o desconhecimento sobre essas escalas ou a sua utilização…

Taquímetro

Historical Breitling Navitimer Cosmonaute from 1962 and the new Navitimer Cosmonaute Limited Edition (left to right)
Um Breitling Navitimer Cosmonaute de 1962 e o mais recente Navitimer Cosmonaute Limited Edition (da esquerda para a direita) com mostradores de 24 horas | Foto: Breitling

A mais popular e frequente escala utilizada nos modelos cronográficos é a escala taquimétrica, que permite medir a velocidade de um veículo cronometrando o tempo necessário para se percorrer um quilómetro; acciona-se o cronógrafo e, um quilómetro depois, o ponteiro cronográfico dos segundos indica a média da velocidade desse quilómetro percorrido na escala taquimétrica circular que pode surgir gravada na luneta da caixa, localizada no perímetro do mostrador ou em espiral no centro.

Telémetro

O nome diz tudo: o Junghans Meister Telemeter | Foto: Junghans

Menos utilizada, a escala telemétrica permite medir uma distância em quilómetros com base na velocidade do som. Exemplo: dá-se início à cronometragem quando se avista um relâmpago e pára-se a cronometragem quando se ouve o trovão; o ponteiro do cronógrafo indica, na escala telemétrica que normalmente surge na orla do mostrador, a distância que separa o observador do local onde ocorreu o fenómeno.

Pulsómetro

Um relógio de 2017 com pulsómetro: A.Lange & Söhne 1815 Chronograph Black Dial Pulsometer | Foto: A.Lange & Söhne

Uma ajuda à saúde: a escala pulsométrica permite um rápido calcular da pulsação de uma pessoa e era sobretudo muito utilizada em relógios de médicos a meio do século XX, mantendo-se como uma variante clássica em cronógrafos contemporâneos inspirados pelo passado. A maior parte das escalas pulsométricas estão calibradas de 15 a 30 pulsações; quando se inicia a contagem do cronógrafo à primeira pulsação, pára-se o cronógrafo ou à 15º ou à 30ª pulsação — a indicação do ponteiro dos segundos na escala dá o cálculo da frequência cardíaca por minuto do utilizador.

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