Sobre quando Arthur Junghans atirou com o fundador da Mercedes para dentro de um poço

A atual coleção “Meister Driver” da Junghans, não representa uma incursão gratuita do fabricante alemão no fértil campo da inspiração automóvel, mas tem, na realidade, raízes profundas na história da casa de Schramberg e nas primeiras gerações da família fundadora.

Quando em 1908, Arthur Junghans, o filho do fundador da Junghans Erhard Junghans, decide adicionar à sua produção corrente relógios de tablier para a indústria automóvel, estava em boa parte a garantir que se mantinha de alguma forma ligado ao automobilismo, pelo qual sempre nutrira uma enorme paixão.

A mecânica e a tecnologia exerciam em Junghans um fascínio enorme, pelo que não demorou muito a que a elite da época começasse a acorrer à cidade de Schramberg. A mansão de Junghans tornou-se assim no ponto de encontro de nomes como Hanz Holzwarth, inventor da primeira turbina a gás, Ferdinand von Zeppelin, que não necessita de apresentação, e também de Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, a dupla que está na origem da atual Mercedes-Benz. As inevitáveis tertúlias que se geraram, acabaram por dar origem a numerosas invenções, numa época onde o empreendedorismo industrial era o equivalente às atuais start-ups tecnológicas.

Em 1892, o automóvel era ainda uma raridade exótica ao alcance de poucos. Um aspeto que não impediu Junghans de adquirir um dos primeiros protótipos de Gottlieb Daimler, que o próprio Wilhelm Maybach conduziu até Schramberg para entregar ao seu novo proprietário. Aliás, os três homens haviam de se tornar num trio infernal, temido em todas as estradas da região.

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1895 – À frente: Wilhelm Maybach e Gottlieb Daimler. Atrás: Dr. Oskar Junghans.

No entanto, ser conduzido, em vez de conduzir, era também uma opção, pelo que os três inventores decidem contratar Gottlob Melchior, o sapateiro de Schramberg, que assim se torna, muito provavelmente, no primeiro Chauffeur privado da história.

Mas logo no primeiro dia de trabalho, que previa uma excursão de 130 km de Schramberg até Zurique para uma visita à mãe de Junghans, Melchior irrompe pela sala do pequeno almoço anunciando aos três homens no seu peculiar dialeto da floresta negra, uma fuga de combustível e a impossibilidade de dar ínicio à viagem.

Maybach, Daimler e Junghans saltam literalmente das suas cadeiras e precipitam-se para as cavalariças transformadas em garagem. O diagnóstico surge rápido e identifica um tubo de gasolina danificado que Maybach começa de imediato a substituir deitando-se por debaixo do veículo. Mas durante o processo, fica encharcado em gasolina, e quando mais tarde decide começar a aquecer as resistências da ignição, não evita que as suas roupas se incendeiem. No meio de algum pânico, Junghans tem o discernimento e o sangue frio de pegar em Maybach e atirá-lo literalmente para dentro de um poço nas proximidades.

No entanto, a rápida intervenção não evitou que Maybach sofresse queimaduras graves, passando os meses seguintes internado num hospital em recuperação. O lamentável episódio leva a que Junghans e Daimler se concentrem no desenvolvimento de uma ignição menos perigosa capaz de evitar casos semelhantes no futuro.

Junghans encarrega um professor da escola de obras públicas de Estugarda de explorar a ideia de uma ignição elétrica. Uma tarefa que este passa ao professor e técnico Robert Bosch que, mal encontra uma solução, a vê rejeitada por Gottlieb Daimler. Bosch questiona o que fazer com a invenção que lhe fora encomendada, mas a reacção de Daimler leva Junghans a perder o interesse e a dar carta branca a Bosch para fazer com ela o que bem entendesse.

O resto faz parte da história do automóvel.

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