Franck Muller Crazy Hours: 15 anos de folia

Face à vertigem da era moderna, as decisões têm de ser feitas na hora. Para escapar a essa urgência contemporânea, Franck Muller foi na direção oposta e idealizou o Crazy Hours há 15 anos – para combater a inexorabilidade do tempo e ajudar os portadores do relógio a viver a sua própria originalidade no quotidiano. No âmbito da exposição ’15 anos Crazy Hours’ que está a passar por alguns pontos de venda em Portugal, eis a história de uma década e meia de divertida folia relojoeira.

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours Tourbillon © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours Tourbillon © Paulo Pires
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Paulo Pires

Na sequência dos famigerados ataques do 11 de setembro (de 2001), o mundo transformou-se subitamente num local muito sombrio. Franck Muller sentiu na altura a necessidade de combater esse pessimismo generalizado através de criações relojoeiras exuberantes e surpreendentes, tendo idealizado o Crazy Hours numa viagem às Ilhas Maurícias em que o mestre relojoeiro helvético se apercebeu de que todas as suas férias eram excessivamente pontuadas por regras. Resolveu então dar asas à sua imaginação e criar um relógio que contrariasse a inexorabilidade do tempo…

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Paulo Pires

Típico dele, esse devaneio. Franck Muller ganhou fama ao afirmar-se como um verdadeiro anticonformista face ao marasmo da indústria relojoeira suíça: quando começou a fazer relojoaria, optou por fazer coisas que na altura não se faziam – porque tinha vontade de as fazer e porque ninguém as queria ou conseguia fazer. Foi contra o que estava pré-determinado e os reacionários logo o catalogaram de louco, mas a verdade é que o mestre genebrino abriu alas para que toda uma geração de relojoeiros pudesse exprimir-se sem medo. Desbravou novos caminhos nos formatos, nos tamanhos, nas cores e também na maneira de encarar o tempo. Foi nessa senda que nasceu, em 2003, um dos mais emblemáticos modelos da marca com o seu nome: o Crazy Hours veio oferecer um toque de irreverência ao quotidiano e estabelecer uma nova filosofia do tempo, que hoje em dia pode ser vista em várias marcas de alta relojoaria sob o labéu de ‘complicações poéticas’, mas que o próprio Franck Muller define de outra fora: “no Crazy Hours, quebrámos os códigos do tempo. Por exemplo, quando vê o ponteiro a indicar as 3 horas, imagina que está no trabalho, ao passo que se o colocar de forma diferente no mostrador, a sua perceção muda. Entra na categoria dos relógios filosóficos”, referiu em entrevista exclusiva à Espiral do Tempo.

Uma dose de loucura

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Paulo Pires
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams Lady © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams Lady © Paulo PIres

Na verdade, o Crazy Hours denota uma loucura face à inexorabilidade do tempo que é bem mais racional do que a aparente aleatoriedade que salta à vista: ao invés de o ponteiro das horas seguir o seu curso normal no mostrador (a habitual rotação que acompanha a numeração sucessiva da 1 às 12), salta cinco ‘casas’ da 1 hora para as 2 horas (que estão localizadas onde habitualmente são as 6 horas), depois mais cinco ‘casas’ das 2 para as 3 horas (onde tradicionalmente são apresentadas as 11 horas) e aí por diante!

Ou seja, o mostrador apresenta os algarismos numa completa desordem… mas mantém uma correta indicação do tempo graças a um mecanismo de horas saltantes verdadeiramente pendular: em vez de seguir a trajetória circular, o ponteiro das horas salta de maneira aparentemente imprevisível mas lógica no mostrador, enquanto o ponteiro dos minutos se move de modo convencional.

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams e Crazy Hours © Franck Muller

E foi assim, com um truque traquinas tornado possível pela técnica relojoeira, que o Crazy Hours demonstrou a sua independência face à ordem estabelecida do tempo – uma ordem existente desde que, no antigo Egipto, os faraós determinaram a divisão do dia em 12 horas e os relógios de sol inauguraram uma ordem cronológica que permaneceu até aos dias de hoje. Essa ordem está enraizada no nosso subconsciente: o meio-dia sempre foi associado ao zénite (ao ponto mais alto do sol) e o hábito faz com que um rápido olhar para os ponteiros nos dê uma ideia imediata das horas…

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours © Paulo PIres
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours Tourbillon © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours Tourbillon © Paulo Pires

As ‘horas loucas’ de Franck Muller constituem mesmo um autêntico corte epistemológico em relação a um hábito analógico que é milenar. Exaltando um caos aparente no mostrador, o Crazy Hours veio romper com a tradicional percepção circular do tempo e estabelecer uma nova filosofia ao proclamar a sua independência face à ordem estabelecida pelo ponteiro das horas. Veio também dar início a um alargado portefólio de modelos Crazy Hours em diversos metais na caixa, múltiplos formatos e vários tamanhos. Sem esquecer as divagações estilísticas, como a variante Crazy Color Dreams, que utiliza um tom psicadélico para esconjurar o cinzentismo da crise, e o Crazy Hours Tourbillon, que junta o movimento hipnótico do turbilhão à aparentemente anárquica animação das horas saltantes.

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours Tourbillon © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Hours Tourbillon © Paulo Pires
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams Lady © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams Lady © Paulo Pires

A Franck Muller sempre atribuiu enorme importância ao ‘rosto’ das suas criações: os mostradores, feitos em Watchland, são sempre de elevada qualidade e o acabamento é superlativo. No caso dos modelos mais tradicionais Crazy Hours, o fundo trabalhado em guilloché soleil recebe algarismos árabes sombreados e dispostos em explosão a partir do centro. Quanto à caixa, o Crazy Hours começou por estar disponível no emblemático formato Cintrée Curvex tão indissociável do êxito da marca: uma estrutura de opulenta arquitetura que requer um vidro convexo de extrema complexidade para que o conjunto se afigure perfeito. Para além das sensuais curvas Cintrée Curvex, o conceito Crazy Hours foi também aplicado a outros formatos da coleção (retangulares, quadrados) e sobretudo a modelos da linha mais modernista Vanguard que tão importante é para a marca.

Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams e Crazy Hours © Franck Muller
Franck Muller Cintrée Curvex Crazy Color Dreams e Crazy Hours © Franck Muller

“Sempre gostei de originalidade e nunca me conformei perante o excessivo conservadorismo da indústria relojoeira. Foi por isso que desde sempre procurei desbravar novos formatos e tamanhos, novas técnicas e cores”, sublinhou na altura Franck Muller. “O Crazy Hours surge na linhagem de vários modelos que personificam a minha abordagem filosófica à temática do tempo – que, como se sabe, é relativo”. Os 15 anos de vida já estão devidamente relativizados com as celebrações; a partir de agora, o que conta é mesmo a comemoração do 20º aniversário do relógio em 2023…

Mas até lá, anda podemos relativizar mais um pouco.

É que, para encerrar em grande o aniversário do Crazy Hours, Portugal recebe uma exposição que contempla algumas das mais marcantes versões do louco modelo. Esta exposição, arrancou na Torres Joalheiros da avenida da Liberdade, onde esteve patente entre os dias 26 de julho e 8 de setembro, e vai inagurar no próximo dia 9 de outubro na Machado Joalheiro da avenida da Boavista, no Porto, onde permanece até dia 31 de outubro. Por fim, regressa à avenida da Liberdade, em Lisboa, no dia 2 de novembro, mais especificamente à Gilles Joalheiros. Ali pode ser visitada até 3 de dezembro.

Visite o site oficial da Franck Muller para mais informações sobre o Crazy Hours.

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