In Memoriam: Roger Dubuis, o amigo do português

Roger Dubuis, co-fundador da marca que ostenta o seu nome, deixou-nos na passada sexta-feira. Tinha 80 anos. O seu trajeto fica intimamente ligado à associação com Carlos Dias, com quem fundou uma das mais inesperadas marcas contemporâneas de alta-relojoaria.

Era muito discreto e a sua visão da relojoaria fina estava muito distante do negócio em que ela se transformou hoje em dia – e, diga-se de passagem, da companhia que atualmente ostenta o seu nome. O mestre relojoeiro Roger Dubuis morreu aos 80 anos, numa altura em que a marca Roger Dubuis se dedica a criações modernas que tentam fazer jus ao epíteto entretanto criado de ‘Mestres da Esqueletização Contemporânea’.

Roger Dubuis trabalhou em várias marcas, desde os começos na Longines ao desenvolvimento de complicações na Patek Philippe, até que no início da década de 80 criou um atelier de restauro e criação para satisfazer encomendas exclusivas. Em 1995, foi convidado pelo amigo português Carlos Dias a dar o seu nome a um novo projeto relojoeiro – uma nova marca de alta-relojoaria com edições de tiragem exclusiva, muitas delas baseadas no seu movimento de indicação bi-retrógrada patenteado em 1986. A Roger Dubuis sempre teve mais de Carlos Dias do que de Roger Dubuis e, se no início os relógios apresentavam uma irrepreensível estética neo-clássica, a evolução dos designs e do próprio perfil da marca no auge do boom relojoeiro terão contribuído para o distanciamento entre os dois que conduziu ao afastamento do mestre – enquanto Carlos Dias prosseguiu com o projeto industrial que levou ao estabelecimento de uma manufatura nos arredores de Genebra com verticalização de toda a produção e obtenção do Punção de Genebra para todos os seus exemplares. Em 2008, Carlos Dias vendeu os 60 por cento que detinha na marca ao Grupo Richemont por cerca de 180 milhões de francos suíços e veio para Portugal investir nos ramos da saúde e dos vinhos.

Entretanto, em 2011 a Richemont decidiu contratar Roger Dubuis para dar maior legitimidade, com a sua presença, a uma marca que então procurava uma nova identidade que lhe permitisse distinguir-se ainda mais das restantes companhias relojoeiras do grupo.

Roger Dubuis
O mestre Roger Dubuis juntamente com duas personagens que ajudaram a criar o envolvimento místico ‘Excalibur’ no stand da Roger Dubuis da edição de 2014 do Salon International de la Haute Horlogerie. © Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Desde então, a presença de Roger Dubuis no Salon International de la Haute Horlogerie quase se transformou numa photo opportunity – com jornalistas, retalhistas e aficionados a aproveitarem para tirar fotografias com ele. Isso já não acontecerá na próxima edição do certame, em janeiro de 2018.

Descanse em paz, mestre Roger Dubuis.

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