Uma das espetaculares imagens da produção fotográfica ‘Arrefecimento Global’ publicada na edição da Espiral do Tempo que ainda está nas bancas convenceu-me a escrever sobre um dos meus relógios preferidos, o Master Compressor Extreme World Alarm da Jaeger-LeCoultre. Aqui fica a minha perspetiva sobre o meu mais fiel companheiro de aventuras.
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Aqui está a tal imagem. Espetacular, não? Faz parte da produção «Arrefecimento Global», com realização de Ricardo Preto e fotografia do meu amigo Nuno Correia. Fez-me ter a ideia de escrever sobre o relógio fotografado, que aprecio muito. E, de facto, quando a Jaeger-LeCoultre apresentou o seu primeiro modelo Master Compressor Extreme a meio da década passada, não só tive a noção imediata de que estava perante o relógio do ano mas também que se tratava de um relógio perfeito para mim. Felizmente, não me precipitei em adquirir o Master Compressor Extreme World Chronograph… porque mais tarde surgiu outro modelo da mesma linha que me encheu ainda mais as medidas e que me convenceu definitivamente: o Master Compressor Extreme World Alarm (referido pelo ligeiramente mais curto nome de Master Compressor Extreme W-Alarm).
Na verdade, o que eu gostava mesmo era de uma simbiose entre os dois — um instrumento do tempo robusto e fiável da linha Master Compressor Extreme que conjugasse as funções de cronógrafo e worldtimer com um alarme mecânico. Disse-o várias vezes a Jérôme Lambert, o homem que esteve uma dúzia de anos à frente da Jaeger-LeCoultre e catapultou a manufatura de Le Sentier para um novo patamar na sua história; ele respondia-me sempre que, se fizessem uma tal versão, me ofereceria o primeiro exemplar mas que seria necessário criar primeiro um calibre completamente novo com todos os custos (leia-se: milhões) que isso acarretaria. Agora que a direção do Grupo Richemont o transferiu para as funções de CEO da Montblanc, creio que esse presente não irá chegar nunca…
Uma questão de… cor
Mas não importa. Mesmo que eu seja um grande aficionado de cronógrafos e fosse muito útil para as minhas viagens a sua conjugação com a função worldtimer presente no Extreme World Chronograph, optei pela combinação de alarme com worldtimer no Extreme W-Alarm não só porque as complicações acústicas mecânicas sempre me fascinaram (tenho um Master Réveil, também da Jaeger-LeCoultre) mas também porque a luneta mais fina torna-o esteticamente mais apelativo do que o seu ‘irmão’… pelo menos aos meus olhos. E também fiquei contente por ter esperado mais um pouco antes da aquisição definitiva: o modelo regular Master Compressor Extreme W-Alarm apresenta um semicírculo vermelho no anel dos fusos mundiais e logo depois surgiu uma edição limitada dedicada a Valentino Rossi com nuances em amarelo, mas foi a versão com o azul como cor complementar que me convenceu totalmente.
Muitas vezes critiquei o facto de a indústria relojoeira suíça se cingir quase exclusivamente ao vermelho ou ao amarelo como cores complementares do preto em relógios desportivos, se bem que de há dez anos para cá a paleta cromática se tenha alargado substancialmente. Sempre gostei da combinação do preto com o azul e quando surgiu o Master Compressor Extreme W-Alarm na sua variante ‘Tides of Time’ (uma edição limitada a 250 exemplares que celebra a associação da Jaeger-LeCoultre à UNESCO na preservação de 46 locais marítimos), fiz logo a reserva. E continuo completamente satisfeito: é e será sempre um dos meus relógios preferidos.
A linha Master Compressor Extreme foi concebida no dealbar do milénio para assumir a enorme responsabilidade de se tornar na principal gama de vocação desportiva da Jaeger-LeCoultre e conheceu várias extensões — desde a Diving de relógios de mergulho até à Navy SEALs de inspiração militar, sendo que a minha preferida se mantém a variante Extreme World, que representa um cocktail de inovadoras patentes relojoeiras que permitem a sua utilização em situações absolutamente radicais. Como referi, o primeiro da linhagem foi o Extreme World Chronograph, um cronógrafo dotado de indicação instantânea dos 24 fusos horários que em 2005 se tornou no maior instrumento de pulso jamais saído dos ateliers da manufatura de Le Sentier; seguiu-se-lhe o Extreme W-Alarm, que alia a sempre útil função do alarme mecânico à explanação instantânea de todas as zonas horárias do planeta.
Com um diâmetro de 46,3 mm, ambas as versões World Extreme acompanhavam a tendência dos relógios sobredimensionados em voga na altura e assumiam-se como elegantes bestas injetadas com o melhor da tecnologia contemporânea, se bem que o seu tamanho até se justificava mais por pertinentes razões técnicas do que por uma mera questão de moda: a arquitetura da caixa é volumosa por ser dupla e albergar um sistema de amortecedores que protegem o relógio de qualquer brutalidade.
Carrosseria dupla fora, dupla complicação dentro
Essa estrutura dupla da carrosseria, composta por uma caixa de titânio dentro do suporte em aço ou ouro rosa (consoante as versões), inclui uma revolucionária câmara de ar que absorve a energia das vibrações e dos choques até 2.800 G — para além de, no caso do Extreme World Alarm, ter sido preparada para fazer ressoar acusticamente o alarme (protegido por duas patentes). A coroa em alumínio que controla o disco das cidades situa-se às 10 horas e tem uma alavanca que liga e desliga o alarme; as outras duas coroas (para a função do alarme e acerto de data, às 2 horas; de corda e acerto das horas, às 4 horas) dispõem da emblemática válvula de compressão que é característica da linha Master Compressor e que garante uma estanqueidade até aos 100 metros. E aqui estão elas, bem evidentes, a acompanhar uma bracelete de cortiça de cor natural concebida sob especificações do Museu do Relógio de Serpa/Évora.
Dentro da volumosa caixa dupla do Extreme W-Alarm com acabamento polido e escovado, o Calibre 912 junta duas grandes especialidades mecânicas com grande tradição na história da Jaeger-LeCoultre: as funções de horas universais (24 fusos) e alarme mecânico (horas e minutos), a par das habituais horas, minutos, segundos e data. Manufaturado e decorado à mão, o movimento é composto por 315 peças e 28 rubis, bate a 28.800 alternâncias/hora e tem 45 horas de reserva de corda. O balanço é de inércia variável e a soldadura da mola espiral ao pitão e à virola é feita a laser. O rotor está assente num rolamento de esferas de cerâmica que dispensa lubrificação e manutenção.
Mais versões: de Angola à Aston Martin
Acima do mostrador e por baixo do vidro de safira, os algarismos, indexes e ponteiros luminescentes de grande visibilidade são característicos das linhas Master Compressor e Master Compressor Extreme — por sua vez inspiradas no grafismo do Memovox Polaris de 1965. No perímetro circulam um disco de 24 horas e um disco com 24 locais representativos dos 24 fusos — no caso da minha versão ‘Tides of Time’, o disco inclui 21 das 24 cidades habituais e mais três locais de preservação marítima certificados pela UNESCO (Scandola, Galapagos, Tubbataha); o mostrador tem abertura para a data às 3 horas e para o tempo do alarme (em duplo disco de horas e minutos) das 7 às 10. As outras versões têm indicações ligeiramente diferentes no disco das horas mundiais.
Numa iniciativa da Torres Distribuição, representante da Jaeger-LeCoultre em Portugal, em parceria com a Ouriversaria Camanga, o Master Compressor Extreme W-Alarm teve uma tiragem limitada dedicada a Angola denominada ‘Renascer’ (com Luanda entre as 24 cidades do disco worldtimer e um diamante no mapa do fundo da caixa a indicar a província de onde o proprietário é oriundo no país) declinada em ouro rosa e em platina. Foi seguramente a mais imaginativa e requintada, para não dizer preciosa, de todas as edições associadas ao modelo… que recebeu recentemente mais uma variante.
Pois é: depois da versão amarela ‘Valentino Rossi’ com o número fetiche do piloto italiano em destaque e da azul ‘Tides of Time’, o Extreme W-Alarm surge este ano associado à Aston Martin numa nova variante limitada a 100 exemplares que mantém o vermelho do modelo regular como cor complementar; a principal diferença reside no padrão decorativo no fundo preto do mostrador que replica a grelha dos bólides da centenária escuderia britânica. Ah, e também numa correia em pele de crocodilo personalizada com pespontos vermelhos.
Sistema rápido de troca de correia/bracelete
Um pormenor que me atraiu particularmente prende-se com o sistema que permite uma rápida troca de correia ou bracelete — um sonho para um ‘strapaholic’ como eu, sempre à procura da próxima correia ou bracelete. Dois botões retangulares no fundo da caixa permite um rápido intercâmbio entre a bracelete de borracha vulcanizada e a correia em pele de pesponto duplo que são entregues com cada exemplar, estando também disponível uma bracelete em aço. Para retirar a correia/bracelete, basta puxar o botão; para colocar, basta empurrar a correia/bracelete através da ranhura para as molas até à sua fixação.
Se nunca tive qualquer interesse em adquirir a bracelete em aço, tenho coleccionado correias alternativas para o meu Master Compressor Extreme W-Alarm ‘Tides of Time’ (nome comprido, hein?) e divirto-me a alternar entre elas consoante a circunstância. Para já, uma confissão: a versão ‘Tides of Time’ vinha com uma bracelete azul em cauchu cuja tonalidade não batia bem com o azul do mostrador e para mais não era especialmente atrativa, pelo que rapidamente a troquei pela bracelete em cauchu preta do modelo regular (a da edição limitada dedicada ao Valentino Rossi é amarela). Aqui está ela, ideal para a praia ou para a vela:
E agora debaixo de água, para testar a estanqueidade do relógio e a eficácia do emblemático sistema de válvulas (daí o nome Compressor) que equipa as coroas, impedindo qualquer infiltração a partir daí:
Quanto à correia em calfe original também incluído no estojo do relógio, tem uma inserção metálica que a adequa mais a pulsos de maior dimensão do que propriamente ao meu e por isso raramente a uso. Mas aqui está ela, no alto da colina em frente à manufatura Jaeger-LeCoultre, em Le Sentier, na Vallée de Joux.
A seguinte fotografia, tirada nas cabinas da televisão do Court Philippe Chatrier onde comentei a edição deste ano de Roland Garros para o Eurosport, coloca em evidência uma magnífica correia castanha de calfe perfurado da TAG Heuer (a que foi criada para a edição limitada do Carrera SpaceX) que dá um espírito de desporto motorizado ao Extreme World Alarm ‘Tides of Time’:
Outra correia com inspiração racing: de couro preto com textura perfurada (embora só à superfície) e pespontos contrastantes (em branco) que pertence à colecção AMVOX que a Jaeger-LeCoultre dedica à sua parceira britânica Aston Martin. Foi-me oferecida como presente de aniversário por um amigo da Jaeger-LeCoultre, o Pierre-Ettore Millerau… já que nessa altura estava precisamente em Le Sentier para fazer uma reportagem para a Espiral do Tempo.
Nesta imagem, o Extreme W-Alarm aparece ‘vestido’ com uma patriótica bracelete de cortiça do Museu do Relógio de Évora/Serpa em frente ao Eden Rock, o hotel de St. Barth onde ficam hospedadas as vedetas rock ou do cinema por uma módica quantia entre os 15.000 e os 25 mil euros por noite. Curiosamente, St. Barth (a ilha caribenha de Saint Barthélemy, um autêntico paraíso) está identificada no disco dos 24 fusos horários.
Mais um look de vocação motorizada mas no ambiente estival da Praia do Ancão: uma correia de calfe perfurado (também apenas à superfície) da Porsche Design que tem por particularidade as costuras azuis em tom idêntico ao da cor complementar do mostrador.
Agora com uma espectacular e espessa correia de pele Barenia cor de mel que me foi oferecida por Daniel Dreifuss, fundador da marca Maurice de Mauriac e dono da boutique em Zurique que vende os seus relógios mas que é sobretudo uma meca para os aficionados de correias de pele e braceletes NATO como eu. Vale a pena ir ao menu do nosso site para recuperar a reportagem feita in loco…
Depois de vários anos à procura de uma bracelete NATO condizente (teria de ter 22 mm de largura, preferencialmente de listas pretas e azuis num tom parecido com o do mostrador e suficientemente robusta para segurar a pujança da caixa do relógio), consegui finalmente encontrar a mais adequada: no ano passado, a Maurice Lacroix levou as braceletes NATO da subcultura dos aficionados para o mainstream ao dotar os seus cronógrafos Pontos S de braceletes listadas a condizer com o mostrador (preto/azul, preto/vermelho, preto/laranja) e não só mais espessas do que o habitual mas também sem a banda suplementar e o metal em excesso (que eu sempre retiro). O meu amigo Hartmut Kraft, que distribui a Maurice Lacroix nos Estados Unidos e é conhecedor do meu fascínio por braceletes NATO, mandou-me a de listas pretas/azuis para eu experimentar; o azul não é bem igual ao do mostrador do World Extreme W-Alarm, mas… não fica nada mal:
Para concluir e para voltar a fazer jus à inscrição St. Barth no mostrador do Extreme World Alarm ‘Tides of Time’, uma última imagem da bracelete de cortiça escura exclusivamente feita para a loja do Museu do Relógio de Serpa/Évora (comercializada no local; mais informações através do contacto no website em museudorelogio.com) no cenário maravilhoso da praia de St. Jean na ilha de St. Barth. «Life’s a beach», já dizia o outro…. mandem-nos os vossos wristshots para eventual publicação no site ou na nossa página Facebook!
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