A Chronoswiss e a Bremont apresentaram novos modelos sem ponteiros na Dubai Watch Week. Num caso, tratou-se de uma revisão do passado; no outro, uma estreia brilhante.
São relógios com um charme especial e suficientemente distintos para sobressair da generalidade — e 2025 tem sido o ano do ressurgimento dos relógios digitais, ou montres à guichet. A Cartier deu o mote no Watches and Wonders com o Tank à Guichets, a Bremont surpreendeu então com o Terra Nova Jumping Hour automático e voltou a insistir nessa via com mais duas recentes variantes, ao passo que a Chronoswiss deu a conhecer o Neo Digiteur de corda manual. Num mundo digital, os relógios digitais concitam as atenções no mundo da relojoaria fina… mas motorizados por movimentos mecânicos tradicionais. Noblesse oblige!

E porque sobressaem? Habitualmente, o conceito circular de tempo está fielmente reproduzido através de ponteiros que efetuam voltas completas sobre o seu próprio eixo — quer seja em mostradores redondos, retangulares, tonneau ou mesmo assimétricos. A apresentação digital afigura-se como um conceito diferente que transforma a lógica habitual do tempo e lhe dá um toque mais extravagante, ao mesmo tempo que abre novos espaços para a arquitetura do mostrador.

Na sua aparência, a disposição digital do tempo parece simples — até porque, hoje em dia, esse tipo de apresentação está banalizado pela sua omnipresença, que vai desde os relógios de quartzo baratos até ao tablier de qualquer viatura, passando pelo televisor e até pelo micro-ondas. Mas, num relógio mecânico, encerra uma complicação que constitui um desafio para qualquer relojoeiro. Os níveis de complexidade são vários e estão diretamente ligados à sofisticação técnica inerente à tipologia, fiabilidade, originalidade e autonomia de corda. Porque na década de 70, quando a conquista do espaço lançou a sociedade num frenesim futurista e os relógios de quartzo com mostrador em LED ou LCD começavam a inundar o mercado, também os relógios mecânicos digitais se banalizaram com o recurso à banal solução de substituir os ponteiros por discos — numa guerra que rapidamente se tornou impossível de ganhar, porque o que era novo e revolucionário (e mais preciso, sendo o quartzo imbatível nesse aspeto) é que era bom…

Aqui ficam as principais novidades ‘digitais’ em exibição na sétima edição da Dubai Watch Week, com a assinatura da Chronoswiss (um regresso ao passado) e da Bremont (a aposta numa nova via).
Chronoswiss: Neo Digiteur Sand & Granit
Em 2005, a Chronoswiss introduziu um modelo que pretendia homenagear uma importante era na história da relojoaria: a dos anos 30, que adotou formas retangulares e experimentou novas formas de leitura do tempo sob a influência estilística da corrente Art Déco. Como o próprio nome Digiteur deixa transparecer, o mostrador tinha a particularidade de não apresentar ponteiros (discos com algarismos impressos efetuam uma rotação para indicar as horas, os minutos e os segundos sob janelas abertas no mostrador) e a caixa geométrica albergava um mecanismo retangular de época (o Calibre FEF130), devidamente adaptado aos padrões de qualidade do início do século XXI. O Digiteur MAS (Montre Sans Aiguilles) foi então concebido numa exclusiva edição limitada de 990 exemplares em todo o mundo.

O Neo Digiteur agora lançado pela Chronoswiss é ainda mais exclusivo na sua tiragem (99 exemplares para cada uma das variantes Sand e Granit) e é bem mais do que uma reedição desse Digiteur — é uma reinterpretação dotada de uma arquitetura mais voluptuosa e de um calibre mais aperfeiçoado. Mas a apresentação do tempo permanece a mesma: discos com algarismos impressos efetuam uma rotação para indicar as horas, os minutos e os segundos sob as respetivas janelas no mostrador. O disco das horas salta um segmento a cada intervalo de 60 minutos; os outros dois discos rodam em movimento contínuo. Para suportar essa apresentação digital, foi desenvolvido um módulo original, montado na parte da frente do mecanismo, sob o mostrador…

Visível através de uma janela retangular no fundo, o movimento é finalizado com guilhoché à mão executado no Atelier Lucerne da Chronoswiss — combinando tradição com arte mecânica moderna. No mostrador, e tendo em conta a especialização da Chronoswiss na configuração de relógios do tipo regulador, o Neo Digiteur afigura-se um regulador sem ponteiros concebido para clareza, eficiência e fascínio visual: horas saltantes às 12 horas, minutos digitais no centro e segundos contínuos às 6 horas. Três aberturas nítidas recortadas num mostrador curvo que acompanha a voluptuosidade de uma caixa esculpida em aço que vai bem mais para além da primeira impressão retangular dada pelo mostrador.

A silhueta em forma de barril (48mm x 30mm, maior do que o Digiteur original) adapta-se ao pulso na sua curvatura e proporciona a sensação de volume. Um segmento horizontal de textura microjateada no flanco confere leveza e contraste à geometria estruturada, enquanto as arestas polidas refinam a interação visual. A coroa é uma interpretação contemporânea da histórica forma de ‘cebola’ caraterística da Chronoswiss, que foi achatada na parte inferior para melhorar a ergonomia e a coerência do design.

No coração do Neo Digiteur pulsa o Calibre C.85757 de corda manual e 48 horas de reserva de carga, dotado de um módulo digital exclusivo que foi desenvolvido internamente no Atelier Lucerne. As duas edições limitadas do Neo Digiteur oferecem personalidades distintas: o Neo Digiteur Granit apresenta um mostrador antracite com acabamento acetinado vertical e os discos brancos incluem algarismos minimalistas em azul. O Neo Digiteur Sand apresenta um mostrador de tom dourado 4N jateado com elegantes numerais em azul. Preço: à volta dos 15.000 euros.

Bremont: Terra Nova Jumping Hour Steel & Aventurine
Após ter estreado o seu modelo Jumping Hours na Watches & Wonders com mostrador preto, a Bremont adicionou uma nova variante Steel com mostrador em aço há cerca de um mês e na Dubai Watch Week aventurou-se com uma versão ainda mais sofisticada — dotada de uma caixa em aço de acabamento ‘frosted’ e mostrador em pedra aventurine.

O atual CEO da Brement, Davide Cerrato, sempre procurou aquilo que define como ‘hero watch’ nas marcas em que trabalhou anteriormente (nomeadamente a Tudor e a Montblanc); na Bremont, esse relógio protagonista parece ser o Terra Nova Jumping Hour. Integrando a linha Terra Nova estreada em 2024 com formato tonneau e inspirada nos field watches de outrora, foi um modelo que não deixou ninguém indiferente aquando do seu lançamento em abril — tendo em conta os habituais relógios da marca. Para mais, ganhou o prémio Trend Watch of The Year da revista WatchPro.

Em particular, o novo Jumping Hour Aventurine segue a tendência da utilização de mostradores em pedras semipreciosas nos últimos tempos e oferece uma aura quase joalheira. O mostrador foi cortado com utensílios de ponta de diamante e polido até aparentar um aspeto vítreo, sendo depois montado numa base de metal para ganhar solidez. Até o acabamento da caixa é distinto de tudo o que a companhia britânica fez anteriormente, com todo o trabalho feito no aço 904L (mais brilhante do que o aço habitualmente usado na indústria). Está limitado a 50 exemplares.

Quanto à mecânica, o Calibre BC634 dos modelos Terra Nova Jumping Hours foi desenvolvido num acordo exclusivo (protegido durante dois anos) com a Sellita e tem por base o Calibre SW200, apresentando a força necessária para fazer saltar o disco das horas num décimo de segundo. A configuração apresenta as horas saltantes e os minutos deslizantes às 9 horas, com segundos de eixo central.

Lançado em outubro, o Terra Nova Jumping Hour Steel tem o mesmo formato tonneau da caixa e o mesmo diâmetro de 38mm, mas um mostrador diferente em aço de acabamento escovado vertical e uma configuração distinta — que já se tinha visto antes no Terra Nova Jumping Hour Bronze de 38mm, com uma janela para as horas saltantes às 12 horas, disco deslizante dos minutos logo abaixo de uma abertura central e um miniponteiro para os segundos. A Bremont define-o como um trench watch, inspirado nos relógios militares de trincheira que precisavam de ter a maior parte do vidro protegido.

O preço das novidades? Terra Nova Jumping Hour Steel: 5.050 euros em correia de pele e 5.350 em bracelete de aço; Terra Nova Jumping Hour Aventurine: 10.750 euros.





