Konstantin Chaykin: o lado artístico do mestre relojoeiro

Konstantin Chaykin viu uma das suas obras artísticas ser arrematada por mais de 60 mil dólares no Geneva Watch Auction: XXI. E não se trata de um relógio, mas de um autorretrato pintado pelo próprio, que reflete a sua visão filosófica do tempo, numa fusão entre a arte e a relojoaria.

Konstantin Chaykin viu uma das suas obras artísticas ser arrematada por mais de 60 mil dólares no Geneva Watch Auction: XXI, que decorreu nos dias 10 e 11 de maio. Intitulada Thinking of the Time’s Birth, trata-se de uma pintura que foi leiloada juntamente com um protótipo do ThinKing, com apenas 1,65 mm de espessura e anunciado como o mais fino relógio de pulso do mundo. O quadro e o relógio foram desenvolvidos paralelamente e ao longo de dois anos, num processo que reflete a visão filosófica do tempo do mestre relojoeiro e artista russo.

A pintura Thinking of the Time's Birth de Konstantin Chaykin
A obraThinking of the Time’s Birth de Konstantin Chaykin foi leiloada por mais de 60.000 dólares, no Geneva Watch Auction: XXI | Foto: Konstantin Chaykin

Entre relógios e arte

Konstantin Chaykin é reconhecido pela sua criatividade em relojoaria que já o levou a lançar a coleção Wristmons, por exemplo, mas ao mesmo tempo tem vindo a afirmar-se também como artista plástico. Em comunicado, explica-se que a pintura e o desenho são formas de expressão que lhe permitem explorar ideias que não cabem na estrutura limitada de um relógio. Pinta desde jovem e tem partilhado o seu tempo entre a bancada de relojoeiro e o cavalete de pintura.

O mestre refere que a sua arte é muito influenciada por temas filosóficos e religiosos, nos quais o tempo surge como elemento central. E no caso específico da obra leiloada, o destaque vai para uma alegoria da criação do tempo, com referências visuais a gravuras de Dürer e à teologia de William Paley. Na pintura enquanto autorretrato, a bancada de trabalho do relojoeiro, transforma-se assim num universo em miniatura, no qual rodagens e parafusos representam astros celestes:

«O autorretrato é uma tentativa do artista de ver o Universo e a criação de relógios através da lente da filosofia e da teologia. Chaykin apresenta-se como um criador, fazendo um novo pequeno mundo. A sua bancada de trabalho divide a pintura como o horizonte divide o céu e a terra. A mesa torna-se o ‘céu’, e as engrenagens, parafusos e pontes tornam-se a Lua, o Sol, as estrelas e um cometa a atravessar o céu (como na gravura ‘Melancholia I’ de Albrecht Dürer).

O mestre russo dá tanta importância à arte como à relojoaria na sua vida | Fotos: Konstantin Chaykin

Konstantin Chaykin já tinha abordado a temática do autorretrato também na relojoaria com o modelo Joker Selfie, da coleção Wristmons, que inclui traços do seu próprio rosto, como a barba e os olhos verdes. Por outro lado, no seu percurso como artista, procurou inspiração em obras clássicas, como a adaptação de ‘Wanderer above the Sea of Fog’, de Caspar David Friedrich, na qual se representa a si próprio de costas na bancada de relojoeiro a montar um relógio. Uma abordagem agora recuperada com a obra que foi a leilão.

A pintura A Deusa Tempa, de inspiração mitológica, foi outro momento importante nesta sua carreira artística, ao ser vendida por quase 24 mil dólares num leilão de caridade, em 2024, a favor da Escola de Relojoaria de Genebra (Ecole d’Horlogerie de Genève).

Na pintura enquanto autorretrato, a bancada de trabalho do relojoeiro, transforma-se assim num universo em miniatura, no qual rodagens e parafusos representam astros celestes | Fotos: Konstantin Chaykin

Na sua abordagem artística, Chaykin recorre frequentemente a símbolos das vanitas barrocas, como caveiras e ampulhetas, para sublinhar a efemeridade da vida. Esta temática também está presente no seu relógio Carpe Diem, que propõe uma reflexão sobre a brevidade da existência. Para Chaykin, o tempo não se resume aos segundos que passam num mostrador, mas é encarado antes como uma linguagem universal que liga engenharia, filosofia e arte de forma multifacetada.

Costuma dizer-se que existem muitos médicos que acabam por desenvolver uma carreira artística, paralela à sua profissão. Na relojoaria não sabemos se o mesmo acontece com frequência (temos ouvido falar mais na música, por acaso), mas o caso de Konstantin Chaykin é parecido. O mestre relojoeiro russo conhecido por dominar a arte relojoeira de uma forma muito própria, revela assim a sua dedicação à pintura, com o tempo como musa inspiradora.


Continue connosco: