Edição impressa | Paralelamente ao desenvolvimento da sua manufatura L.U.C e aos novos desenvolvimentos industriais com o lançamento da Fleurier Ébauches, a Chopard tem também acarinhado um notável acervo histórico no seu museu L.U.CEUM — apresentado num enquadramento semelhante ao de um chalet suíço.
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Originalmente publicado no número 35 da Espiral do Tempo.
No Val-de-Travers, a indústria relojoeira tem renascido com todo o seu esplendor e a localidade de Fleurier está a transformar-se novamente num dos mais interessantes polos relojoeiros da Suíça. Para além de marcas como a Parmigiani ou a Bovet, a instalação da Chopard tem sido o grande polo dinamizador — sobretudo a partir da criação da sua manufatura e da inauguração do seu próprio museu, sem esquecer o advento da Fundação Qualidade Fleurier para certificar a mais alta qualidade técnica/estética dos relógios oriundos da localidade e a recente implementação da fábrica Fleurier Ébauches destinada a uma produção de mecanismos em maior número e não tão exclusivos como os da Manufatura Chopard.
Por trás do progresso que se regista na região (a indústria do setor na zona remonta a 1730, mas perdeu-se a meio do século XX) está uma personalidade que até nem é suíça — é alemã. Reservado e perfecionista, Karl-Friedrich Scheufele preside (juntamente com a sua irmã Caroline) aos destinos da Chopard e é sobretudo o responsável pelo departamento de relógios para homem, pela produção e pelas finanças de uma das marcas de luxo mais completas e glamorosas do Planeta; personifica o charme discreto da família Scheufele e, simultaneamente, dos relógios da marca. Aos 52 anos, é um homem sofisticado, mas de trato simples, que gosta de história e de histórias; é também um grande aficionado de automóveis históricos, vinhos de exceção e, claro, relógios. E, para além de ter projetado a Chopard para um elevado patamar na indústria relojoeira, também desenvolveu uma notável coleção que serve de base ao espólio do museu L.U.CEUM — localizado no andar superior do edifício da sua Manufatura Chopard e que beneficia de um ambiente elegante proporcionado pelo teto esconso e pelas estruturas de madeira. Como um autêntico chalet suíço.
«Sempre me fascinou a coleção de relógios que o meu avô tinha começado; quando era criança gostava de ter os relógios na mão, de os sentir e de os observar — aqueles objetos antigos fascinavam-me. A certa altura, quando passei a estar mais ocupado profissionalmente, quase que me esqueci que essa coleção existia; redescobri a coleção mais tarde, adormecida num cofre; uma das peças é um notável relógio de carruagem — quando o revi como que sofri um baque e desde logo imaginei integrar esses relógios numa coleção, associando-a ao desenvolvimento da Manufatura Chopard para mostrar a história do tempo nos últimos 500 anos», recorda.
Sistema decimal
«As peças que o meu avô tinha guardadas foram o início de uma coleção que se foi desenvolvendo ao longo dos anos — e, à medida que a colecção se foi alargando, fui ficando cada vez mais entusiasmado com ela e comecei a concentrar-me em certos temas, como os cronómetros, os relógios de Fleurier, relógios com a assinatura de Berthoud, relógios com mostradores de esmalte», afirma o co-presidente da Chopard. «O território é muito vasto e acaba também por ter a ver com a Manufatura e a coleção L.U.C; foi necessário uma década de dedicação para chegarmos ao nível que o museu apresenta hoje.»
E, numa bela coleção que tem desde relógios de sol portáteis e ampulhetas até marotas complicações eróticas, qual é a peça que o ‘curador’ mais destacaria? «Diria que é o cronómetro decimal de Berthoud, o primeiro cronómetro de marinha com essas caraterísticas e um instrumento verdadeiramente excecional», refere. Concebido entre 27 de Janeiro de 1792 e 19 de junho de 1793 pelo célebre relojoeiro parisiense Pierre-Louis Berthoud (conhecido por Louis Berthoud e nascido precisamente na Suíça, no Val-de-Travers), o ‘Cronógrafo n.º 26’ tem um enorme peso histórico porque assume uma diferente disposição do tempo — decimal! — na sequência das implementações tentadas pela Revolução Francesa de mudar racionalmente o sistema duodecimal pelo mais lógico sistema decimal. Apesar do princípio ser interessante, o sistema decimal nunca se impôs e foi abandonado oficialmente em 1806. Fica o ‘Cronógrafo n.º 26’ a testemunhá-lo.
«Também destaco o relógio de carruagem original do meu avô que tão importante foi para o arranque da coleção e o relógio de bolso de um mestre alemão chamado Auch que tem uma face dupla com o mecanismo astronómico completo de um lado, algo de excecional para o século XIX. Em geral, o fascínio que tenho por estas peças prende-se com o facto de pensar que estes relógios impressionantes foram feitos com ferramentas limitadas, numa altura em que não havia eletricidade, sem microscópios — basicamente foram feitos com um par de mãos hábeis e muita imaginação. Comparando com os recursos que temos atualmente, toda a pesquisa e desenvolvimento… é algo de incrível».
Em setembro de 2006, Karl-Friedrich e a família Scheufele convidaram os seus amigos e parceiros para comemorar o décimo aniversário do estabelecimento da Manufatura em Fleurier e, paralelamente, inaugurar o museu L.U.C (batizado L.U.CEUM/Traços do Tempo). Em 2010, a Chopard comemora os seus 150 anos e o seu investimento na história abriu um novo capítulo na história de Fleurier e do Val-de-Travers.
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