A já tradicional LVMH Week reuniu na Flórida as principais casas relojoeiras do grupo LVMH — não só a TAG Heuer, Zenith, Hublot e Bulgari, mas também a Gerald Genta e a Daniel Roth. Aqui ficam os mais destacados modelos apresentados por cada uma dessas marcas.
Depois de vários anos no Dubai, o grupo LVMH (Louis Vuitton Moët Henessy) passou a organizar a sua cimeira de arranque de temporada em Miami com as marcas ‘mais relojoeiras’ do seu alargado portefólio — ou seja, a TAG Heuer, a Zenith, a Hublot, a Bulgari e as ‘renascidas’ Gerald Genta e Daniel Roth sob a égide da manufatura La Fabrique du Temps, embora outras marcas premium do conglomerado de luxo liderado por Bernard Arnault, como a Louis Vuitton ou a Dior, também tenham assinalável pedigree relojoeiro.
O rendez-vous da Florida serviu também para a primeira apresentação pública de dirigentes nos seus novos cargos: Julien Tornare como CEO da TAG Heuer (era CEO da Zenith), Benoit de Clerck como CEO da Zenith (vindo do grupo rival Richemont: era COO da Panerai após ser o responsável da IWC nos Estados Unidos) e Frédéric Arnault como diretor do polo relojoeiro do grupo LVMH, vindo de CEO da TAG Heuer e ocupando um cargo de supervisão deixado vago após a reforma de Jean-Claude Biver. Os habituais Jean-Christophe Babin (CEO da Bulgari) e Ricardo Guadalupe (CEO da Hublot) também marcaram presença, tal como Jean Arnault — o mais jovem dos herdeiros Arnault, que para além de refazer a estratégia da gama relojoeira da Louis Vuitton também lidera o projeto La Fabrique du Temps que está a reabilitar as marcas Gerald Genta e Daniel Roth. Num total de seis casas relojoeiras, aqui ficam então os seis relógios que destacamos entre todos aqueles que foram revelados na recente LVMH Week:
TAG Heuer: Carrera Chronograph Dato
A TAG Heuer surgiu com um naipe muito verde (literalmente!) de novidades assentes em belos mostradores esverdeados que incluíram o Carrera Chronograph Dato, o Carrera Chronograph Tourbillon e até o Connected Watch. De todos, o que suscitou maiores atenções por parte da comunidade mais conhecedora do património da marca fundada por Edouard Heuer em 1866 foi o novo Carrera Chronograph Dato, porque remete para o lendário Carrera Ref. 3147 de 1968 que ficou precisamente conhecido por ‘Dato’ devido ao facto de ostentar a janela para a data numa posição pouco habitual (às 9 horas) e manter um único submostrador às 3 horas (o totalizador dos minutos).
Essa interessante configuração, já experimentada na década transacta aquando de uma edição especial da Hodinkee, surge agora aplicada na nova arquitetura Carrera com vidro do tipo glassbox e taquímetro interior de inovadora inclinação que não só acompanha a curvatura do vidro convexo como permite a sua leitura ideal a partir de múltiplos ângulos de visão. Ou seja, um relógio verdadeiramente contemporâneo com pertinente inspiração vintage que resulta num exemplar apelativo não só pelo layout distintivo mas também pela riqueza da tonalidade verde escolhida para o mostrador galvanizado.
O totalizador de 30 minutos substitui o de 45 minutos utilizado no original e um movimento cronográfico automático de manufatura (o TH20-07, variante do TH20-00 com roda de colunas e embraiagem vertical) surge naturalmente em vez do movimento de corda manual do Dato de 1968. Com 39mm de diâmetro e 13,86mm de espessura que parecem mais delgados, é um cronógrafo muito apelativo para aficionados históricos e compradores modernos.
Zenith: Chronomaster Original Triple Calendar
As novidades desveladas pela Zenith estiveram intimamente relacionadas com os seus best sellers — o Chronomaster Original inspirado diretamente no modelo que inaugurou o movimento El Primero em 1969 e o Chronomaster Sport que há três anos lhe deu uma variante mais desportiva com taquímetro na luneta e bracelete metálica. O Chronomaster Sport tem agora um novo mostrador verde e uma versão em ouro com mostrador meteorito e luneta de pedras preciosas, mas o Chronomaster Original Triple Calendar foi claramente a estrela junto dos aficionados puros e duros.
A inclusão de janelas para o dia da semana e para o mês que são complementadas com a disposição das fases da lua não é uma novidade — era essa a configuração do modelo mais destacado da Zenith entre a década de 90 e o início dos anos 2000, mas andava afastada do catálogo da manufatura de Le Locle há quase duas décadas. E surge agora integrada num design muito rétro que respeita os modelos originais de 1969, com um diâmetro de 38mm que faz as delícias dos puristas e três totalizadores contrastantes que são sempre muito apelativos para os amantes de cronógrafos.
Na verdade, a Zenith chegou a pensar em utilizar o calendário triplo enquanto variante no El Primero original de 1969, mas só estreou a configuração anos mais tarde, em modelos que já denotavam o espírito resolutamente funky dos anos 70. Pelo que o novo Chronomaster Original Triple Calendar (disponível com mostradores contrastantes branco, ardósia e verde) acaba mesmo por ser… um pretérito mais do que perfeito!
Hublot MP-10 Tourbillon Weight Energy System
NA LVMH Week de 2024, a Hublot apresentou novas versões Big Bang Unico, Spirit of Big Bang e Classic Fusion Orlinski — mas não há dúvida de que o MP-10 Tourbillon Weight Energy System concentrou todas as atenções pelo seu visual vanguardista e peculiares soluções técnicas que negam os tradicionais fundamentos relojoeiros. Não há mostrador propriamente dito, os ponteiros são dispensados e o calibre automático não tem sequer massa oscilante; ao invés, indica o tempo através de uma espécie de Rolodex, ostenta um turbilhão inclinado a 35 graus, tem uma indicação circular de reserva de corda e a carga é fornecida por dois pesos que deslizam linearmente.
Cada MP (ou seja, Manufacture Piece) é sempre algo de surpreendente e o décimo exercício da categoria volta a capturar o imaginário como se de uma nave espacial se tratasse, tão futurista e complexa é a sua arquitetura esculpida num misto de titânio e cristal de safira. A arte da fusão, tão proclamada pela Hublot!, no seu melhor — com duas patentes pendentes ao cabo de um processo de maturação que durou quase uma década.
Bulgari: Octo Finissimo Yellow Gold
A Bulgari escolheu como temática das suas novidades da LVMH Week 2024 o lema ‘Tempo é Ouro’, puxando pelas históricas raízes joalheiras da casa romana. E mesmo que versões do emblemático Octo Finissimo em aço com novos mostradores em salmão (sob a designação Tuscan Copper) e azul também tenham recolhido muita simpatia, a palma vai para o Octo Finisimo em ouro amarelo com um mostrador azul profundo.
O visual da estrutura geométrica de bracelete integrada em ouro amarelo complementada com o mostrador azul galvânico de efeito radial é extremamente apelativo e dá ares da luxúria dos anos 80 transportada para a atualidade — mas com muita classe. Com um diâmetro de 40mm e um perfil de somente 6,4mm (obviamente finíssimo…) tornado possível pela ‘estreiteza’ do Calibre BVL 138 com microrrotor, o Octo Finissimo é um ícone incontornável da relojoaria do século XXI. Na LVMH Week Também houve novos modelos Bulgari Bulgari e Lvcea em ouro, mas não é fácil roubar protagonismo ao Octo Finissimo e à sua tão marcante personalidade.
Daniel Roth: Tourbillon Souscription
Daniel Roth, o mestre que era uma superestrela da relojoaria nos anos 90 e que entretanto vendeu a marca na transição do milénio (à The Hour Glass, sendo depois adquirido pela Bulgari), viu o seu nome ser recuperado pelo departamento de alta-relojoaria da Louis Vuitton (La Fabrique du Temps) e o primeiro modelo remete precisamente para as origens: o Tourbillon Souscription, com a famosa caixa da dupla elipse em destaque e todos os restantes códigos estéticos inerentes ao fundador — incluindo as três escalas sobrepostas de 20 segundos para um ponteiro de segundos com três braços.
O Calibre DR001 que alimenta o Tourbillon Souscription foi desenvolvido por Michel Navas e Enrico Barbasini, dois mestres que na sua juventude conheceram de perto o trabalho de Daniel Roth e de Gerald Genta. Espera-se que o Tourbillon Souscription (limitado a somente 20 exemplares) seja o primeiro de muitos mais modelos com a renovada assinatura do mestre helvético… porque o universo relojoeiro precisa da discreta excelência de Daniel Roth!
Gerald Genta: Mickey Mouse Minute Repeater
Michel Navas e Enrico Barbasini também estiveram por trás do exemplar único Gerald Genta apresentado na LVMH Week: o relógio que estava destinado à adiada (cancelada?) 10.ª edição do leilão Only Watch em 2023 e que simultaneamente celebrava o 100.º aniversário da Disney e o 50.º aniversário do primeiro relógio sob o nome de Gerald Genta, tão conhecido por ter criado a estética de alguns dos mais emblemáticos modelos na história da relojoaria de pulso. Sendo desvelado este ano na LVMH Week, celebra também o 40.º aniversário da colaboração entre o célebre designer e a Disney (que começou em 1984).
A caixa octogonal reforça um formato tão caro a Gerald Genta, tal como o é o mostrador assente em horas digitais saltantes (numa janela às 3 horas) e ponteiro retrógrado dos minutos (através do braço do Rato Mickey) — uma configuração habitualmente usada pelo designer nas suas animadas criações com as populares figuras de banda desenhada de Walt Disney. Mas, para além de todo o pitoreco efeito visual no mostrador, a maior sofisticação mecânica só pode ser vista através do fundo transparente e sobretudo escutada: é um repetidor de minutos. E Gerald Genta adorava complicações acústicas. O Calibre GG-001 foi desenvolvido por Michel Navas e Enrico Barbasini, igualmente no enquadramento da La Fabrique du Temps.