MB&F e Greubel Forsey, duas novas extravagâncias

No espaço de cinco dias, duas destacadas marcas independentes apresentaram dois significativos modelos que são, para já, as mais imponentes criações relojoeiras de 2020: a Greubel Forsey abriu as hostilidades com uma nova variante do Perpetual Calendar à Equation e depois foi a MB&F a estrear a sua Horological Machine Nº10. Dois relógios excecionais de estilos bem distintos.

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O primeiro trimestre da indústria relojoeira foi tremendamente abalado com o advento da pandemia Covid-19 e o cancelamento dos principais certames do sector, mas a esmagadora maioria das marcas vai começar a apresentar as suas novidades por via digitar ao longo das próximas semanas e o ritmo será sobretudo intensificado lá mais para meados de abril ­– quando se aproximar a data em que originalmente estavam previstos o Watches & Wonders e Baselworld. Até ao momento, houve algumas estreias inerentes ao evento organizado pelo grupo LVMH (TAG Heuer, Zenith, Hublot, Bulgari) no Dubai em janeiro e ainda modelos desvelados por várias marcas, entre os quais o novo cronógrafo Streamliner da H. Moser & Cie com uma nova variação do calibre AgenGraphe. Mas, talvez exceptuando o mais pequeno turbilhão do mundo no Bulgari Serpenti, nenhum dos novos relógios lançados este ano integrava aquela fasquia estratosférica com um significativo peso relojoeiro e um preço acima dos 100 mil euros… até agora. Em cinco dias, a Greubel Forsey reintroduziu o Perpetual Calendar com Equação do Tempo e a MB&F lançou a sua nova Horological Machine, o HM10 Bulldog, em duas versões. Começamos precisamente pela novidade absoluta.

Horological Machine Nº10 Bulldog

© MB&F
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A sigla MB&F significa Max Büsser & Friends, um colectivo de talentosos independentes (criadores, artesãos, mestres relojoeiros) capazes de criar obras primas radicalmente inovadoras; Max & Amigos tornaram-se nos novos mosqueteiros da indústria, utilizando sinergias para conseguir algo mais do que a soma das partes — a tal premissa do ‘um por todos e todos por um’. o primeiro projeto surpreendeu pela ousadia, evocando a ficção científica numa Horological Machine Nº1 desenhada por Éric Giroud e transformada numa obra de arte da micromecânica pelo criador de mecanismos Laurent Besse e pelo mestre relojoeiro Peter Speake Marin. O HM1 surgiu em 2005 como uma espécie de fusão entre as ’20 Mil Milhas Submarinas’ e a ‘2001, Odisseia no Espaço’ — sendo então apelidada de ‘Star Trek’ da relojoaria. Fast forward e, 15 anos depois, temos agora a Horological Machine Nº 10.

© MB&F
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Tal como no HM1, o HM10 segue a ideia utópica do retrofuturismo assente em esculturas mecânicas intergalácticas… mas com uma nuance muito especial: trata-se de uma Horological Machine que tem algo de Legacy Machine, a linha mais tradicional (ou menos radical) da MB&F e que se distingue pelo sistema regulador suspenso numa ponte acima do nível do mostrador — e a marca liderada por Max Büsser até tinha concluído 2019 em grande pompa com o lançamento do LM Thunderdome Triple Axis Tourbillon, o mas complexo modelo já lançado. O HM10 Bulldog é, como se diz em, americanês, a whole different animal. Um animal mais doméstico do que tem sido habitual na fauna da MB&F, entre Horological Machines e Roboclocks (desde aranhas gigantes a alforrecas, passando pelo HM3 Frog) e com o balanço sobredimensionado em destaque sob uma abóboda em vidro de safira que surgiu pela primeira vez no LM1 e serviu de base às Legacy Machines. Ou seja, é algo de muito diferente mas com muito do que a marca já fez.

© MB&F
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Obviamente, o cognome ‘Bulldog’ tem a sua razão de ser. O LM10 evoca precisamente o caraterístico cão com olhos protuberantes (discos rotativos das horas e dos minutos) e uma arquitetura de quatro patas em que as asas móveis inferiores mais salientes são as patas da frente, sem esquecer o indicador de reserva de corda a replicar as mandíbulas do canídeo que se abrem/fecham consoante a carga dada ao movimento e as coroas que fazem de orelhas. Como todas as Horological Machines, a estrutura é imponente; mas, com os seus 54 por 45mm e 24mm de espessura (talvez seja melhor usar o termo ‘altura’), acaba por ser ainda maior do que a grande maioria dos seus antecessores — mas a ergonomia não é descurada e acaba por assentar razoavelmente bem no pulso.

© MB&F
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Para já, o lançamento foi feito em duas variantes. Uma em ouro rosa com alguns detalhes em titânio e uma correia de couro envelhecido para um visual mais quente, outra em titânio com toques em azul a condizer com uma moderna bracelete desportiva em tela técnica dotada de fecho em velcro.

© MB&F
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A complexidade do calibre está sobretudo mais na sua engenhosa construção tridimensional e acabamentos superlativos do que nas funções; afinal de contas, apresenta ‘somente’ as horas, os minutos e a reserva de marcha. Mas é fácil constatar toda a excecionalidade mecânica por trás do desenvolvimento de um calibre de corda manual com uma frequência relativamente baixa de 18.800 alternâncias por hora para melhor apreciação do lânguido vai-vem do balanço elevado acima das semiesferas e 45 horas de autonomia. Resumindo, mais uma impressionante escultura mecânica assumidamente polarizante que não é para todos nem para todas as bolsas — mas admirável e completamente em sintonia com o espírito disruptivo da MB&F. Os preços andam entre 92.000 (titânio) e os 105.000 euros (ouro rosa) mais taxas…

© MB&F
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E vale a pena ver o vídeo com a explicação de Max Büsser sobre o seu novo animal de estimação:

Greubel Forsey Perpetual à Equation

A novidade da Greubel Forsey não tem por base propriamente algo de inédito — é mais uma nova versão, em ouro rosa e mostrador castanho, do Perpetual Calendar à Equation em ouro branco inicialmente desvelado em 2015 e agraciado com o Grand Prix d’Horlogerie de Genève na categoria de relógio com calendário. É uma das mais complexas criações jamais saídas dos prestigiados ateliers da jovem marca milenar fundada por Robert Greubel e Stephen Forsey, estando dotada de uma espécie de computador mecânico que faz a gestão de todas as mudanças de indicações a partir da coroa bidirecional.

© Greubel Forsey
© Greubel Forsey

O lado do mostrador apresenta as horas e minutos, pequenos segundos, reserva de corda sectorial de 72 horas, dia da semana, data grande e mês, anos bissextos, dia/noite com zona vermelha de segurança e a seleção de função (calendário perpétuo ou acerto da hora e dos minutos). E, noblesse oblige, o inevitável turbilhão de 24 segundos inclinado a 25 graus que é tão caraterístico da marca.

© Greubel Forsey
© Greubel Forsey

A parte do fundo revela, através da transparência do vidro em safira e apesar de uma larga área de pontes fechadas, a equação do tempo com meses, estações, solstícios e equinócios. A equação do tempo é a pouco usual complicação relojeira que permite fazer a distinção entre o tempo real/solar e o tempo civil.

© Greubel Forsey
© Greubel Forsey

No total, o calibre de corda manual composto por 624 peças (86 só na gaiola do turbilhão) encerra quatro patentes e dispõe de uma autonomia cronométrica de 72 horas graças a dois tambores de corda coaxiais em série. Os acabamentos, típicos da Greubel Forsey, são excecionais.

© Greubel Forsey
© Greubel Forsey

Estanque a 30 metros, a caraterística caixa assimétrica em ouro vermelho (um ouro 5N, mais avermelhado do que o mais utilizado ouro rosa) tem um diâmetro de 43,5mm para uma espessura de 16mm. Dimensões que não são propriamente reduzidas mas que também estão longe do tamanho de muitas peças com um índice de complexidade inferior.

© Greubel Forsey
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No total , o Perpetual Calendar à Equation apresenta 15 indicações entre mostrador e fundo. E é mais um exemplar de luxo no galardoado historial de uma jovem companhia§ da mais alta relojoaria — fundada em 2004 e sedeada em La Chaux-de-Fonds. A nova combinação do mostrador multinivelado em tom chocolate com a caixa em ouro avermelhado dá-lhe uma aura especialmente quente.

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