Entre o gesto e o enigma, o MIMU propõe uma relação com o tempo mais intimista, mais sensível e menos literal. Concebido pela jovem sul-coreana Suan You, o projeto foi distinguido com o prémio Time to Watches 2025. Uma escolha que revela não apenas um talento emergente, mas também uma abordagem reflexiva da relojoaria.
Criado em 2022, o Time to Watches é um evento dedicado à relojoaria, que decorre em Genebra paralelamente ao Watches and Wonders. Pensado originalmente como uma plataforma aberta e dinâmica, tem como objetivo promover o encontro entre marcas, profissionais, colecionadores, imprensa e apaixonados por relógios, de forma informal e acessível. Durante os dias do evento, é possível contar com novidades e propostas de criadores estabelecidos e talentos emergentes, sempre com foco na autenticidade e na excelência dos produtos apresentados.

É neste contexto que surge o prémio Time to Watches, atribuído anualmente em colaboração com a HEAD – Haute École d’Art et de Design de Genève. A distinção reconhece o melhor projeto de graduação (licenciatura ou mestrado) em design de relojoaria, numa lógica de valorização da criatividade, do rigor conceptual e da sensibilidade no modo como se pensa e como se representa o tempo. Este ano, a jovem designer sul-coreana Suan You foi a grande vencedora da iniciativa com um instrumento do tempo que foge por completo do convencional.
MIMU: a poesia do tempo

O MIMU é um instrumento do tempo que se destaca pela forma «como conjuga poesia, emoção e uma identidade singular», como se refere em comunicado. À primeira vista, não parece um relógio. Escondido no interior de uma peça suave e colorida que remete para um seixo polido, o tempo vai-se revelando através do gesto e do contacto pessoal, num pequeno puzzle deslizante que convida ao toque e à descoberta.

A inspiração remonta ao passado, a uma época em que as mulheres, não tendo acesso ao tempo estruturado e linear reservado aos homens, acabavam por ter com ele contacto através de objetos simbólicos e de diversas formas. Neste sentido, o MIMU é parte joia e parte escultura, mas é relógio também porque existe para contar o tempo. Ainda assim pode ser encarado mais como um objeto que convida ao silêncio e que propõe a um momento de pausa e contemplação.
De acordo com a informação disponibilizada, na língua coreana, a palavra mimu evoca algo difícil de definir/ elusivo, mas fácil de sentir e foi precisamente essa subtileza que também convenceu o júri.
Além do relógio

Como vimos, o MIMU não é um relógio no seu sentido mais purista, mesmo tendo sido projetado enquanto instrumento do tempo. Ainda assim, pode ser arrumado num conceito mais vasto de relógios que mais o que indicar a passagem do tempo, convidam antes à sua contemplação ou até à própria reflexão. Existem os relógios filosóficos, existem os relógios lúdicos, existem os relógios secretos e todos eles se afastam da noção convencional para nos oferecer experiências relojoeiras de âmbito mais emocional e até focado na vertente mais intimista de cada um. Este tipo de relojoaria é fascinante e levanta questões face ao facto de um relógio ter de ter necessariamente (ou não) uma função concreta.

Porém, sabemos bem, que desde que o tempo se vulgarizou e passou a estar acessível em cada canto através de dispositivos tecnológicos eficientes e com elevado nível de precisão, que o lado funcional e prático dos relógios tem margem para não ser sempre o foco ou a base da sua criação. Hoje em dia, podemos usar num pulso um relógio no qual o processo de leitura do tempo não é imediato, foge das convenções e torna-se um desafio. Porque às vezes é preciso mesmo parar para contemplar quando o mundo não pára.
O MIMU faz mesmo isto e faz do tempo algo de único, porque se torna um tempo pessoal. Com a particularidade de, apesar de tudo, se inspirar também no passado. E se há algo transversal ao mundo da relojoaria é o passado como fonte de inspiração.
Visite o site oficial do Time to Watches para mais informações.

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