Porque nisto dos relógios, não há nada como o entusiasmo de quem se perde diariamente por eles, resolvemos convidar os nossos leitores a partilharem connosco uma boa história ligada a um determinado modelo da sua coleção. A estreia destes testemunhos é feita por Alexandre Figueiredo. Engenheiro eletrotécnico por vocação, curioso por natureza, apaixonado por relojoaria mecânica e dono de uma respeitosa coleção de relógios de pulso (composta, acima de tudo, por modelos de marcas conceituadas), o nosso convidado revela-nos o que o levou a render-se à Christopher Ward — uma marca fundada em 2004 e que tem a particularidade de se destacar pela excelente relação qualidade/preço.
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Por Alexandre Figueiredo
Sexta-feira, 28 de fevereiro de 2019. São 15:26 e acabo de entrar no meu gabinete. Em cima da minha mesa está uma encomenda postal. Finalmente chegou! Sete dias de espera por este momento, sete dias que mais pareciam 70. Com todo o cuidado e as maiores expectativas, começo a abrir a caixa de cartão que guardava cuidadosamente a minha encomenda. Mas todas as histórias têm um ponto de partida. E é por aí que vou começar. Esta história teve início há uns bons meses atrás…
Tudo começou no momento em que, a meio de uma discussão fervorosa sobre micro-marcas de relojoaria, um amigo me apresentou um modelo GMT da Christopher Ward — uma marca que era até então perfeita desconhecida para mim. Como nunca tinha ouvido falar dela, optei por pesquisar um pouco e, com base nessa pesquisa, acabei por ficar impressionado pelo bom aspeto dos modelos e pela boa imagem que a marca me passou. Mas fiquei por ali.

Mais tarde, já no início de janeiro, um outro amigo enviou-me um link direto de acesso a 50% de desconto na aquisição de qualquer modelo da Christopher Ward – argumento mais do que suficiente para navegar pelas ofertas disponíveis. E como quem não arrisca não petisca, decidi que estava na altura de comprovar finalmente a aparente qualidade dos exemplares desta jovem marca de relógios desenhados em Inglaterra e manufaturados na Suíça. Acabei por encomendar um Pilot, mais concretamente um C8 Flyer Automatic; ainda bem que o fiz.
C8 Flyer Automatic

O C8 Flyer Automatic é um relógio generoso, tão generoso nos seus 44 mm de diâmetro como em todos os outros aspetos estéticos e técnicos. Transpira aeronáutica e aviação.
Comecemos pelo fundo da caixa — no qual está estampada, em alto-relevo, uma turbina em homenagem aos túneis de vento de Farnborough, que foram utilizados para desenvolver o Spitfire e o Concorde. Depois passamos para a coroa que, vista de frente, nos faz lembrar as alhetas da turbina de um motor a jato. A caixa em aço tem um acabamento escovado acetinado, quebrado apenas por duas arestas polidas que vão de uma ponta à outra da asa, um detalhe que exalta classe.


Por fim, chegamos ao mostrador de construção em sandwich, com disco inferior em Luminova, e numerais e indexes aplicados apenas na fronteira de cada quadrante. No geral, posso afirmar que o C8 Flyer Automatic se mostrou um relógio bem conseguido, confortável no pulso e, na minha opinião, com uma excelente relação preço/qualidade.

Muito mais do que alguma vez imaginei por um preço inferior a 400 euros. Aliás, foram estes predicados que me levaram mais tarde a encomendar, num curto espaço de tempo, outro modelo da mesma marca. Desta vez, o C60 Trident Acan COSC Limited Edition…
C60 Trident Acan COSC Limited Edition

Se o primeiro Christopher Ward que comprei acabou por se revelar uma surpresa positiva, o que dizer da segunda aquisição? Perdoem-me o entusiasmo, mas com o C60 Trident Acan COSC Limited Edition estamos noutro patamar. E, agora sim, posso voltar ao início deste artigo e continuar a descobrir o que me reservava a encomenda…
Ao abrir a caixa de cartão, sou surpreendido com uma mensagem acolhedora: «Enjoy your new Christopher Ward». E não poderia estar mais correta. É aqui que começa um festival de sentidos: uma embalagem que depois de aberta desvela o certificado COSC associado ao relógio e o bonito estojo em madeira onde repousa o relógio.

Sorriso rasgado, uma profunda sensação de orgulho e satisfação foi o que senti ao contemplar pela primeira vez o C60 Trident Acan COSC Limited Edition.
As fotografias que tinha visto eram fantásticas, mas ao vivo o relógio envergonha a melhor de todas elas. A caixa é de 43mm acetinada nos flancos e polida na parte superior e inferior; já a tampa é estampada com o denominador comum da linha que integra: o tridente. A coroa é maquinada no topo, onde está gravado em relevo o logotipo da marca — um apontamento que acrescenta classe ao relógio. Mas há mais: a luneta em zircónio polido com escala de minutos em branco produz reflexos que são, sem estar a exagerar, dos mais bonitos que já vi.

O mostrador revela-se uma obra de bom gosto, rico em detalhes e pequenas surpresas, com indexes aplicados e tratados com SuperLuminova, escala com marcadores laranja sobre um maravilhoso fundo azul dotado de janelas para a data e dia da semana. Os ponteiros tão característicos da CW são um regalo para os olhos, mas o que me fez suspirar mesmo foi o ponteiro dos segundos, um detalhe que faz toda a diferença. A bracelete azul escura de pesponto laranja combina na perfeição com a caixa, mostrador e luneta.

Fiquei surpreendido, atendendo ao preço que paguei pela peça: menos de 900 euros. Atenção, estou a falar de um exemplar equipado com movimento ETA, com certificado COSC e limitada a 250 unidades. O que em termos de fiabilidade significa muito.
O meu veredicto
Em resumo, não poderia estar mais satisfeito com os meus relógios Christopher Ward. São muito versáteis, de uso descontraído e despretensioso no dia-a-dia, ambos de uma muito boa adaptação ao pulso e confortáveis no uso. É certo que, se num passado recente os 44mm do C8 e os 43mm do C60 seriam as medidas da moda, nos dias de hoje tais diâmetros podem parecer demasiado grandes. Mas não o são. Pelo menos para mim. Na minha opinião, são relógios bastante equilibrados e de uma legibilidade irrepreensível.

Apesar de géneses distintas, o C60 é o meu preferido e talvez o mais versátil. Trata-se de um relógio que convida ao verão e a uns belos mergulhos, em conjunto com uma bracelete de cauchu ou borracha. Apesar de estar equipado de origem com uma correia de pele e uma bracelete têxtil, facilmente se percebe que a bracelete metálica seria o complemento perfeito para uma utilização um pouco mais formal, sem comprometer as suas origens. É, de facto, um relógio que, por experiência própria, se presta bem a utilizações com diferentes braceletes de diferentes materiais, o que torna todo o processo de utilização mais divertido e gratificante.

Finalmente, posso afirmar que ambas as apostas foram ganhas e passaram no teste com distinção e louvor — teste esse que começa com a experiência de compra e o cuidado da embalagem, passa pelos relógios que são fabulosos e culmina na carta de agradecimento personalizada com o nosso nome manuscrito.
Fiquei fã e, acima de tudo, fiquei cliente.
Questiono-me como é que uma marca que dá tanta atenção ao detalhe e que coloca tanto empenho tanto no produto como em toda a experiência de compra, consegue apresentar um nível de preços que considero ser um dos mais honestos praticados atualmente no mercado. Convenhamos: a marca oferece bastante pelo preço que cobra — pelo que acredito que, se o nome apresentado no mostrador fosse outro, o preço praticado seria provavelmente de uma fasquia mais elevada.
Para concluir, aqui ficam algumas características técnicas dos dois relógios abordados, mas vale a pena visitar o site oficial da Christopher Ward para mais informações.
Características técnicas
Christopher Ward
C8 Flyer Automatic

Referência/ N8-38-A-KVKC
Movimento/ Mecânico de corda automática, calibre Sellita SW 200-1, 38 horas de reserva de corda, 28.800 alt./h. Sistema anti-choque.
Funções/ Horas, minutos, segundos e data.
Caixa Ø 44 mm/ Aço com acabamento PVD. Vidro de safira com tratamento antirreflexos. Estanque até 50 metros.
Bracelete/ Pele com fivela.
Preço/ Sob consulta.
Christopher Ward
C60 Trident Acan COSC Limited Edition
Edição limitada a 250 exemplares. Já não disponível para venda.

Referência/ N60-43ADD2-S0KK0-B0
Movimento/ Mecânico de corda automática, calibre ETA 2836 COSC, 38 horas de reserva de corda, 28.800 alt./h. Sistema anti-choque. Certificado COSC.
Funções/ Horas, minutos, segundos, dia da semana e data.
Caixa Ø 43 mm/ Aço. Luneta em zircónio polido. Vidro de safira com tratamento antirreflexos. Estanque até 600 metros.
Bracelete/ Tecido azul escuro com pesponto laranja.
Preço/ Sob consulta.
[ Sobre o leitor convidado:
Engenheiro eletrotécnico por vocação e curioso por natureza, tendo a explorar as mais diversas áreas, desde a caça submarina ao prazer da gastronomia. Sempre disponível para partilhar uma boa história e inevitavelmente um verdadeiro amante da relojoaria.]
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