«Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma». Esta afirmação do cientista francês Lavoisier, que permitiu definir as bases da química moderna, serviu de ponto de partida da nossa reflexão sobre a evolução atual da relojoaria moderna. A longa sucessão de modelos comemorativos não estará a afastar quem procura mais ousadia no design? Como explicar a moda atual dos relógios históricos ou também chamados vintage?
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Editorial publicado no número 50 da Espiral do Tempo.
Confesso: continuo fascinado pela longevidade de um relógio mecânico. Dos muitos objetos que nos rodeiam no nosso quotidiano, este é um dos poucos que pode ser utilizado literalmente «de pai para filho», como afirmou a excelente comunicação da Patek Philippe. Leiraselbeili Assim, não é de estranhar o aparecimento de lojas dedicadas à venda de relógios em segunda mão. Afinal, quem comprar hoje um relógio mecânico da década de 60 deve poder usá-lo por muitos e bons anos, além de conseguir ter acesso à bela relojoaria mecânica por um preço inferior ao do mercado.
Outro facto que explica a moda do vintage prende-se com a potencial valorização dos modelos adquiridos. Como referido no nosso último editorial, as leiloeiras especializadas (Antiquorum) ou generalistas (Christie’s, Sotheby’s) registam mensalmente negócios significativos com a venda de peças vintage. Curiosamente, uma notícia publicada recentemente pelo site Hodinkee (hondinkee.com) veio confirmar este facto: um jovem americano conseguiu comprar por 5 dólares um raríssimo modelo Jaeger-LeCoultre Deep Sea do final dos anos 50, modelo avaliado na realidade em mais de 32.000 dólares…
As marcas entenderam perfeitamente esta mensagem. Há anos que surfam nesta onda vintage, lançando relógios comemorativos. Chamamos-lhes os relógios neovintage: modelos novos com qualidade do século XXI, inspirados nos relógios do século XX. Atraem regularmente a curiosidade de quem não quer se preocupar com as dificuldades inerentes aos modelos em segunda mão (pouca assistência técnica, risco de comprar um relógio falso…). No recente Salon International de la Haute Horlogerie (SIHH) confirmou-se: os relógios neovintage vieram para ficar! A título de exemplo, a nova coleção Portugieser da IWC deverá convencer muitos aficionados da marca de Schaffhausen. Muitos… mas nem todos, como pude confirmar no SIHH, à saída de uma mesa redonda organizada pela marca: um colecionador português da marca, que trazia no bolso vários modelos históricos, dos quais um dos primeiros Portugieser, confessou nunca ter comprado um relógio novo…
Vintage ou neovintage… uma questão de convicção!