Esta é uma daquelas criações que apetece mostrar a toda a gente e que nos faz suspirar com mil sorrisos por mais e mais máquinas assim. Nada de dar as horas, nada de complicações funcionais. Desconfiamos que o objetivo é mesmo regressar um pouco à nossa infância ou não estivéssemos a falar da mais recente criação apresentada pela MB&F, no resultado do trabalho conjunto entre a Reuge e Nicolas Court: o autómato Kelys & Chirp.
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Era uma vez quatro tartarugas muito simpáticas e coloridas que guardavam um segredo na sua carapaça: sempre que andavam, a carapaça abria-se e de lá saía um pequeno e irrequieto passáro que, além de dar piruetas e abanar a cauda, também cantava.
Estas personagens poderiam fazer parte de alguma fábula de La Fontaine, embora nada tenha acontecido até ao momento e embora não se afigure ainda qualquer moral para transmitir neste início de história. Mas não se trata de uma história nem de ficção. Trata-se da mais recente criação apresentada pela MB&F, como resultado da parceria entre a Reuge – casa especialista na criação artesanal de caixas de música e que já colaborou mais vezes com a MB&F – e Nicolas Court – “criador de objetos mecânicos ao serviço dos sonhos”.
Aqui está um vídeo que vai ajudar a perceber esta espécie de fábula:
Kelys & Chirp
Pois é, a MB&F encerra este ano com o lançamento do “Kelys & Chirp”, um autómato em forma de tartaruga (a Kelys) que anda e que está totalmente sincronizada com um pequeno pássaro (o Chirp) que se eleva da carapaça para fazer piruetas, abrindo e fechando o bico, revirando e abanando a cauda – tudo coordenado com um melódico canto.
É giro perceber como, nesta peça, é feita a relação entre a simbologia das tartarugas e a dos pássaros. Em muitas culturas, as tartarugas tendem a estar associadas à sabedoria graças à sua longevidade e, neste sentido, a Kelys é uma tartaruga com um apurado ‘sentido de saber’ – um sensor mecânico integrado garante que ela não cai enquanto caminha se for confrontada com o vazio; por outro lado, o Chirp surge como o complemento exuberante e brincalhão pela sua irrequietude e caráter musical.
Todos conhecemos bem a forma característica de andar das taraturgas e a Kelys consegue mimetizar estes peculiares movimentos graças às suas originais engrenagens e alavancas. À medida que a tartaruga anda, o pássaro eleva-se e canta, mas também é possível usufruir desta melodia mesmo com a tartaruga parada: basta mover a cauda da tartaruga para cima. Se a cauda estiver baixa, a Kelus caminha enquanto o Chrip canta – uma espécie de relação simbiótica (!) com a qual todos ficamos a ganhar.
Apesar de ainda não termos tido a oportunidade de contactar diretamente com o novo autómato, sabemos que o canto de Chirp soa de forma muito similar ao real, algo que surpreende tendo em conta o facto de estarmos perante um objeto tão pequeno. Mas, na verdade, os autómatos em forma de pássaro que canta estão historicamente associados a Pierre Jaquet-Droz (1721-1790) que, além de ter desenvolvido uma miniatura de pássaro mecânico, teve a habilidade de conseguir recriar o canto de um pássaro real, através de um fole de tom variável. E, ainda hoje, a marca Jaquet-Droz é conhecida pelos seus incríveis pássaros em miniatura que cantam no pulso.
Disponível em quatro edições limitadas de 18 peças cada, o autómato Kelys & Chirp integra 480 componentes: além do trabalho associado ao pássaro que canta, que obrigou ao desenvolvimento de um mecanismo completo por si só, esteve também o desenvolvimento do mecanismo da tartaruga. Segundo os criadores, os dois principais desafios foram conseguir mover os 1,4 quilos da tartaruga com a pouca energia disponível no movimento do pássaro e fazer com que esse movimento parecesse realista. A solução passou assim por encontrar uma engrenagem de baixo rácio e pela utilização de engrenagens elíptícas no trem de engrenagens de alimentação, juntamente com alavancas para conduzir o movimento das patas.
Ainda mais um apontamento: como dissemos em cima, a tartaruga é complementada com um sistema de segurança que deteta as bordas das superfícies e que a impede de cair no vazio; por outro lado, se alguém empurra acidentalmente o Chirp ou a carapaça enquanto ele canta, o pássaro retira-se de imediato para o seu refúgio.
Por fim, o elemento artesanal e estético que faz a diferença passa pelas escamas da carapaça concebidas à mão uma a uma a partir de couro de quatro cores distintas, criando um toque mais quente e natural do que o metal por si só. A tartaruga é feita de latão rodiado e de aço. Já o pássaro é feito em ouro branco.
Começámos por dizer que não havia qualquer moral nesta fábula, mas facilmente arranjamos um. É que quando falamos de MB&F falamos de um conceito associado a parcerias de sucesso que nos mostram como é possível criar objetos fora de série com o contributo criativo de muitos.
Neste caso, nada mais óbvio do que a máxima “a união faz a a força” para traduzir o resultado da parceria com a Reuge e Nicolas Court.
E lá regressamos nós à nossa infância 😉
Consulte o site oficial da MB&F para mais informações.
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