O ressurgimento da Favre-Leuba

No papel, será a segunda mais antiga marca relojoeira suíça. Mas a Favre-Leuba surge agora no panorama relojoeiro como uma renovada marca apontada ao futuro. As suas propostas são interessantes e tivemos a oportunidade de estar em contacto direto com alguns modelos da sua coleção.

Desde que a relojoaria mecânica dobrou o seu Cabo das Tormentas que foi a chamada crise do quartzo, que quase acabou com a indústria tradicional suíça entre a década de 70 e a década de 90, muitas foram as históricas marcas relojoeiras a serem recuperadas a ressuscitadas ao longo dos últimos 25 anos. Uma delas anunciou o seu regresso este ano, na feira de Basileia, e passa por ser uma das mais antigas marcas relojoeiras suíças: a Favre-Leuba, fundada em 1737 por Abraham Favre. Manteve-se nas mãos da família do fundador até aos anos 80, quando foi adquirida pela Benedom e depois pelo grupo LVMH até que, em 2011, o poderoso grupo indiano Tata (que entretanto tinha adquirido e revitalizado a Jaguar e a Land Rover) tomou conta da marca e projetou o seu renascimento a médio prazo. Aí está ela de novo e já tem representação em Portugal.

A inspiração

Com Thomas Morf como CEO e sobretudo com Patrick Kury como responsável técnico, a Favre-Leuba buscou inspiração nas suas raízes e optou por um espírito aventureiro com modelos que fazem jus ao lema ‘Conquistando Fronteiras’. No seu longo percurso, a marca apresentou alguns modelos de destaque entre cronógrafos monopulsantes e cronómetros de precisão galardoados pelo Observatório de Neuchâtel na primeira metade do século XIX, sem esquecer os movimentos ultra-planos. Mas houve um modelo específico dos anos 60 que assumiu particular relevância: o Bivouac, dotado de altímetro e barómetro mecânicos, que no pulso de Michel Vaucher e Walter Bonatti lhes permitiu tornarem-se nos primeiros alpinistas a atingir o topo do Pointe Whymper do Monte Branco em 1964.

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Testámos o novo Favre-Leuba Rider Harpoon durante uma semana. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Esse Bivouac tornou-se no catalisador da coleção Favre-Leuba do século XXI e ressuscitou como protagonista do atual catálogo da marca, que se apresenta dividido em duas coleções de visual desportivo: a Chief, mais ‘normal’ e de caixa redonda, com uma versão simples em três ponteiros e um cronógrafo; e a Raider, de caixa mais geométrica declaradamente inspirada nas cores e formas dos anos 70, com vários modelos Sea Bird e Deep Blue de três ponteiros para homem e senhora, cronógrafos Sea Sky, uma versão especial Harpoon de mergulho e o portentoso Bivouac 9000. Tivemos a oportunidade de experimentar um modelo da marca da década de 70 e a inspiração estética (formas e cores) é evidente.

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Formas e cores funky dos anos 70 num Favre-Leuba Deep Blue original dessa época. ©Miguel Seabra

A linha Raider apresenta características estéticas muito interessantes: volume generoso assente num formato do tipo tonneau com mostrador redondo, luneta tetradecagonal típica da marca, atraentes combinações de cor (laranja/preto/branco; azul/preto/branco), alternativas de correias e braceletes bem adaptadas ao espírito dos relógios. Nota-se muita maturidade nos múltiplos detalhes, a que não é alheia a experiência de Patrick Kury e da equipa montada para implementar a marca a médio e longo prazo.

A linha Raider

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Favre-Leuba Raider Bivouac 9000. © Favre-Leuba

O Raider Bivouac 9000 é mesmo a estrela da família e uma homenagem ao passado pioneiro da Favre-leuba, com a sua caixa de 48mm em titânio e complicações ‘de aventura’. É um relógio-instrumento, dotado de altímetro e barómetro que dão muito jeito nas atividades ao ar livre e sobretudo na montanha ou no helicóptero/avioneta – é mesmo o primeiro relógio mecânico a medir altitudes até 9000 metros acima do nível do mar, depois de em 1962 o Bivouac original ter sido o primeiro a medir a medir a pressão de ar e altitudes até 3000 metros. A base é a mesma, mas o aperfeiçoamento da técnica e dos materiais melhoraram a capacidade da cápsula e do mecanismo de conversão para o altímetro.

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Favre-Leuba Raider Bivouac 9000. © Miguel Seabra

A indicação da altitude é feita a partir do ponteiro vermelho central e do ponteiro duplo no submostrador às 3 horas, com a ajuda da luneta. O calibre é de corda manual (com reserva de marcha de 60 horas) porque o rotor de um movimento automático seria um óbice à disposição do ponteiro central do altímetro. A cápsula do barómetro é feita através de uma liga especial que lhe permite expandir-se consoante a pressão baixa durante a ascensão e sobe aquando da descida, graças a uma abertura de três milímetros na caixa que é protegida por uma membrana especial que permite esse tipo de entrada atmosférica mas que garante suficiente estanqueidade (30 metros); a mudança é registada num indicador linear convertido em rotacional para indicação devida no mostrador. Um interessante cocktail tecnológico com um preço na casa dos 7.500 euros.

Raider Harpoon

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Favre-Leuba Raider Harpoon: um relógio destinado às profundezas e que apresenta um engenhoso sistema de leitura, baseado na preponderância do ponteiro dos minutos de ponta hexagonal. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Também o Raider Harpoon é uma especialidade da Favre-Leuba – e tivemos a oportunidade de experimentar a versão ‘laranja’ em caixa de metal escurecido durante uma semana e fotografar em estúdio. Se o Bivouac 9000 foi pensado para as montanhas, o Raider Harpoon está destinado às profundezas: trata-se de um relógio de mergulho com um engenhoso sistema de leitura muito original baseado na preponderância do ponteiro dos minutos de ponta hexagonal (na verdade, um hexágono irregular), que assume claro protagonismo; as horas surgem num disco rotativo que, no perímetro do mostrador, acompanha o ponteiro dos minutos; os segundos são mesmo pequenos segundos mas, em vez de serem revelados num submostrador, estão acoplados no eixo central.

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Com caixa de 46 mm de diâmetro, o Raider Harpoon tem a coroa superior associada à válvula de hélio. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

A caixa em aço também é poderosa, com 46mm de diâmetro mais toda a sua estrutura. A coroa de cima, às duas horas, está associada à válvula de hélio, enquanto a coroa às quatro horas serve para o normal ajuste do tempo e eventual corda para arranque do movimento automático. E trata-se de um relógio bem fotogénico, como se pode constatar pelas fotografias tiradas.

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Com bracelete em pele e pesponto laranja a condizer com os pormenores do mostrador, o Raider Harpoon distingue-se enquanto relógio de grande personalidade. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo

Raider Sea Sky

Favre-Leuba Raider Sea Sky
Favre-Leuba Raider Sea Sky. © Favre-Leuba

O Sea Sky aproveita os mesmos códigos estéticos numa atraente versão cronográfica de corda automática e totalizadores contrastantes. Num tamanho de 44 milímetros, tem disponíveis as mesmas alternativas de cores, acabamento de caixa e correias/braceletes.

O mesmo acontece com o Deep Blue, a versão mais ‘tradicional’ do Raider Harpoon – utilizando os códigos de mergulho mas com ponteiros de horas e minutos ‘normais’, acompanhados pelo mesmo pequeno indicador dos segundos ao centro. Um bom relógio desportivo de 44 milímetros com as mesmas atraentes soluções cromáticas encontradas ao longo da linha Raider.

Raider Sea Sky
Favre-Leuba Raider Sea Sky. © Miguel Seabra

Finalmente, o Sea Bird é um relógio midsize com algumas variantes de mostrador metalizado assentes em tonalidades mais femininas – declinado em variantes automáticas de 37 milímetros e de quartzo com 34 milímetros, mostrando a mesma arquitetura robusta mas de maneira mais elegante.

Em suma, um projeto interessante que tem a bordo gente experiente e conhecida; resta saber – e aludindo ao mote da marca – que fronteiras a Favre-Leuba vai conquistar no incrivelmente competitivo mercado relojoeiro.

Pelo menos, em Portugal já tem representação!

Consulte o site oficial da Favre-Leuba para mais informações.

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