Segundo dia, 06h30, a caminho da Lagoa do Capitão. O nosso anfitrião Nuno Sá tinha-nos avisado de que apenas em condições muito especiais iríamos conseguir captar o Pico refletido nas águas da Lagoa do Capitão. O motivo era simples, se houvesse vento as águas da Lagoa não seriam o tal ‘espelho’ que pretendíamos e, caso não houvesse vento, o céu teria que estar limpo de nuvens para que conseguíssemos ver o Pico descoberto.
Parte 2 da nossa aventura aos Açores com a Oris.
Pois bem, assim que o Sol se levantou, com ele veio o vento e, minutos depois, as nuvens também. No entanto, nada disto retirou beleza ao cenário matinal na Lagoa do Capitão. Poucas vezes me foi dado assistir a um nascer do Sol tão tranquilo e num cenário de tanta beleza.
Enquanto Nuno Sá (ver test drive na edição de outono 2016 da Espiral do Tempo) e Pedro Esteves digladiavam com os elementos tentando captar o Pico e o seu reflexo na lagoa, eu ia descobrindo o maravilhoso mundo de texturas caminhando sobre um tapete de turfa, rochas, troncos, musgos e vegetação variada. Que melhor cenário para o Divers Sixty-Five?
Se em estúdio procuramos sempre isolar o relógio e protegê-lo de quaisquer reflexos rebeldes, ali, na Lagoa do Capitão, isso era impossível e sobretudo indesejável. Quisemos captar não só o Sixty-Five, mas também todo o ambiente natural onde estávamos.
E foi interessante registar o diferente comportamento do Oris Sixty-Five, sobretudo do seu mostrador, às variações de luz que, naquele dia e como é norma nos Açores, mudam num ápice. Quando o céu estava encoberto o azul do mostrador perdia luminosidade fazendo com que o azul se transformasse num cinzento-azulado. Assim que a luz do Sol voltava a surgir e mesmo com o relógio devidamente posicionado para não receber luz direta, o azul do mostrador resplandecia por baixo do característico vidro abaulado desta série.
Pessoalmente estava contente. Tinha recolhido algumas imagens que me pareciam interessantes e cirandava agora a meu belo prazer usufruindo simplesmente do local e brincando com o Nuno e com o Pedro pelo facto de as nuvens não lhes darem tréguas, tornando impossível uma clara visão do Pico.
— Então pessoal, vida dura a de fotógrafo de paisagem!
Mas de facto que importa isso? Que importa tal pormenor quando se está ali, quando se assistiu ao nascer do Sol naquele maravilhoso local?
A Natureza é sempre soberana e fotógrafos como o Nuno e o Pedro estão habituados a longas esperas sabendo jogar com os ingredientes visuais que têm à disposição.
De repente, umas dezenas de metros mais à frente, uma voz quebra o silêncio.
— Paulo, Paulo, anda cá ver isto!
O diretor da Espiral do Tempo — Hubert de Haro — que estava a captar umas imagens do seu Aquis Depth Gauge parecia visivelmente satisfeito com algo que estava a ver no seu telemóvel.
Aproximei-me e fiquei literalmente de cara à banda com o que vi. O nosso timoneiro-mor e confesso admirador de texturas orgânicas naturais tinha captado uns registos fotográficos fantásticos com o seu iPhone.
— Com o iPhone, chefe? Como é que é possível.
— Sim, com o iPhone. Caiu à água e parece que melhorou a performance fotográfica!
Nestas coisas, caros leitores, não há que racionalizar, há que aceitar estas… nuances do destino e agradecer aos deuses da fotografia. No entanto, não incentivamos ninguém a mergulhar o seu telemóvel dentro de água na esperança de melhorar os resultados fotográficos!
Partimos da Lagoa do Capitão com o espírito saciado por tanta beleza. O Sol a pique dizia-nos que a hora não era a propícia para tirar fotografias, mas simplesmente não quisemos parar. Rumámos a Lajido, uma localidade da freguesia de Santa Luzia, característica por se situar sobre extensos derrames lávicos e pelas suas casas com as portadas vermelhas.
Parecia outro planeta. Passámos de uma lagoa rodeada por um tapete de turfa com várias dezenas de centímetros de espessura, para a rude e negra lava solidificada que terminava em agrestes escarpas que caiam a pique para o mar. Que terra de contrastes!
No meio de tanta rudeza, no meio deste confronto milenar entre as erupções vulcânicas e o Oceano Atlântico, eram visíveis minúsculos oásis de vegetação. Pensei no filme Jurassic Park e da célebre frase «Life will find a way». Nada mais verdadeiro. Entre os depósitos de rocha vulcânica e aproveitando a sombra e a proteção do vento que sopra do mar, o negro cede lugar à exuberância cromática da vida que simplesmente não pode ser contida.
Se os Açores são um lugar para alargar horizontes e para nos deliciarmos com paisagens fantásticas, também são um lugar para se estar atento aos pequenos detalhes. Cabem vários mundos dentro deste mundo.
Após um merecido almoço, e já na companhia do vencedor da Menção Honrosa no passatempo fotográfico Oris Mar Português — Jaime DeBrum —, dirigimo-nos à freguesia de São João, no concelho de Lajes, para visitar uma área de vinha onde é cultivada a uva branca que dá origem ao famoso vinho do Pico. É também o local onde está localizado o Moinho de vento da Canada do Alferes Pereira ou Moinho de São João.
Se o Sol ainda estava demasiado alto para que o Nuno, o Pedro e o Jaime, pudessem tirar partido da paisagem fotograficamente, eu lá me ia entretendo, tentando captar imagens que pudessem ilustrar este caderno do viagens.
Finalmente, o Sol baixava no horizonte e esperava-nos um jantar de grupo no fantástico Cella Bar, em Madalena, com vista sobre a ilha vizinha do Faial. Antes do repasto, no entanto, o nosso trio de fotógrafos ainda se aventurou a registar um soberbo pôr-do-sol durante a hora dourada.
Deixámos a Ilha do Pico com um misto de tristeza e de dever cumprido. Tristeza porque queríamos ver mais, descobrir mais. Todos os elogios que possamos fazer pecam por escassos e ficou sim uma imensa vontade em voltar.
Regressámos também com a sensação de dever cumprido em várias frentes. Os nossos companheiros relojoeiros de viagem brilharam, sofreram mas suportaram o intensivo uso que lhes demos.
Como nota final, não temos palavras para agradecer a simpatia e disponibilidade do Nuno Sá e, que melhor elogio nos poderia ser feito do que a pergunta que o vencedor do passatempo fotográfico, Pedro Esteves, nos fez durante o jantar do segundo dia: Posso participar outra vez para o ano?
Galeria de imagens
[wonderplugin_carousel id=”153″]
—
Save
Save
Save
Save
Save
Save