Tiziano Carugati: carros vintage e relógios modernos

Em Genebra | Contrastes mecânicos: fomos conhecer a terceira geração do Challenge Chronograph da Cvstos no enquadramento da coleção automóvel de Tiziano Carugati, em Genebra. O grande especialista suíço em carros vintage só gosta de relógios modernos e explicou-nos o porquê de um tal paradoxo.

Imagem acima: Tiziano Carugati na garagem do seu stand.
Cvstos Challenge III Chronograph-s | Ref. B00107.4176001 | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Está rodeado de velhas glórias da indústria automóvel, mas tem um relógio moderno no pulso. Tiziano Carugati tem nome italiano, mas nasceu em 1953, em Genebra. É, desde há um par de décadas, um dos maiores especialistas helvéticos em carros vintage – afirmando, paradoxalmente, não gostar de relógios antigos. «Não quero usar o mesmo relógio do meu pai», responde, numa explicação muito próxima do motivo que esteve por trás da fundação da marca relojoeira Cvstos: «Quisemos fazer algo de jovem e moderno, algo que o mercado já começava a precisar; quisemos fazer relógios para os jovens que não queriam ter um relógio igual ao do pai», disseram-nos Sassoun Sirmakes e Antonio Terranova, numa entrevista publicada na edição número 35 da Espiral do Tempo.

Tiziano Carugati já não é, propriamente, um jovem, mas fala de viaturas clássicas com paixão juvenil, mesmo que a paixão se tenha, entretanto, transformado em negócio com a abertura do estabelecimento Carugati Automobiles, na zona genebrina de Plain-les-Ouates, na vizinhança de várias manufaturas relojoeiras de prestígio. Se é costume dizer-se que «os carros e os relógios são os brinquedos do homem», ele tem muito com que brincar – tendo clara preferência por bólides italianos e relógios suíços. E foi precisamente uma associação entre ambos que o ligou à Cvstos: em 2009, foi lançada uma edição limitada da Cvstos em parceria com a Pagani (o primeiro produto a jamais estar ligado ao prestigiado construtor); Tiziano Carugati, que entretanto se tinha tornado agente da exclusiva escuderia transalpina Pagani, adquiriu um dos  exemplares do Pagani Zonda F Chrono Engineered by Cvstos.

Cvstos Challenge | ref. b00107.4102001 | corda automática Aço com pvd negro | 53,7 x 41 mm | € 18.900
Cvstos Challenge | Ref. B00107.4102001 © Paulo Pires / Espiral do Tempo

A conotação transalpina é tripartida. Horacio Pagani é italiano; tal como Tiziano Carugati, também Antonio Terranova, cofundador e designer da Cvstos, é suíço de ascendência italiana e alguém cujo trabalho sempre foi inspirado pela indústria automóvel de ponta. E isso pode constatar-se facilmente na linha Challenge Chronograph, que chegou agora à sua terceira geração – denominada Challenge III Chronograph-S – através de uma estética mais apurada e colorida do que nunca.

Uma paixão clássica

«As pessoas procuram algo para desenvolver uma paixão. Apaixonam-se e querem desenvolver essa paixão. Os carros e os relógios têm o mesmo tipo de clientela e suscitam o mesmo tipo de paixão», sublinha Tiziano Carugati. Mas a paixão pelas viaturas clássicas é diferente: «As pessoas gostam dos carros antigos porque sentem algo; quando vamos a 150 km por hora sentimos que vamos a uma velocidade quase impossível e é um prazer extraordinário – os carros de hoje em dia são magníficos, mas são assistidos; não há mais aquela sensação de vertigem, não sentimos nada, já não há prazer», explica. «É como a boa comida: quando vamos a um chef, queremos ter uma sensação diferente da que temos quando saímos de um restaurante normal».

Cvstos Challenge | Ref. B00107.4172003 © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Cvstos Challenge | Ref. B00107.4172003 © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Há uma clientela específica para os bólides modernos e os clássicos: «Os carros modernos são um bocado ostentatórios, ao passo que os carros clássicos têm classe». Tal como há diferentes tipos de apaixonados pelas viaturas antigas: «Há os filhos de apaixonados e colecionadores, que cresceram a aprender os encantos dos carros vintage e partilham essa paixão, reunindo-se muitas vezes em ralis clássicos. E há aqueles que não gostam de andar em carros modernos e que viajam frequentemente de comboio ou avião, descobrindo algo de novo nas viaturas clássicas, muitas vezes levados por amigos».

No caso de Tiziano Carugati, a paixão vem de longe. «Sou apaixonado desde pequeno. Liguei-me aos automóveis e depois entrei no negócio. Tudo o que faço está associado à minha paixão pelos automóveis». Até o seu gosto pessoal pelos relógios, como se pode constatar. «Hoje em dia, tanto nos carros como nos relógios, há quem compre para vender a seguir e especular. Quem tem paixão compra para apreciar. Já não é um mercado automóvel, é um mercado especulativo e financeiro. Se um cliente entra no meu stand e diz que quer comprar um carro de coleção, eu pergunto-lhe primeiro o que vai fazer com ele e logo decido – consigo deixar de lado o benefício de ganhar apenas dinheiro com a venda», confessa.

Relógios contemporâneos

O mesmo sucede nos relógios. «Sou um verdadeiro apaixonado, porque gosto de comprar relógios que aprecio, não porque podem ser um investimento ou porque têm um nome mais sonante. Hoje em dia, isso acontece muito – e isso não é paixão, é interesse financeiro», sublinha Tiziano Carugati. E acrescenta: «Vou ao Salon International de la Haute Horlogerie e só há lá dois ou três relógios de que gosto; se for à Cvstos ou à Franck Muller, gosto de praticamente tudo o que está exposto. Mesmo que sejam marcas mais contemporâneas e não tenham a fantástica história secular de uma Patek Philippe. Para mim, é a estética que conta em primeiro lugar. Os relógios Cvstos têm outras formas, têm estilo, têm algo de que gosto e um espírito decididamente racing. Sobretudo, não gosto de comprar relógios de marcas históricas que me dariam a impressão de estar a comprar o relógio do meu avô. Algumas marcas dizem-nos para comprar o relógio do avô para o passar ao filho – essa lógica não me interessa. Esses relógios ‘velhos’ não me interessam».

A aparente contradição com o seu gosto por carros vintage é facilmente explicável: «Atenção: não gosto dos carros de antes da Segunda Guerra Mundial. É interessante olhar para eles, mas não é interessante conduzi-los. Gosto, sobretudo, de conduzir carros dos anos 60 até aos finais da década de 70, que é, para mim, o melhor período da indústria automóvel. Que também foi o período de ouro da Fórmula 1». Como bom ‘italiano’, tem clara preferência pelas máquinas transalpinas: «Antes, era só Ferrari; hoje em dia, tenho mais perspetiva e aprendi a gostar de outros. Mas tenho sobretudo paixão pelos Ferrari e uma paixão especial pelo Ferrari Dino 246 GTS. Gosto de fazer ralis, de andar a 80 ou 90 km/h, tenho imenso prazer – mas, se quiser correr, vou para um circuito, são duas coisas completamente diferentes».

© Paulo Pires/Espiral do Tempo
© Paulo Pires/Espiral do Tempo

E a célebre comparação entre a Ferrari e a Porsche? «Para mim, a Ferrari está acima e a Porsche um pouco abaixo. Um Porsche é excelente e fiável; um Ferrari é como uma bela amante, é mais entusiasmante e pode dar problemas…, mas nunca a deixamos. São escuderias que têm uma história longa, como as manufaturas relojoeiras Patek Philippe ou Vacheron Constantin – mas não é a história que me interessa nos relógios, é a estética. Claro que gosto da mecânica, porque sou mecânico de precisão, mas é sobretudo a estética. Nos carros, o apelo mecânico é diferente».

Os seus modelos vintage preferidos são Ferrari: «Para mim, o verdadeiro ícone é o Ferrari 250 SZB Aluminium Competition do início dos anos 60; há também o 250 GTO que ainda vale mais, mas o SZB é ainda mais lindo. Hoje em dia vale 20 milhões, se certificado pela Ferrari». Quanto às marcas contemporâneas, a preferência também é italiana: «Hoje em dia, o Pagani é o exemplo do supercarro moderno extraordinário. Tem uma construção muito artesanal; fazem-se somente 35 exemplares por ano. Horacio Pagani foi o primeiro a fazer um monocoque em carbono, os seus carros têm acabamentos excecionais e um motor Mercedes fantástico. Para mim, um Pagani é diferente de tudo o resto. E o fundador ainda está vivo; os filhos trabalham com ele, é uma família com uma história extraordinária».

Os novos Challenge Chrono III Power Reserve

Exatamente dez anos após o lançamento do Pagani Zonda F Chrono Engineered by Cvstos, a Cvstos lança a terceira geração da sua linha Challenge Chrono Power Reserve – a linha best-seller da coleção da marca genebrina, com uma estrutura um pouco mais alargada, um perfil mais elegante, um maior investimento no conceito modular e sobretudo mais colorida. Antonio Terranova explica quais as novidades estruturais e de design associadas à nova geração.

Entre 2009 e 2010, a Cvstos elaborou o Pagani Zonda F Chrono Engineered by Cvstos, uma edição especial para a Pagani assente na primeira geração do Challenge Chronograph e que hoje em dia é uma cobiçada peça de coleção. © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Entre 2009 e 2010, a Cvstos elaborou o Pagani Zonda F Chrono Engineered by Cvstos, uma edição especial para a Pagani assente na primeira geração do Challenge Chronograph e que hoje em dia é uma cobiçada peça de coleção. © Paulo Pires/Espiral do Tempo

«Não se trata de uma atualização. É a última evolução da linha Challenge, que quis absolutamente que fosse mais desportiva do que a geração anterior – que, por sua vez, apresentava um equilíbrio entre o seu caráter desportivo e um classicismo moderno típico de uma época de discreta elegância que, entretanto, chegou ao fim», refere o cofundador e responsável criativo da Cvstos. «Esta geração foi idealizada com o objetivo de criar um jogo de possibilidade de cores, que torna possível a personalização consoante o gosto dos diversos mercados ou mesmo o cliente final. E posso aqui revelar em primeira mão a utilização de uma nova matéria denominada iTr2, um composto carregado com pós de cerâmica colorida que estará disponível na linha a partir de 2020, para celebrarmos em grande o nosso 15.º aniversário e preparar o futuro da Cvstos. Também posso adiantar que, em breve, apresentaremos os protótipos dos novos movimentos cronográficos com flyback, roda de colunas, balanço com pesos reguláveis e 70 horas de autonomia – que irão substituir os movimentos elaborados, especialmente para a Soprod e para a Cvstos, e baseados no fiável ETA 7750 com indicação de reserva de corda».

Para Antonio Terranova, o Challenge III Chronograph-S marca o fim de uma era e o começo de outra. Esteticamente, percebe-se isso. De frente, nota-se imediatamente uma disposição menos longilínea, graças aos flancos mais alargados – e a construção modular à base de uma peça central denominada contentor e ladeada pelos chamados brancards (esses flancos modulares) surge mesmo no modelo de primeiro preço, contrariamente à construção exclusivamente monocoque dos modelos de base da geração anterior estreada em 2013. O formato é o mesmo que se tornou na imagem de marca da Cvstos desde o início – uma caixa tonneau – e existe uma familiaridade evidente com o Challenge Chrono II Power Reserve. Mas o Challenge III Chronograph-S parece mais largo, graças a uma proeminente base de suporte à coroa e aos botões do lado direito e a uma inserção do lado esquerdo para manter a ideia de simetria.

Cvstos Challenge Chronograph | Ref. B00107.4172002 © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Cvstos Challenge Chronograph | Ref. B00107.4172002 © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O titânio de grau 5 é o material preferencial, estando presente no contentor, no fundo da caixa, na coroa de rosca e botões, e nos protetores da coroa e dos botões. Já os brancards podem ser feitos em titânio de grau 5, em ouro rosa 5N ou em composto de cerâmica ITR2. Em qualquer das variantes, a estrutura modular garante estanqueidade até aos 100 metros e estará disponível nos tamanhos habituais da coleção Cvstos: o normal (53,70 por 41 mm) e o GT (59 por 45 mm).

A complexa estrutura multidimensional é especialmente evocativa dos automóveis de competição GT, reforçada pelo mostrador esqueletizado sob um vidro de safira convexo, com tratamento antirreflexo especial. O ponteiro em três braços dos pequenos segundos contínuos representa um regresso atualizado às raízes da Cvstos – e personifica o ‘S’ de Sport. O novo indicador de reserva de corda tem dois tipos de indicação, ficando ao mesmo nível da janela da data. O mostrador inclui uma escala taquimétrica na orla e indexes alternados com algarismos aplicados. Os dois totalizadores sobredimensionados (das horas e dos minutos) formam um eixo vertical e são destacados por discos em metal precioso com acabamento tipo diamante. Os ponteiros recuperam a forma de espada presente na coleção inaugural da marca; a legibilidade do conjunto é reforçada pela utilização criteriosa de material luminescente. Através do fundo em transparente em vidro de safira, é possível constatar o novo rotor estilizado com braços de titânio, e segmento em tungsténio 88, na extremidade, para potenciar a circulação rápida nos dois sentidos.

Tal como um carro de competição, o Challenge III Chronograph-S apresenta-se vanguardista em todas as suas vertentes. E tem uma presença única no pulso ou ao volante de qualquer carro clássico. Que o diga Tiziano Carugati.

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