Afinal, qual é a sua tribo?

Se gosta de relojoaria mecânica existe uma boa probabilidade de gostar também de tudo o que envolva motores, o resultado de associarmos engrenagens, óleos, combustíveis (de preferência com um índice de octano elevado), válvulas, pistões, etc, etc… O tipo de pessoa, afinal, a quem os britânicos gostam de chamar de “Petrol head”… cabeça de gasolina… para ser mais preciso!

E se assim for, lembrar-se-ão certamente da célebre série televisiva TOP Gear, da BBC, protagonizada pelo trio Jeremy Clarkson, James May e Richard Hammond. Um trio entretanto substituído por Matt LeBlanc, Chris Harris e Rory Reid que, apesar do esforço, não conseguiram por enquanto alcançar o mesmo nível de carisma da equipa fundadora junto do seu público alvo.

Depois do escândalo que levou ao seu despedimento do programa pela BBC, Clarkson conseguiu arrastar May e Hammond para uma nova aventura on-line chamada Drive Tribe (D_TRB), um site descrito como “a plataforma de media digital da nova geração dedicada ao automobilismo e aventura”, ou ainda, segundo outra fonte, “tal como o Facebook Groups, mas com muito melhor aspeto”!

Uma plataforma na qual os utilizadores podem inscrever-se e criar o seu próprio perfil e grupo, uma espécie de “Tribo” que se pode focar em qualquer aspeto do universo motorizado como motos, marcas, modelos ou mesmo as estradas menos frequentadas. Os “cabeça de gasolina” podem então juntar-se a outras tribos e partilhar vídeos, experiência e mesmo artigos, assim como conteúdo interativo.

A plataforma parece estar a ser um grande sucesso e a forma simples e descomplexada como os utilizadores revelam as suas preferências pelas respetivas “Tribos” fez-me recordar que também na relojoaria mecânica existe uma forte tendência para nos segmentar-mos por género e preferência.

Afinal não é habitual que os membro da “Tribo” da Rolex andem de mãos dadas com os membros da “Tribo” da Patek Philippe. O mesmo se pode dizer dos que preferem os relógios Vintage em relação aos que se deixam seduzir pelo géneros de relojoaria produzida por marcas como por exemplo a Hublot, Bell & Ross ou Montblanc. E até mesmo os que optam pela exclusividade e criatividade dos chamados “Independentes”, acabam por atomizar-se em sub grupos que englobam nomes como a MB&F, Urwerk, Ressence e HYT, ou os mais clássicos Urban Jurgensen, Romain Gauthier e F.P.Journe. Do outro lado do espectro é ainda possível encontrar os que preferem os argumentos de marcas como a Cartier, Bulgari ou Chopard numa afirmação de reconhecimento pelo seu ADN joalheiro.

A isto podemos ainda acrescentar a preferência por géneros como cronógrafos, calendários perpétuos, relógios de mergulho, modelos de aparência mais desportiva, clássicos, com caixas de maior ou menor diâmetro, etc, etc. As possibilidades são inúmeras.

Mas, muitas vezes, tal como se percebe quando se navega pelo site de Clarkson, May e Hammond, os gostos sobrepõem-se e as fronteiras tornam-se mais ténues. Uma indefinição salutar que não impede que o membro de uma “Tribo” demonstre o seu apreço pelo estilo ou exemplo particular pertencente a uma outra.

O fã incondicional do Rolex Submariner pode assim manifestar, sem risco de ser expulso da sua “Tribo”, o apreço pelo mais recente modelo do Nautilus da Patek Philippe, assim como a irreverência de um Legacy Machine Perpetual da MB&F pode seduzir o irredutível apreciador de um Tourbillon Souverain do mestre François-Paul Journe.

James May descreveu o Drive Tribe como “Um site de pura inclusão digital na qual algumas das tribos mais ameaçadas, …como os entusiastas da Volvo…, podem agora ter uma voz tão forte como qualquer outra”.

E o leitor que nos está a ler, afinal qual é a sua tribo?

Outras leituras