Borg vs McEnroe: o filme, a rivalidade e os relógios

Estreou recentemente nas salas de cinema portuguesas um filme sobre aquele que considero ser o mais relevante encontro de ténis de todos os tempos – a final de 1980 em Wimbledon entre Bjorn Borg e John McEnroe capturou o imaginário do planeta e também mudou a minha vida para sempre. A Rolex marca presença destacada não só por ser a histórica cronometrista oficial do mais famoso torneio do mundo mas também no pulso dos dois protagonistas…

Não deixa de ser uma sensação bizarra… o facto de eu estar a escrever acerca de um filme inspirado por um acontecimento que, indiretamente, fez com que eu esteja agora a escrever sobre ele. Confusos? Vou tentar explicar melhor: muito do que eu sou hoje – profissionalmente e, por arrasto, pessoalmente – se deve ao lendário duelo entre Bjorn Borg e John McEnroe que decidiu o título de Wimbledon em 1980, para mim o mais relevante encontro de todos os tempos na história da modalidade.

A fotografia da praxe antes da grande final, com os emblemáticos casacos de fato de treino
A fotografia da praxe antes da grande final, com os emblemáticos casacos de fato de treino © DR

Vi essa final em Coimbra, em casa dos meus pais. No dia 5 de julho, um sábado – pouca gente se lembrará que só a partir de 1982 é que as finais de Wimbledon se começaram a realizar ao domingo. Eu já tinha jogado ténis antes, mas de modo muito irregular; também já tinha visto vários outros encontros (meias-finais, finais) antes via RTP, mas esse é o primeiro que a minha memória recorda vivamente. Lembro-me da estupefação pela facilidade com que McEnroe ganhou o primeiro set, lembro-me do épico tie-break e lembro-me do ajoelhar de Borg na vitória que se tornou no padrão das celebrações de títulos do Grand Slam. E logo a seguir fui bater bolas contra a parede, lá perto de casa.

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Na ante-estreia, sem Rolex mas com duas reedições: um TAG Heuer Autavia ‘Jo Siffert’ no pulso e Diadora Borg Elite nos pés… © Espiral do Tempo

Essa cimeira de extremos entre o consagrado e imperturbável sueco que não falhava no fundo do court e o aspirante e irascível norte-americano que vinha para a rede à mínima oportunidade foi mesmo absolutamente fundamental na minha vida porque capturou o meu imaginário, fez-me inclinar definitivamente para o ténis em vez do futebol e essa paixão tornou-me jogador, campeão universitário e treinador na Associação Académica de Coimbra (a minha licenciatura em História da Arte foi posta de lado após a conclusão do curso), juíz-árbitro e árbitro de cadeira profissional até chegar ao que sempre quis ser: jornalista especializado em ténis; consequentemente, as minhas viagens no circuito permitiram-me aperfeiçoar o gosto que tinha por relógios e tornar-me igualmente jornalista especializado em alta-relojoaria.

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Uma das cenas finais do filme: ‘Borg’ e ‘McEnroe’ encontram-se no aeroporto, após a final © DR

E claro que, durante o filme, tinha de estar atento às conotações relojoeiras. Que são várias, mas apontando sempre num sentido único: o da Rolex. Porque a final foi tão equilibrada e teve momentos tão extraordinários que suscitaram constantemente o olhar incrédulo para o marcador – sobretudo no famoso tie-break do quarto set, no qual Bjorn Borg teve mais cinco match-points para chegar ao seu quinto título consecutivo em Wimbledon, sendo que John McEnroe também só ao quinto set-point logrou remeter a decisão para a quinta partida! Esse tie-break ficou resolvido pelo incrível parcial de 18-16 (daí o cognome de ‘Guerra de 1816’ dado pelo meu saudoso colega Bud Collins ao duelo) e tanto o nome como o logótipo da Rolex acompanharam a evolução dramática do marcador, estampados no scoreboard e sobressaindo particularmente pelo facto de o Centre Court não apresentar quaisquer outros indícios publicitários à excepção de discretas alusões às bolas Slazenger e às bebidas Robinson’s na cadeira do árbitro.

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Um dos vários relógios Rolex colocados ao longo do All England Club © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

O famoso placar eletrónico de Wimbledon surge convincente no estádio construído em Praga para replicar o vetusto Centre Court do All England Club durante as filmagens, sendo que tinha sido adotado um ano antes dessa final de 1980 em substituição dos tradicionais scoreboards manuais utilizados até então. A Rolex surge evidentemente em destaque e por lá se mantém no torneio ‘verdadeiro’ (agora num novo painel electrónico adoptado desde 2008) graças àquela que é uma das mais antigas parcerias na história do desporto. A marca genebrina é patrocinadora de Wimbledon desde 1978 e nos últimos anos juntou mesmo Bjorn Borg ao seu rol de velhas glórias como embaixadores da marca; o sueco usa um Day-Date de mostrador verde – verde Rolex ou verde Wimbledon, é (praticamente) igual…

O lendário Bjorn Borg no mítico Centre Court de Wimbledon, onde ganhou cinco títulos consecutivos entre 1976 e 1980; no pulso, um Rolex Day-Date © Rolex
O lendário Bjorn Borg no mítico Centre Court de Wimbledon, onde ganhou cinco títulos consecutivos entre 1976 e 1980; no pulso, um Rolex Day-Date 36mm com mostrador verde © Rolex

No filme, o ator sueco Sverrir Gudnason, que interpreta precisamente o papel de Bjorn Borg, usa um Datejust aço/ouro com bracelete Jubilee que é várias vezes visível e até ocasionalmente utilizado para controlar a pulsação do campeoníssimo escandinavo – que era lendariamente baixa. Já o ator norte-americano Shia LaBeouf, que faz de John McEnroe, também enverga um Rolex… com uma nuance que detectei: normalmente, os esquerdinos usam relógio no pulso direito, mas o novaiorquino, mesmo sendo canhoto, punha o relógio no pulso esquerdo como se vê na fotografia em baixo – e não no pulso direito como se vê durante o filme e até nalguns posters de promoção da película!

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Bjorn Borg e John McEnroe já eram amigos e defrontaram-se sete vezes antes da célebre final de 1980; na imagem, o esquerdino norte-americano com o seu Rolex no… pulso esquerdo © DR

A ligação entre Wimbledon e a Rolex é encarada no mundo do marketing desportivo como um casamento perfeito – uma associação ideal entre duas marcas nobres e com grande peso institucional. Wimbledon pode parecer um torneio anacrónico com os seus courts de relva quase extintos fora da Grã-Bretanha e tradições aparentemente desajustadas dos tempos modernos, mas a verdade é que o mais prestigiado evento tenístico do planeta tem-se mostrado consistentemente inovador ao longo dos tempos.

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Vista do Centre Court a partir da bancada de imprensa com um Rolex Explorer… devidamente ‘vestido’ para a ocasião com uma bracelete NATO ‘Old England’ da Maurice de Mauriac © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

O seu segredo: mudar ao mesmo tempo que parece continuar na mesma – e ter uma visão a longo termo que lhe permite retirar o máximo de dividendos da sua aura tradicionalista. E a Rolex tem exatamente a mesma filosofia, os mesmos valores. Aparentemente imune a modas e tendências, a companhia relojoeira genebrina tem mantido uma coleção consistente que apresenta mudanças subtis de ano para ano e até as novidades são integradas de maneira extremamente cuidadosa de modo a respeitar a tal ‘evolução na continuidade’ que tem sido o seu mote praticamente desde sempre.

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O famoso ajoelhar que se tornou no padrão celebratório das vitórias em torneios do Grand Slam; ao fundo, o scoreboard com a duração do encontro (3h53m) e a inscrição Rolex – uma das escassas referências publicitárias no sagrado Centre Court © DR

Para mais, a união entre Wimbledon e a Rolex dura já há praticamente quatro décadas e constitui uma das mais antigas parcerias de sempre no universo dos patrocínios desportivos; até a cor corporate é muito idêntica e o tom verde é predominante no All England Club, tanto nos courts de relva como nos edifícios. O cordão umbilical entre as duas instituições sai reforçado com o respeito mútuo pela tradição e uma estratégia a longo termo, sem esquecer os relógios ao longo do recinto e que já destacamos no nosso Instagram da Espiral do tempo em @espiraldotempo (este ano até fizemos uma Insta Story com as imagens de vários deles!).

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Um dos vários relógios Rolex dispersos pelo All England Club, este localizado no exterior do Court 3 © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

No decurso da última década e meia, a Rolex tornou-se num dos principais investidores do ténis – assumindo o papel de cronometrista oficial na maior parte dos maiores torneios e com um grupo de credenciados embaixadores tenistas que vai crescendo paulatinamente. Claro que Wimbledon é a jóia da coroa, mas a Rolex também patrocina outro evento do Grand Slam (o Open da Austrália), as duas principais competições por equipas nacionais (Taça Davis e Fed Cup) e a nova Laver Cup, as cimeiras de final do ano com os melhores de cada circuito (ATP World Tour Finals e WTA Championships, conhecidas por Masters) e ainda vários torneios Masters 1000 – incluindo o de Monte-Carlo e o de Shaghai, que até têm a Rolex como title sponsor.

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A antecâmara para a Suite Rolex, onde são recebidos os convidados e embaixadores da marca durante a quinzena wimbledoniana © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

O rol de embaixadores é liderado pela lenda viva Roger Federer, que ganhou o primeiro dos seus 19 títulos do Grand Slam precisamente em Wimbledon e que personifica tanto no court como fora dele a classe e precisão suíça. Mas atenção, por maior que seja o estatuto de Federer e por mais badalados que sejam os seus duelos com Rafael Nadal, é forçoso reconhecer que nunca nenhum campeão de ténis teve ou terá a aura mística de Bjorn Borg ou nenhuma final foi como a de Wimbledon que protagonizou com John McEnroe em 1980.

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Vale mesmo a pena ver o filme e aqui deixo o link para um ensaio bem mais detalhado que escrevi sobre a película e tudo o que roda à volta dela: é só clicar AQUI.

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