Os italianos são apaixonados por carros. Genuína e intensamente.
Em Itália, nasceram alguns dos melhores e mais respeitados construtores de carros do mundo: Maserati, Ferrari ou Lamborghini, para citar apenas alguns, contribuíram em larga medida para o fascínio mundial por carros ‘rápidos’ e muito bem desenhados.
A história de Enzo Ferrari ainda hoje inspira um grande espectro de apaixonados por carros, independentemente do seu país de origem, riqueza ou cultura. E é aí que está a beleza de tudo isto: carros de corrida e, até certo ponto, carros clássicos incorporaram o génio da criatividade humana, capaz de superar os desafios técnicos e de surpreender com a elegância do seu design. Poucos outros produtos nos podem levar a sonhar tão alto.
Eu mesmo – tal como o famoso personagem de banda-desenhada francês Obelix caiu no caldeirão muito cedo –, também caí neste mundo muito cedo. Nasci numa pequena cidade que, ainda hoje, é casa de um dos maiores construtores franceses de carros. Naquela época, anos 70 (assim dá mais ou menos para adivinhar a minha idade…), o centro de produção Sochaux / Montbeliard empregava mais de 45.000 pessoas. Todos (ou julgo que uma grande maioria) se sentiam muito orgulhosos por fazer parte do mundo dos carros, assegurando, pela qualidade de seu trabalho quotidiano, que os Peugeot iriam satisfazer um número crescente de clientes. Muito logicamente, e como efeito colateral da sua esmagadora presença, os meus amigos e eu costumávamos passar o mês de julho, nas férias, a trabalhar lá, juntando uma boa quantia no final deste único mês (mas que rapidamente era gasto no mês seguinte…).
Já agora, a menos de 100 quilómetros da minha cidade natal, o jovem Ettore Bugatti fundou, em 1909, a famosa marca homónima, na região da Alsácia … mas essa é outra história.
Resumindo: o convite feito pela A.Lange & Söhne para participar no Concorso d’Eleganza Villa d’Este nas margens do Lago Como, no fim-de-semana passado, foi particularmente bem-vindo! Esta apresentação anual, por vezes qualificada como o ‘espetáculo de carros clássicos de Palm Beach europeu’, reúne mais de sessenta carros de um período que vai desde os anos 20 aos anos 70. No bonito cenário de Villa d’Este, um público muito exclusivo passa o dia todo a partilhar as suas paixões com os concorrentes.
Não há dúvida de que todos aqueles impressionantes carros clássicos, equipados com motores superlativos, combinam perfeitamente com a “nossa” bela relojoaria. No entanto, muitas vezes me senti intrigado com a parceria de A. Lange & Söhne com o Concorso d’Eleganza. Considerando que os grandes tubarões na indústria de relógios comunicam orgulhosamente as suas raízes do mundo automóvel, amplamente exploradas através das suas coleções e patrocínios de marketing, nunca percebi muito bem o que poderia levar uma marca alemã de alta-relojoaria a participar num concurso deste tipo.
Mas depois de ter entrevistado Herr Wilhelm Schmid, atual CEO da A. Lange & Söhne (uma entrevista que será publicada na edição de verão da Espiral do Tempo, nas bancas a 21 de junho), confesso que estava errado. Mais uma vez.
Mas tudo bem. É uma coisa a que nos acostumamos com a idade!
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