EdT48 — No mundo da relojoaria, inovar também significa pensar na sustentabilidade e na ecologia. É por isso que são cada vez mais as marcas que apostam numa postura ‘verde’ na hora de renovar ou de melhorar as suas instalações e unidades de produção. A propósito da inauguração do novo edifício da manufatura A. Lange & Söhne recuperamos um artigo dedicado às ‘manufaturas verdes’ que foi publicado no número 48 da Espiral do Tempo.
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Além de diversas iniciativas e parcerias com organizações ligadas à preservação do ambiente, tem sido precisamente através das próprias instalações que as marcas relojoeiras revelam o seu lado mais verde de pensar e de inovar. Com efeito, nos últimos tempos multiplicam-se os projetos de ampliação ou de construção de unidades de produção cuja principal preocupação é a sustentabilidade ambiental, aliada ao bem-estar dos colaboradores. Tais projetos distinguem-se por inovadoras soluções que aproveitam estrategicamente os locais em que se inserem, de modo a aproveitar de forma sustentável os recursos naturais e de modo a reduzir ao máximo o impacto das suas atividades industriais no ambiente.
Minergie e Minergie-ECO®
Há uns anos, a Audemars Piguet e a Jaeger-LeCoultre concretizaram projetos de ampliação das suas manufaturas de acordo com os requisitos ambientais de construção que lhes permitiram ostentar os inovadores selos Minergie e Minergie-ECO®, respetivamente. A otimização do consumo através de sistemas reguladores de temperatura compatíveis com as opções de isolamento, a aposta em energias renováveis, e a utilização de materiais recicláveis ou biodegradáveis são apenas alguns dos pontos que fazem das novas unidades de produção das marcas grandes amigas do ambiente. Criado em 1998, o selo «Minergie garante que um edifício certificado oferece conforto acima da média, com menos 60 por cento de consumo energético relativamente a um edifício convencional», esclarece a entidade responsável. Trata-se de uma construção, enquanto sistema, ancorada num excelente isolamento térmico, numa ventilação suave e automática e em sistemas de aquecimento / arrefecimento eficazes, adaptados ao ambiente.
O desenvolvimento do conceito levou à oficialização, em 2007, do selo Minergie-ECO® que, segundo a Audemars Piguet, «comporta ainda mais exigências, incluindo a seleção de materiais isentos de substâncias nocivas para a saúde dos utilizadores e para o ambiente». «A Audemars Piguet era, em 2005, a primeira empresa a visar este selo, então em fase de teste», esclareceu na altura Jasmine Audemars, «em 2009, a manufatura de Forges é (era) o primeiro – e único – edifício industrial certificado na Suíça». Agora, em 2014, o grupo Chopard anuncia que a necessária renovação levada a cabo nas instalações da Fleurier Ebauches, S. A., foi concluída com sucesso, e surge também certificada com o selo Minergie. No caso do edifício da Fleurier Ebauches, S. A., o piso interior foi completamente renovado e isolado, os plintos das fachadas e telhados foram também isolados, enquanto um segundo revestimento foi acrescentado à fachada da ala para assegurar a ventilação, no verão, e a recuperação de calor, no inverno. As instalações elétricas foram todas selecionadas de acordo com os standards Minergie e o telhado foi coberto com painéis solares. O sistema de automação do edifício garante uma temperatura estável durante todo o ano sem a necessidade de óleo de aquecimento. Quatro bombas de calor cuidam tanto dos sistemas de aquecimento e de ar condicionado, como do arrefecimento das máquinas, graças a um lençol freático.
Energia geotérmica
Na mesma linha, a germânica A. Lange & Söhne leva atualmente a cabo o alargamento da sua manufatura através da construção de um novo edifício, cuja conclusão está prevista para 2015; este edifício será equipado com um inovador sistema geotérmico de aquecimento. A localização estratégica da cidade de Glashütte, junto à cadeia montanhosa de Erzgebirge, está na base desta opção. Com efeito, a principal rocha na região é o filito e a quantidade de quartzo que compõe o filito dota esta rocha de uma elevada densidade e condutividade térmica, tornando-a especialmente viável para a extração de calor geotérmico. Ao empregar energia geotérmica para aquecimento e ecoenergia para funcionamento da bomba de calor, o novo edifício da manufatura resultará em zero emissões de carbono e, simultaneamente, reduzirá os custos de energia em mais de 50 por cento relativamente aos sistemas convencionais baseados em combustíveis fósseis.
Laboratório de ideias
Também a Officine Panerai se lançou na aventura de construção de novas instalações, assumindo a preocupação de reduzir ao máximo o impacto ambiental. Inaugurada no final de 2013, a nova manufatura tem uma área de 10.000 metros quadrados e está localizada em Pierre-a-Bot, Neuchâtel, e para ela foram transferidas todas as atividades de desenvolvimento, produção e montagem dos relógios e movimentos da marca. Uma forma de otimizar o processo de produção tanto em matéria de qualidade, como de quantidade. Além das linhas de produção, equipadas com as tecnologias mais recentes, há na nova fábrica espaço para todas as operações relacionadas com a produção de protótipos, o controlo de qualidade, a montagem dos componentes, dos movimentos e das caixas dos relógios da marca, integrando ainda o novo edifício o Laboratorio di Idee, a área onde todas as atividades de investigação e de desenvolvimento, que estão por trás do ímpeto inovador da marca, serão consolidadas. Em traços gerais, a Panerai aposta numa unidade de produção inovadora cujo objetivo é atingir os zero por cento de emissões de carbono, devido à cuidadosa integração de tecnologias de recuperação, com concretização de reciclagem de recursos, com sistemas de recuperação de água com dispositivos de redução de emissões e ainda políticas ecossustentáveis de mobilidade para os funcionários. Esta última é uma ação que se pode verificar também noutras marcas e que é apenas um exemplo de como as ações ecológicas passam muito pelo envolvimento dos próprios colaboradores. Em números, basta dizer que, desde 2007, a Jaeger-LeCoultre cobre os custos de transporte de três linhas de autocarros que permitem aos colaboradores deslocarem-se entre o trabalho e as respetivas casas. Estudos indicam que o serviço de autocarros contribuiu para a redução de 500 carros nas estradas, cada um dos quais percorria uma média diária de 50 quilómetros, 220 dias por ano. O número total de quilómetros reduzidos ascende a cerca de 5,5 milhões por ano. Dá realmente que pensar…
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