EdT50 — Para marcar o advento de uma nova era enquanto marca relojoeira, a Porsche Design vasculhou os arquivos da sua história progressista e baseou-se numa dupla revolucionária para lançar dois modelos comemorativos — não tão radicais quanto os seus antecessores o foram na altura, mas que estabelecem uma ponte lógica entre o passado e o futuro.
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Análise publicada no número 50 da Espiral do Tempo.
Já havia sido anunciado, mas foi publicamente oficializado no derradeiro trimestre de 2014 em Zell am See. Na pequena localidade austríaca que serviu de destino de férias à família Porsche durante décadas e onde Ferdinand Alexander Porsche fundou um estúdio que se tornou numa marca à escala global, a Porsche Design revelou a sua estratégia para o futuro próximo, ao mesmo tempo que desvelava os primeiros relógios da nova era: o Timepiece No. 1 e o Chronograph Titanium Limited Edition.
Sabia-se há já um ano que a Porsche Design, após várias parcerias com outras marcas e a recente venda da Eterna, havia decidido assumir o controlo absoluto da sua coleção relojoeira. E marcou a efeméride com dois modelos comemorativos inspirados nos seus modelos que revolucionaram a indústria relojoeira em 1972 e 1980. Visualmente, afiguram-se menos revolucionários do que esses ilustres predecessores, mas são assumidamente mais consensuais com o recurso a caixas com tradicionais asas para as correias em vez da arquitetura integrada que se tornou tão caraterística da marca. «Quisemos recomeçar com um design mais consensual, juntando o moderno ao tradicional», explicou Patrick Kury, que já anteriormente havia gerido os destinos da marca sob a égide da Eterna e que é o novo responsável pela produção relojoeira autónoma da Porsche Design.
O peso de um nome
A importância do design é incontornável quando se trata da Porsche Design — afinal de contas, a nomenclatura faz com que a responsabilidade seja redobrada. O nome Porsche é seguramente um dos mais respeitados no universo do prestígio e do luxo — mas a filosofia técnica e estética inerente à fama da escuderia alemã há muito que ultrapassou a vertente automobilística para representar um conceito estilístico válido para as mais diversas aplicações, desde acessórios de suprema qualidade até mobiliário de cozinha e mesmo raquetas de ténis sob a etiqueta Porsche Design.
Uma individualidade contribuiu decisivamente para a expansão do brasão da Porsche: o professor Ferdinand Alexander Porsche, que tomou as rédeas da empresa familiar e a transformou num potentado — sobretudo a partir do Porsche 911, que revolucionou a estética automóvel nos anos 60, graças a linhas tão intemporais que tem bastado uma simples atualização pontual para permanecerem vigentes. O design da lendária viatura manteve-se ao longo das décadas para se transformar num clássico intemporal. E o próprio Ferdinand Alexander Porsche fez questão de, já nos anos 70, alargar o seu conceito de design patente no 911 a uma bem-sucedida linha de produtos vanguardistas onde a forma e a função se fundem de maneira ideal. E, para isso, fundou o Porsche Design Studio do lado de lá da fronteira alemã, na Áustria, para onde os seus progenitores tantas vezes o levaram e aos irmãos para se alhearem dos horrores nazis da Segunda Guerra Mundial.
O estabelecimento de um atelier de design próprio em 1972 foi o ponto de partida para a primeira linha contemporânea de acessórios de luxo para o homem — e o primeiro artigo com a chancela Porsche Design foi precisamente um relógio, algo de natural tendo em conta a paixão que ‘Ferdi’ sempre denotou pelos instrumentos do tempo e que o levaria mesmo à compra da Eterna na segunda metade da década de 90.
A forma e a função
Foi do Porsche Design Studio que, sob a batuta de Ferdinand Alexander Porsche, saíram alguns dos mais notáveis exemplos de design das últimas décadas — objetos pensados de maneira lógica, mas com soluções técnicas e opções estéticas tão surpreendentes que rapidamente ganharam estatuto de objetos de culto. E dentro das instalações há mesmo um local de culto: a sala do genial Professor permanece intocada desde a sua morte, como um pequeno santuário em forma de gabinete…
Como Ferdinand Alexander Porsche era um grande aficionado da relojoaria mecânica, não causou estranheza que o produto inaugural a sair dos estiradores do Porsche Design Studio, em 1972, tivesse sido um cronógrafo — batizado Chronograph I e primeiro relógio totalmente concebido em preto-mate, oferecendo uma nova direção a uma relojoaria de luxo que até então estava demasiado presa a materiais preciosos, como o ouro ou a prata. O Chronograph I era mais do que um relógio: era um instrumento do tempo revolucionário. Oito anos depois, em 1980, a Porsche Design assinava outra estreia de relevo: o primeiro relógio totalmente concebido em titânio. Em ambos os casos, foi seguida a máxima da escola Bauhaus, tão cara a ‘Ferdi’: a forma segue a função. E foi precisamente inspirada nesses dois modelos pioneiros na história da relojoaria que a Porsche Design Timepieces relançou a sua coleção de instrumentos do tempo.
Após uma sucessão de parcerias com marcas/manufaturas de prestígio (desde a Orfina, para o modelo inaugural, e depois a IWC até à Eterna, vendida em 2012), a Porsche Design tomou a decisão em 2013 de assumir completamente a produção dos seus relógios. E para celebrar a nova etapa do seu historial, lança agora dois cronógrafos em edição limitada. Ambos são baseados nos princípios do design moderno preconizados por Ferdinand Alexander Porsche: legibilidade absoluta, perfeição técnica, recurso aos melhores materiais e ênfase na funcionalidade… mas com o tal detalhe estético rétro com a opção por caixas de asas tradicionais. Ou seja: não são reedições, nem reinterpretações como as que a marca lançou por ocasião do seu 40.º aniversário — mas novos relógios assumidamente inspirados pelo legado do fundador.
A força negra do Timepiece Nº 1
O Chronograph I entrou para a lenda em 1972 como o primeiro relógio completamente preto. Mais de quatro décadas depois, é possível constatar a sua influência na indústria relojoeira com a profusão de modelos totalmente negros — de manufaturas de alta-relojoaria, a ateliers especializados em escurecer/personalizar modelos emblemáticos de marcas prestigiadas, sem esquecer marcas de primeiro preço com mecanismos de quartzo.
O primeiro dos dois cronógrafos inaugurais da nova entidade batizada Porsche Design Timepieces vinca bem esse seu teor inaugural no nome. O Timepiece No. 1 é totalmente negro e evoca precisamente as valências do modelo original do início da década de 70. O design purista e focado exclusivamente na funcionalidade é complementado pelas melhores técnicas de fabrico e construção do século XXI — com uma caixa de 42 mm de diâmetro em titânio revestido com PVD preto, bracelete negra em cauchu e movimento automático Valjoux 7750 (que pode ser visto através do vidro de safira escurecido no fundo) com 48 horas de reserva de marcha e certificado de precisão cronométrica atribuído pelo COSC (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres). Edição limitada a 500 exemplares, estanques até 500 metros.
As 500 sombras do Chronograph Titanium Limited Edition
Depois do modelo totalmente preto de 1972, o professor Ferdinand Alexander Porsche voltou a surpreender a indústria relojoeira em 1980 com a utilização de um material que na altura era somente utilizado de modo esparso e criterioso nalgumas outras indústrias de ponta: o titânio, um metal muito mais difícil de ser trabalhado mas também mais leve, mais resistente, anticorrosivo e antialérgico.
Segundo dos dois relógios da nova era, o Chronograph Titanium Limited Edition coloca em evidência uma caixa em titânio de 42 mm e a cor acinzentada natural do raro metal. À semelhança do Timepiece No. 1, apresenta um mostrador galvanizado em cor negra de design purista/minimalista com o ponteiro cronográfico dos segundos a vermelho para melhor legibilidade, mas faz-se acompanhar por uma correia em calfe com fecho de báscula.
Tal como o seu irmão gémeo, é igualmente alimentado pelo movimento automático Valjoux 7750 (que pode ser visto através do vidro de safira escurecido no fundo) com 48 horas de reserva de corda e rotor otimizado; também ostenta um certificado de precisão cronométrica atribuído pelo COSC numa tiragem limitada a 500 exemplares.
O eterno retorno de Patrick Kury
A nova entidade subsidiária do Porsche Design Group, batizada oficialmente Porsche Design Timepieces AG, está baseada em Solothurn, na Suíça, e tem como CEO um profundo conhecedor da relojoaria que foi o responsável pelos mais relevantes e inovadores produtos da Porsche Design na última dúzia de anos: Patrick Kury é sobretudo um homem de produto, mas já tinha assumido temporariamente o cargo de CEO da Eterna/Porsche Design após a dispensa do anterior CEO, Patrick Schwartz, e antes da aquisição da Eterna pelo grupo China Haidian.
«Como parte do realinhamento estratégico, regressámos às raízes dos relógios Porsche Design em busca de inspiração para os primeiros modelos da nova era. A Porsche Design sempre esteve na vanguarda da indústria relojoeira em termos de conceito e design que, nas décadas de 1970 e 1980, revolucionaram o modo como os relógios eram feitos», refere Patrick Kury, o rosto mais visível de uma estrutura diretiva que se estende a Gerhard Novak (General Manager Porsche Design Timepieces), Rolf Bergmann (COO Porsche Design Timepieces AG), Christian Schwamkrug (Design Director Porsche Design Studio), Roland Heiler (Chief Design Officer Porsche Design Group) e o chefe Jürgen Gessler (CEO Porsche Design Group).
Após o Timepiece No. 1 e o Chronograph Titanium Limited Edition, primeiros relógios concebidos sob o mote ‘Timepieces Made By Porsche Design’, serão apresentados ao longo da primavera deste ano os novos modelos que passarão a constituir a base da coleção regular da marca. E com um espírito mais vanguardista do que rétro…