SIHH 2019: Chronometrie Ferdinand Berthoud. FB1 ‘Oeuvre d’Or’

A nova variante do Chronomètre FB1 da Ferdinand Berthoud é uma alegoria da conservação do património e destaca as valências do modelo inaugural com duas versões ‘Oeuvre d’Or’ que colocam em destaque o metal precioso por excelência associado a novas soluções decorativas.

Um dos mais impressionantes relógios apresentados no recente Salon International de la Haute Horlogerie passou um pouco ao lado das atenções gerais – não só devido à sua tiragem extremamente limitada (cinco exemplares em cada uma das duas versões), mas também por ser uma nova variante de um modelo já conhecido que até foi galardoado com o prémio máximo no Grand Prix d’Horlogerie de Genève em 2016. Só que o FB1 ‘Oeuvre d’Or’ da Chronometrie Ferdinand Berthoud tem mesmo de ser destacado: as suas valências técnicas e estéticas merecem que o seja, apesar de muitos o considerarem uma mera reinterpretação de um modelo existente. Mas não é uma mera reinterpretação.

Ferdinand Berthoud FB 1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB 1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud

Quando o Chronomètre FB1 foi desvelado, em 2015, surgiu nas versões de ouro branco (FB 1.1 com asas em titânio) e ouro rosa (FB 1.2 com asas em cerâmica negra); apareceram depois variantes em platina (FB 1.3), em titânio (FB 1.4-1 e 1.4-2) e uma única em ouro dedicada ao lendário explorador italiano Alessandro Malaspina (FB 1.2-2). Paralelamente, surgiu a declinação com mostrador Regulador (FB 1R.6-1) e correspondentes edições limitadas em bronze (FB 1R5). O novo FB1 ‘Oeuvre d’Or’ recupera as caixas em ouro das versões originais para uma tiragem verdadeiramente exclusiva (cinco exemplares do FB 1.1-2 em ouro branco com diamantes baguete e outras cinco para o FB 1.2-1 em ouro rosa) que apresenta um novo grafismo no mostrador e decoração inédita no movimento.

Ferdinand Berthoud FB 1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB 1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud

O mostrador, em ouro patinado, tem uma caligrafia distintiva e gravações executadas à mão através de uma ferramenta denominada ‘graneador‘ que promovem reflexos de luz únicos. Os ponteiros são em ouro azulado, à excepção do ponteiro em bronze azulado dos segundos. Ambas as versões são inspiradas num exemplar de bolso concebido pelo mestre Ferdinand Berthoud no início do século XIX: o mostrador e a decoração piramidal das pontes em ouro do movimento remetem para o relógio astronómico Nº 3 de 1806, assemblado e regulado em Paris pelo seu discípulo Jean-Martin e que atualmente integra o espólio do museu L.U.Ceum em Fleurier.

Uma história épica

A recuperação do prestigiado nome Ferdinand Berthoud numa coleção atual foi um projeto pessoal de Karl-Friedrich Scheufele, co-presidente da Chopard e grande mentor da manufatura L.U.C que a marca genebrina tem em Fleurier, na região de Val-de-Travers de onde Ferdinand Berthoud era oriundo (nasceu em 1727 na vizinha localidade de Plancemont-sur-Couvet). O atelier da Chronometrie Ferdinand Berthoud fica localizado precisamente no terceiro andar da manufatura L.U.C da Chopard, do lado oposto ao museu L.U.Ceum (nome que resulta da contração das iniciais de Louis-Ulysse Chopard e do termo latino lyceum, local de aprendizagem) que conta no seu acervo com alguns relógios de Ferdinand Berthoud e seus descendentes ou discípulos, como o seu sobrinho Pierre-Louis e ainda Charles-Auguste ou o já referido Jean-Martin associado às novas variantes do Chronomètre FB1.

Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

O nascimento da Chronomètrie Ferdinand Berthoud enquanto marca não foi fácil. Para poder usufruir do nome do lendário relojoeiro e colocá-lo no mostrador do novo FB1, Karl-Friedrich Scheufele teve de o comprar: o nome já estava registado e os proprietários também tinham a intenção de reavivar a marca, mas com ideias bem distintas das que Karl-Friedrich Scheufele tinha em mente. Em 2006 as duas partes chegaram a um acordo – e após conseguir o nome, o plano seguinte era utilizá-lo no âmbito de uma marca exclusiva de alta-relojoaria que fizesse os relógios que Ferdinand Berthoud faria se estivesse hoje vivo. O movimento idealizado para o primeiro modelo requereu três anos com o esforço partilhado de quatro pessoas, duas na pesquisa e desenvolvimento e mais dois relojoeiros.

Pormenores do processo de gravação do mostrador © Ferdinand Berthoud
Pormenores do processo de gravação do mostrador © Ferdinand Berthoud
Pormenores do processo de gravação do mostrador © Ferdinand Berthoud

Até que foram apresentados, em 2015, os primeiros modelos da Chronomètrie Ferdinand Berthoud, assentes no calibre FB-T.FC (FB-T.FC3, no caso das duas variantes aqui escalpelizadas) – composto por um universo de 1119 peças num espaço de 35,5mm de diâmetro por 8mm de espessura. A complexa caixa de estrutura octogonal com escotilhas laterais desde logo se destacou pela arquitetura modular verdadeiramente original, para além de apresentar um bom tamanho contemporâneo e de assentar muito bem no pulso. De estrutura octogonal e de consideráveis dimensões com os seus 44mm, veste muito bem no pulso por não ter as habituais asas protuberantes convencionais; a construção evoca os cronómetros de marinha e, apesar de um formato octogonal, tem uma luneta e um mostrador redondos. “Um octógono mascarado de círculo”, retratou na altura do lançamento Karl-Friedrich Scheufele.

Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco © Ferdinand Berthoud

No que diz respeito aos vidros das escotilhas laterais em safira com vista para o movimento que fazem parte do conceito original, apenas uma das duas novas versões mantém essa caraterística original – a variante em ouro rosa com mostrador de tom a combinar com a caixa. Porque a variante em ouro branco e mostrador amarelado que remete para a cor tão utilizada no tempo de Ferdinand Berthoud tem uma vertente joalheira: essas janelas laterais surgem tapadas por diamantes baguete, para um toque precioso suplementar bem discreto comparativamente com outras versões joalheiras de outros modelos e outras marcas. A utilização dos diamantes baguete colocados verticalmente não é inócua: tem a ver com a construção vertical, em pilares, do movimento. Também a coroa apresenta diamantes incrustados.

Turbilhão atrás

Verso do Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco e FB1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud
Verso do Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco e FB1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud

Por falar em discrição, uma das particularidades do Chronomètre FB1 é a colocação do turbilhão atrás. Como acontecia antes e como sucede atualmente nalguns casos (como na Patek Philippe), seguindo o procedimento clássico de proteger os óleos da exposição solar/luz natural. Ou seja, a abertura no mostrador não é o turbilhão mas as rodas dos segundos diretos; o turbilhão surge em todo o seu esplendor no fundo, apresentando-se em grandes dimensões. É a cereja no topo do bolo que é o calibre base FB-T.FC de 53 horas de reserva de corda, certificado pelo COSC com uma frequência de 21,600 alternâncias/hora e inclui também um mecanismo regulador de força constante graças ao sistema de fuso e corrente – muito utilizado em cronómetros de marinha, incluído os concebidos por Ferdinand Berthoud.

Ferdinand Berthoud FB 1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB 1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud

O turbilhão de segundos diretos só pode ser visto a partir do fundo e é bem visível – é um turbilhão sobredimensionado, com uma gaiola de titânio com 16,55mm suportada por um único braço e uma roda do balanço igualmente grande com 12mm de diâmetro. A espiral apresenta uma curva terminal Phillips modelada à mão. Ao contrário do que é habitual num turbilhão, o ponteiro dos segundos está associado à gaiola do turbilhão, que – na maioria dos casos – efetua a sua rotação num minuto. No Chronomètre FB1, uma roda montada de modo coaxial relativamente à gaiola do turbilhão permite o ponteiro dos segundos ao centro e essa construção encontra-se sob patente pendente.

Ferdinand Berthoud FB 1 © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Ferdinand Berthoud FB 1 © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Para além do turbilhão, através do fundo em vidro de safira é também possível ver o sistema fusée à chaîne do lado esquerdo e o tambor de corda do lado direito. Sobre o tambor de corda está um dispositivo que bloca o sistema quando a corda atinge a reserva máxima para impedir o arrancar da corrente; do lado da fusée está o mecanismo de manutenção da potência que funciona mesmo quando está a ser dada corda ao relógio. O mecanismo de reserva de corda também é tecnicamente interessante, já que assenta num cone móvel – e inspira-se num sistema idealizado pelo mestre britânico (contemporâneo) George Daniels. No seu tempo, Ferdinand Berthoud teve os seus laços com a Grã-Bretanha, já que foi nomeado membro estrangeiro da Royal Society.

Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco © Ferdinand Berthoud

Em suma: mais duas excelentes variantes de um grande relógio! O preço é que pode ser um problemazito (de somenas importância…): 282.500 francos suíços para a versão em ouro branco com diamantes e 250.000 para a versão em ouro rosa.

Características Técnicas

Ferdinand Berthoud
Chronomètre FB 1

Referência/ FB 1.1-2 (versão ouro branco); FB 1.2-1 (versão ouro rosa).
Movimento/ Mecânico de corda manual,  calibre base FB-T.FC, 53 horas de reserva de corda, certificado pelo COSC, 21,600 alt./h., turbilhão com sistema de força constante fusée à chaîne, 
Funções/ Horas, minutos, segundos e indicação de reserva de corda.
Caixa Ø 44 mm / Ouro branco ou ouro rosa 18kt, vidro e fundo em cristal de safira com tratamento antirreflexos, estanque até 30 metros.
Bracelete/ Pele de aligátor com fivela em ouro rosa 18kt ou ouro branco.
Preço/ Versão ouro branco: CHF 282.500; Versão ouro rosa: CHF 250.000

Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco e FB1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB 1.1-2 em ouro branco e FB1.2-1 em ouro rosa © Ferdinand Berthoud

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