SIHH 2019: Twin Beat Perpetual Calendar (ou a Lebre e a Tartaruga… segundo a Vacheron Constantin)

Uma das peças com a assinatura da Vacheron Constantin saídas do recente Salão Internacional de Alta Relojoaria de Genebra é um relógio cuja raison d´être justifica plenamente o título deste texto. O facto é que a conhecida fábula de Esopo, posteriormente celebrizada pelo eloquente La Fontaine, poderia muito bem estar na génese do recém apresentado Traditionelle Twin Beat Perpetual Calendar. Se bem que com algumas nuances bastante interessantes…

Desde que, em 2015, os relojoeiros da Vacheron Constantin revelaram ser capazes de produzir anacronismos como a ref. 57260 – o relógio portátil mais complicado do mundo -, o departamento de prototipagem da venerável manufatura de Plan-les-Ouates tem vindo a debitar maravilhas relojoeiras uma após a outra. Dir-se-ia que, numa época onde a grande discussão do momento é ‘ter’ ou ‘não ter’ uma janela da data, a casa fundada por Jean Marc Vacheron em 1755 decidiu que, afinal, a relojoaria mecânica não se esgotou a si própria, mantendo ainda incólume a sua inata capacidade de surpreender.

Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin

A cadência de complicações com variantes alternativas e indicações com nuances inovadoras dos últimos anos parece querer alinhar-se para, mais cedo ou mais tarde, vir a produzir uma nova maravilha da micro-mecânica de complexidade extrema. É pois difícil não acreditar que por detrás deste ímpeto criativo não se encontrem nomes como os de Jean-Luc Perrin, Yannick ou Micke Pintus, os génios responsáveis pela conceção da obra inacreditável que é a ref. 57260.

Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin

E uma das peças com a assinatura da Vacheron Constantin saídas do recente Salão Internacional de Alta Relojoaria de Genebra é um relógio cuja raison d´être justifica plenamente o título deste texto, apesar das concessões, que, aqui e ali, se têm de fazer à secular moral do “devagar se vai ao longe”. O facto é que a conhecida fábula de Esopo, posteriormente celebrizada pelo eloquente La Fontaine, poderia muito bem estar na génese do recém apresentado Traditionelle Twin Beat Perpetual Calendar. Se bem que com algumas nuances bastante interessantes…

Traditionelle Twin Beat Perpetual Calendar

Pois bem, neste peculiar relógio a veloz Lebre é claramente representada por um balanço de alta frequência a oscilar a 36.000 aph (alternâncias por hora), ou seja 5 Hz. E como tudo o que implica rapidez, e consequentemente um consumo de energia suplementar, a autonomia do tambor de corda esgota-se mais rapidamente. Mesmo assim, a Vacheron Constantin promete quatro dias de funcionamento contínuo sob este intenso regime.

No que se refere ao papel da sagaz e paciente Tartaruga, a presença de um segundo órgão regulador a oscilar à baixíssima frequência de 1,2 Hz, ou 8,640 aph, justifica plenamente a analogia que, neste caso, é responsável por uma extraordinária autonomia de nada menos que 65 dias de funcionamento contínuo, ou seja, 1560 horas!

E é neste ponto que a simplicidade aparente da fábula de La Fontaine cede à natural complexidade das leis da física e da micromecânica relojoeira. É que, apesar das frequências distintas e dos inerentes consumos díspares de energia que retiram do mesmo tambor de corda, apenas um órgão regulador se adequa a uma utilização convencional com o relógio sobre o pulso. Neste campo, é a Lebre que leva a melhor!

Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin

O órgão regulador de baixa frequência, apesar de inultrapassável no reduzido consumo de energia e consequentemente no prolongamento da vida útil de cada carga manual, é incapaz de assegurar uma amplitude de oscilação estável quando sujeito aos esforços de um pulso em movimento. Por essa mesma razão, a Vacheron Constantin regulou-o para uma performance otimizada numa posição horizontal. A Tartaruga passa assim a colaborar ativamente com a Lebre, alternando a sua atividade entre uma utilização ativa do relógio com um período de repouso, habitualmente noturno, que acontece quando o relógio é pousado sobre a mesa de cabeceira.

A troca entre órgãos reguladores é ditada pelo utilizador através do simples pressionar de um botão localizado às 8 horas. Uma ação aparentemente simples, mas que, neste caso, desencadeia o extraordinário feito de uma ação tipo ‘interruptor’ entre a ‘Lebre’ e a ‘Tartaruga’, e que, apesar de dependerem de trens de engrenagens distintos, recorrem ao mesmo tambor de corda. Ora, com velocidades de oscilação distintas, a cadência de rotação do tambor de corda é também distinta. A solução para este problema, proposta pela Vacheron Constantin, assume a forma de um sistema genial de engrenagens associadas a um género de diferencial que gere as necessidades distintas de ambos os osciladores.

Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin

E como não podia deixar de ser, a escolha de uma complicação relojoeira para dar expressão a este novo sistema caiu sobre aquela que mais beneficia de uma autonomia longa e ininterrupta: o Calendário Perpétuo. Com a ação conjunta da ‘Lebre’ e da ‘Tartaruga’ serão pois necessárias apenas pouco mais de 22 sessões de corda para cumprir todo o ciclo de um calendário perpétuo. Já para um relógio com esta complicação dito ‘convencional’, ou seja com uma média de cerca de 40 horas de autonomia, o mesmo ciclo requer 876 sessões de corda… A vantagem parece evidente.

E muito mais poderia se poderia escrever sobre o Vacheron Constantin Traditionelle Twin Beat Perpetual Calendar, mas para isso é preferível aguardar por uma sessão hands on. Algo que ainda não foi possível.

Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin

É que, infelizmente, o manuseamento do modelo, durante o SIHH, apenas foi concedido a alguns ditos “influenciadores”. Este vosso humilde correspondente terá assim de aguardar que os poderes eleitos para os lados de Plan-les-Ouates decidam presentear os leitores da Espiral do Tempo com algum… digamos… ‘quality time‘ de volta desta fascinante versão do novo Traditionelle Twin Beat Perpetual Calendar.

Até lá, adotemos os ensinamentos de Esopo e La Fontaine… devagar se vai ao longe!

Aqui ficam algumas características técnicas.Visite o site oficial da Vacheron Constantin para mais informações.

Características Técnicas

Vacheron Constantin
Traditionelle Twin Beat Perpetual Calendar

Referência/ 3200T/000P-B578
Movimento/ Mecânico de corda manual, calibre Vacheron Constantin 3610, Modo standby (1,2Hz Frequência): 8.640 alt/h., Modo ativo (5Hz. Frequência): 36.000 alt/h., 65 dias de reserva de corda (1,2Hz Frequência), 4 horas de reserva de corda (5Hz. Frequência).
Funções/ Horas e minutos, calendário perpétuo instantâneo, reserva de marcha, modalidade de frequência.
Caixa  Ø 42 mm / Platina 950, vidro e fundo em cristal de safira, estanque até 30 metros.
Mostrador/ Ouro decorado à mão com guilloché, cor ardósia, indexes e ponteiros das horas e minutos em ouro branco 18kt., ponteiros de reserva de marcha, data, mês e modalidade de frequência em ouro preto oxidado.
Bracelete/ Pele de aligátor cosido à mão com fivela ardillon em platina 950, com forma de meia cruz de Malta.
Preço/ € 210.000.

Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar © Vacheron Constantin

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